São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Levantamento aponta queda na popularidade do presidente; "luz vermelha está acesa", diz publicitário

Pesquisa de FHC liga governo a corrupção

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu pesquisas de opinião pública encomendadas pelo Planalto que traçam um cenário ruim para a popularidade do governo nos próximos meses.
Além da indicação de queda de três a quatro pontos na aprovação do presidente, o que mais o preocupou o Planalto foi a constatação de que a imagem do governo está associada à corrupção, independentemente da ausência de provas que possam comprovar eventuais atos irregulares.
Um dos publicitários ligados ao Planalto com acesso à pesquisa disse a Folha que "a luz vermelha está acesa, e bem forte".
Além dos levantamentos encomendados pelo governo, chegaram nos últimos dias ao conhecimento do Planalto dados de pesquisas realizadas nos Estados e por agências independentes.
As causas da queda da popularidade de FHC são variadas, mas a principal seria, segundo as pesquisas, a cisão na base governista no Congresso, em especial a avalanche de acusações de corrupção e de desvios de verbas públicas feitas pelos senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Jader Barbalho (PMDB-PA).

Petrobras e racionamento
A expectativa do governo é de que o afundamento da plataforma P-36 da Petrobras também irá colaborar para a queda da popularidade do presidente, que está com 30% de aprovação, segundo levantamento interno.
Outra "bomba-relógio" detectada pelos publicitários e estrategistas do governo é a ameaça de racionamento de energia elétrica, ponto de divergências entre técnicos e autoridades federais.
Embora ainda não tenham sido medidos pelas pesquisas, o Planalto avalia que ambos os casos devem provocar na população a sensação de "imobilismo" ou "falta de empenho" por parte do governo federal, segundo dois publicitários ouvidos pela Folha.
Segundo a pesquisa, excetuando-se as áreas de educação e de saúde, que têm gerado fatos positivos nos últimos meses, nenhuma outra iniciativa conseguiu êxito diante da opinião pública.
Coincidentemente, são as duas áreas as que mais dispõem de verbas publicitárias previstas no Orçamento da União, além de terem dois ministros -José Serra (Saúde) e Paulo Renato (Educação)- como possíveis presidenciáveis.
O governo estava apostando até agora que as acusações de corrupção e a troca de ofensas entre Jader e ACM ficariam restritas a setores mais bem informados da sociedade e aos que acompanham a política com mais atenção, permanecendo distante da população de baixa renda.

"Clamor público"
A avaliação era de que a disputa teria pouco tempo de duração e que não se estenderia, a ponto de gerar uma CPI. Outra aposta era a de que, ao não se envolver diretamente, o governo ganharia uma espécie de imunidade diante das denúncias.
Mas, segundo um publicitário, os números de pesquisas recentes indicam que a crise no Congresso chegou ao chamado "clamor público", até mesmo pelo baixo nível em que está sendo protagonizada. E, como a maioria da população não faz distinção entre os três Poderes -para ela, Executivo, Legislativo e Judiciário são sempre "governo"-, é no governo federal que está colando o estigma da corrupção.

"Timing"
Na avaliação de um publicitário, o governo estaria perdendo o "timing" e corre o risco de deixar que a sensação de que existe corrupção em seu interior comprometa áreas da administração que haviam conquistado popularidade fora do eixo Rio-São Paulo.
Para ele, se FHC não mudar essa tendência, corre o risco de deixar o poder, no final de 2002, tendo seu governo carimbado de corrupto, embora ele não seja assim classificado nas pesquisas.
O governo tem pronto, há vários meses, um plano de comunicação elaborado justamente para tentar reverter a impopularidade, mas esbarra na falta de verbas -apesar da previsão de que a União destine quase R$ 500 milhões para publicidade (incluindo as empresas estatais).
A Secretaria de Estado de Comunicação de Governo, responsável pela coordenação da publicidade oficial e chefiada pelo ministro Andrea Matarazzo, dispõe de R$ 3 milhões no Orçamento deste ano, embora tenha pedido cinco vezes mais. O valor é considerado insuficiente para pagar um conjunto de anúncios na TV.
Matarazzo tem reclamado que não consegue recursos e não tem contado com a adesão de estatais com muitas verbas publicitárias, como a Petrobras e o Banco do Brasil, ao seu plano.


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