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ALIADOS EM CRISE
Levantamento aponta queda na popularidade do presidente; "luz vermelha está acesa", diz publicitário
Pesquisa de FHC liga governo a corrupção
WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu pesquisas
de opinião pública encomendadas pelo Planalto que traçam um
cenário ruim para a popularidade
do governo nos próximos meses.
Além da indicação de queda de
três a quatro pontos na aprovação
do presidente, o que mais o preocupou o Planalto foi a constatação
de que a imagem do governo está
associada à corrupção, independentemente da ausência de provas que possam comprovar eventuais atos irregulares.
Um dos publicitários ligados ao
Planalto com acesso à pesquisa
disse a Folha que "a luz vermelha
está acesa, e bem forte".
Além dos levantamentos encomendados pelo governo, chegaram nos últimos dias ao conhecimento do Planalto dados de pesquisas realizadas nos Estados e
por agências independentes.
As causas da queda da popularidade de FHC são variadas, mas a
principal seria, segundo as pesquisas, a cisão na base governista
no Congresso, em especial a avalanche de acusações de corrupção
e de desvios de verbas públicas
feitas pelos senadores Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA) e Jader Barbalho (PMDB-PA).
Petrobras e racionamento
A expectativa do governo é de
que o afundamento da plataforma P-36 da Petrobras também irá
colaborar para a queda da popularidade do presidente, que está
com 30% de aprovação, segundo
levantamento interno.
Outra "bomba-relógio" detectada pelos publicitários e estrategistas do governo é a ameaça de
racionamento de energia elétrica,
ponto de divergências entre técnicos e autoridades federais.
Embora ainda não tenham sido
medidos pelas pesquisas, o Planalto avalia que ambos os casos
devem provocar na população a
sensação de "imobilismo" ou "falta de empenho" por parte do governo federal, segundo dois publicitários ouvidos pela Folha.
Segundo a pesquisa, excetuando-se as áreas de educação e de
saúde, que têm gerado fatos positivos nos últimos meses, nenhuma outra iniciativa conseguiu êxito diante da opinião pública.
Coincidentemente, são as duas
áreas as que mais dispõem de verbas publicitárias previstas no Orçamento da União, além de terem
dois ministros -José Serra (Saúde) e Paulo Renato (Educação)-
como possíveis presidenciáveis.
O governo estava apostando até
agora que as acusações de corrupção e a troca de ofensas entre Jader e ACM ficariam restritas a setores mais bem informados da sociedade e aos que acompanham a
política com mais atenção, permanecendo distante da população de baixa renda.
"Clamor público"
A avaliação era de que a disputa
teria pouco tempo de duração e
que não se estenderia, a ponto de
gerar uma CPI. Outra aposta era a
de que, ao não se envolver diretamente, o governo ganharia uma
espécie de imunidade diante das
denúncias.
Mas, segundo um publicitário,
os números de pesquisas recentes
indicam que a crise no Congresso
chegou ao chamado "clamor público", até mesmo pelo baixo nível
em que está sendo protagonizada.
E, como a maioria da população
não faz distinção entre os três Poderes -para ela, Executivo, Legislativo e Judiciário são sempre
"governo"-, é no governo federal que está colando o estigma da
corrupção.
"Timing"
Na avaliação de um publicitário,
o governo estaria perdendo o "timing" e corre o risco de deixar
que a sensação de que existe corrupção em seu interior comprometa áreas da administração que
haviam conquistado popularidade fora do eixo Rio-São Paulo.
Para ele, se FHC não mudar essa
tendência, corre o risco de deixar
o poder, no final de 2002, tendo
seu governo carimbado de corrupto, embora ele não seja assim
classificado nas pesquisas.
O governo tem pronto, há vários meses, um plano de comunicação elaborado justamente para
tentar reverter a impopularidade,
mas esbarra na falta de verbas
-apesar da previsão de que a
União destine quase R$ 500 milhões para publicidade (incluindo
as empresas estatais).
A Secretaria de Estado de Comunicação de Governo, responsável pela coordenação da publicidade oficial e chefiada pelo ministro Andrea Matarazzo, dispõe
de R$ 3 milhões no Orçamento
deste ano, embora tenha pedido
cinco vezes mais. O valor é considerado insuficiente para pagar
um conjunto de anúncios na TV.
Matarazzo tem reclamado que
não consegue recursos e não tem
contado com a adesão de estatais
com muitas verbas publicitárias,
como a Petrobras e o Banco do
Brasil, ao seu plano.
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