São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2001

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GRILAGEM

Apontado como o maior grileiro de terras públicas do país muda de cela

Acusado critica integrantes de CPI

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

O acusado acusa os acusadores. Falb Saraiva de Farias, 66, apontado pelo governo federal como o maior grileiro do país, com 12 milhões de hectares de áreas públicas irregularmente em seu nome, voltou suas baterias contra os deputados que pediram sua prisão.
Para ele, a CPI da Grilagem é composta de gente despreparada, embora tenha sido a franqueza de algumas de suas respostas à comissão o exato motivo de sua prisão, na última sexta.
Ao admitir não ter declarado patrimônio e ter se associado a esquemas de compra de terra, acabou detido preventivamente.
Ele já está em sua nova cela. A pedido da CPI, que temia o ver morto, Falb saiu da penitenciária Raimundo Vidal, onde dividiu a cela por cinco dias com 40 presos, e agora tem apenas um companheiro na carceragem da Polícia Federal em Manaus -com TV, colchão (inexistentes na cadeia anterior) e direito a visitas.
A seguir, trechos de sua conversa com a Agência Folha.
 

Agência Folha - O sr. imaginava que sairia preso após depor?
Falb Saraiva de Farias -
Eu estava preparado para tudo.

Agência Folha - Quantos hectares de terras o sr. tem?
Falb -
Hoje não tenho nenhum, a Justiça está anulando tudo.

Agência Folha - O sr. apresentou, em seu depoimento à CPI, um documento apontando um patrimônio de R$ 3,5 bilhões em terras.
Falb -
Eu falei na CPI que tinha 7 milhões de hectares. O patrimônio é de avaliação de peritos. Tinha pessoas na CPI que não estavam preparadas para fazer esse tipo de coisa. Isso não é dinheiro, são números.

Agência Folha - Quem não estava preparado?
Falb -
Essa documentação foram os deputados que conseguiram na Junta Comercial. Não fui eu quem a entregou. Eles não me pediram nada. Até as minhas procurações disseram que eram falsas.

Agência Folha - Então essa avaliação é de quais bens?
Falb -
É da matéria-prima que tem cima da terra. A avaliação foi em cima da madeira que tem nas terras. Foi uma avaliação para fazer incorporação da empresa para aumento de capital.

Agência Folha - Como o sr. pode provar que esse patrimônio é seu?
Falb -
Com os espólios de 1925 e 26, de Maria Luiza Barros. Eu comprei dela, isso vale mais do que tudo. Será que isso não vale nada?

Agência Folha - O Incra diz que esse espólio tinha como base áreas denominadas de seringais e foram aumentadas para um total de 12 milhões. Daí saiu o título de megagrileiro.
Falb -
Eu me sinto incomodado com isso. São números que o Incra diz. Muitas vezes são faltas dos funcionários do Incra, que somam uma área duas vezes.

Agência Folha - O sr. foi preso sob acusação de apropriação de terras públicas, falsificações de documentos, estelionato e formação de quadrilha. Como o sr. vê isso?
Falb -
As apurações futuras vão dizer a verdade. Aceitei essa prisão sem resistência. Acredito em Deus que vou sair dessa.

Agência Folha - A Polícia Federal diz que o sr. não tem endereço certo. E teme que o sr. fuja do país.
Falb -
A minha família mora em Campo Grande, eu moro em Porto Alegre e tenho um casa alugada em Manaus. Minha família me conhece, sabe que eu não sou desse tipo de gente.



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