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GOVERNO EM DISPUTA
Recado foi dado por Gushiken, que pregou unidade de ação
Lula pede a ministros que falem menos
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Luiz Gushiken (Comunicação) afirmou ontem, depois de uma reunião de coordenação política do governo, que os
ministros não têm liberdade de
expressar publicamente opiniões
divergentes e que o governo precisa transmitir à população a idéia
de uma "unidade de ação".
Questionado se havia uma ordem do presidente Lula para evitar divergências públicas, Gushiken afirmou: "Ordem não, o que
existe é uma cultura que é observada no Poder Executivo, qual seja, o político, no partido, no Parlamento e no Poder Executivo não
tem a mesma margem de exercício da liberdade de opinião".
Num contorcionismo verbal típico de quem quer evitar melindrar colegas, Gushiken prosseguiu: "No Poder Executivo [...], a
liberdade de opinião dos ministros e assessores que o presidente
escolheu se restringe às reuniões
internas [...], porque o presidente
quer saber como cada ministro e
cada assessor pensa, mas a partir
do momento que o dirigente eleito pelo povo toma uma decisão,
não cabe mais o exercício da liberdade individual de um ministro
ou assessor, porque o importante
é passar a unidade de ação".
A Folha apurou que Gushiken
transmitiu um recado claro do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ficou contrariado com o
tiroteio de ministros contra o colega Amir Lando (Previdência) e
com a recente rusga entre os ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) e Guido Mantega (Planejamento). Rodrigues se queixou
de morosidade administrativa.
Na semana passada, Lando
apresentou proposta de aumentar tributo para pagar dívida com
aposentados. Ricardo Berzoini
(Trabalho), que acompanhava o
problema quando ocupava o posto de Lando, Jaques Wagner
(Conselhão) e Luiz Fernando
Furlan (Desenvolvimento) criticaram o titular da Previdência.
Também repercutiram mal no
Planalto declarações do ministro
Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) sobre uma suposta paralisia no governo, em razão do
caso Waldomiro Diniz. Lula não
gostou de Furlan ter tornado público um sentimento que ele mesmo tem. Ontem, em reunião com
a cúpula do governo, cobrou do
ministro José Dirceu (Casa Civil)
mais dedicação ao gerenciamento
e discutiu uma "agenda de emergência" com as principais pendências de cada área.
Lula intensificará o número de
audiências individuais a ministros para se intrometer mais no
gerenciamento do governo, algo
que ele, quando fez a reforma ministerial de janeiro, não pretendia
fazer. Pelo contrário, em reunião
com o ministério, deixou mais
claro ainda o papel de árbitro de
Dirceu. Mas o caso Waldomiro
Diniz enfraqueceu o ministro-chefe da Casa Civil
Participaram da reunião pela
manhã, no Palácio da Alvorada,
todos os integrantes do chamado
"núcleo duro", exceto o ministro
da Casa Civil, José Dirceu, que estava em São Paulo. A reunião
prosseguiu à tarde e à noite no Palácio do Planalto, já com a presença de Dirceu e dos ministros Guido Mantega (Planejamento) e
Márcio Thomaz Bastos (Justiça).
Segundo Gushiken, a questão do
ministro Roberto Rodrigues foi
"reproduzida de maneira equivocada pela imprensa". Para ele,
"muitas vezes o jornal coloca de
uma maneira tal que não foi aquilo que foi expresso pelo ministro,
mas mesmo assim ele tem de fazer a correção de rumos".
O ministro disse que, no fim de
semana, tratou com Rodrigues a
elaboração de uma nota para "eliminar alguns equívocos que estavam postos na imprensa".
Questionado se a paciência da
população estava se esgotando,
em razão de greves de funcionários públicos e vaias para o presidente, Gushiken desconversou:
"Eu desconheço isso".
Colaboraram KENNEDY ALENCAR e
GABRIELA ATHIAS, da Sucursal de Brasília
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