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JANIO DE FREITAS
Ajuda aos ricos
Tão fácil quanto criticar os
europeus pela barreira alfandegária a produtos agrícolas
estrangeiros, como fez Fernando Henrique Cardoso na abertura do Fórum Mercosul-Europa, seria fazer uma perguntinha a respeito:
"Por que os europeus fazem
isso?"
Pela maneira como a queixa
foi feita, parece que os europeus só querem chatear os brasileiros. Ou os sul-americanos,
porque as lamúrias são generalizadas e antigas. Daí que a
perguntinha teria utilidade:
não encontrando motivo para
a chateação suposta, a busca
de resposta acabaria por concluir que as taxas alfandegárias são usadas, onerando as
importações, para proteger a
agricultura européia de concorrências desiguais.
Por algum motivo insondável, os governantes sul-americanos, bem representados no
discurso de Fernando Henrique, não conseguem perceber
o sentido da política alfandegária da Europa. Ou, do contrário, já teriam percebido que
sua atitude só resulta em vexames.
Mas perceberiam, também,
algo um pouco mais grave. E
incômodo. É a evidência de
que o contraste entre sua posição e a dos governantes europeus, em relação aos respectivos produtos, conduz a outra
questão: qual das atitudes é
justificável, a da Europa, com
certas restrições à importação,
ou a sul-americana, de portas
abertas em nome da globalização?
A resposta está na seguida
prosperidade dos países europeus, há mais de 50 anos, o que
não poderia ocorrer senão pela aplicação dos governantes
às causas das respectivas sociedades nacionais. Logo, é tolo cobrar-lhes simplesmente o
fim das suas barreiras, apenas
para que brasileiros e outros
possam exportar-lhes mais.
O lado de cá é incapaz de formular propostas que adaptem
sua necessidade de exportar à
defesa que os europeus fazem
da sua economia. Com o resultado assim refletido por Fernando Henrique: ""De 90 a 96,
as importações de produtos da
União Européia pelos países
do Mercosul aumentaram
274%, mas as exportações
cresceram 25%."
Dados oferecidos ao Fórum
como um queixume, quando,
na verdade, sua exposição não
é mais nem menos do que um
vexame, que algum pudor presidencial reclamaria evitar.
Até para sustar mais uma pergunta possível: e, diante da
disparidade notada, o que fizeram os presidentes do Mercosul em defesa dos seus países?
Não reconhecer que os governos europeus agem em perfeita
coerência com seus interesses
nacionais, entendendo que a
regulação de tarifas de importação não é mais do que uma
forma de política econômica e
social, fica muito bem para os
pregadores do neoliberalismo
globalizante. Mas lhes cai
muito mal se são governantes,
porque suas ultraliberalidades
só beneficiam países alheios.
Como demonstram os números citados por Fernando Henrique.
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