São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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GOVERNO EM DISPUTA

Recado foi dado por Gushiken, que pregou unidade de ação

Lula pede a ministros que falem menos

WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Luiz Gushiken (Comunicação) afirmou ontem, depois de uma reunião de coordenação política do governo, que os ministros não têm liberdade de expressar publicamente opiniões divergentes e que o governo precisa transmitir à população a idéia de uma "unidade de ação".
Questionado se havia uma ordem do presidente Lula para evitar divergências públicas, Gushiken afirmou: "Ordem não, o que existe é uma cultura que é observada no Poder Executivo, qual seja, o político, no partido, no Parlamento e no Poder Executivo não tem a mesma margem de exercício da liberdade de opinião".
Num contorcionismo verbal típico de quem quer evitar melindrar colegas, Gushiken prosseguiu: "No Poder Executivo [...], a liberdade de opinião dos ministros e assessores que o presidente escolheu se restringe às reuniões internas [...], porque o presidente quer saber como cada ministro e cada assessor pensa, mas a partir do momento que o dirigente eleito pelo povo toma uma decisão, não cabe mais o exercício da liberdade individual de um ministro ou assessor, porque o importante é passar a unidade de ação".
A Folha apurou que Gushiken transmitiu um recado claro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ficou contrariado com o tiroteio de ministros contra o colega Amir Lando (Previdência) e com a recente rusga entre os ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) e Guido Mantega (Planejamento). Rodrigues se queixou de morosidade administrativa.
Na semana passada, Lando apresentou proposta de aumentar tributo para pagar dívida com aposentados. Ricardo Berzoini (Trabalho), que acompanhava o problema quando ocupava o posto de Lando, Jaques Wagner (Conselhão) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) criticaram o titular da Previdência.
Também repercutiram mal no Planalto declarações do ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) sobre uma suposta paralisia no governo, em razão do caso Waldomiro Diniz. Lula não gostou de Furlan ter tornado público um sentimento que ele mesmo tem. Ontem, em reunião com a cúpula do governo, cobrou do ministro José Dirceu (Casa Civil) mais dedicação ao gerenciamento e discutiu uma "agenda de emergência" com as principais pendências de cada área.
Lula intensificará o número de audiências individuais a ministros para se intrometer mais no gerenciamento do governo, algo que ele, quando fez a reforma ministerial de janeiro, não pretendia fazer. Pelo contrário, em reunião com o ministério, deixou mais claro ainda o papel de árbitro de Dirceu. Mas o caso Waldomiro Diniz enfraqueceu o ministro-chefe da Casa Civil
Participaram da reunião pela manhã, no Palácio da Alvorada, todos os integrantes do chamado "núcleo duro", exceto o ministro da Casa Civil, José Dirceu, que estava em São Paulo. A reunião prosseguiu à tarde e à noite no Palácio do Planalto, já com a presença de Dirceu e dos ministros Guido Mantega (Planejamento) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça). Segundo Gushiken, a questão do ministro Roberto Rodrigues foi "reproduzida de maneira equivocada pela imprensa". Para ele, "muitas vezes o jornal coloca de uma maneira tal que não foi aquilo que foi expresso pelo ministro, mas mesmo assim ele tem de fazer a correção de rumos".
O ministro disse que, no fim de semana, tratou com Rodrigues a elaboração de uma nota para "eliminar alguns equívocos que estavam postos na imprensa".
Questionado se a paciência da população estava se esgotando, em razão de greves de funcionários públicos e vaias para o presidente, Gushiken desconversou: "Eu desconheço isso".


Colaboraram KENNEDY ALENCAR e GABRIELA ATHIAS, da Sucursal de Brasília


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