São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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JANIO DE FREITAS

Espetáculo da embromação

Um dos problemas do governo Lula que mais caro lhe têm custado é a sua dificuldade de perceber as coisas simples. Os exemplos são inúmeros (fique tranqüilo, não farei referência às trapalhadas que alimentaram o caso Waldomiro Diniz), mas o que interessa no momento é um só, até por sair muito caro também para nós outros.
Já é notícia que o publicitário Duda Mendonça se ocupa, por convocação da Presidência, de uma campanha que negue o imobilismo do governo e recomponha as suas perdas de prestígio, acentuadas de dois meses para cá. E tome Lula na TV e nos jornais, Lula em viagem e em Brasília (de passagem), Lula em discurso aqui, Lula em discurso acolá, e tome Lula.
Governo que não padece de imobilismo não precisa de campanha, sua atividade está à mostra. Não é esse, porém, o assunto de agora. Luiz Gushiken, ministro da Comunicação e de alguma coisa dita Estratégica, é convencido de que tudo se resolve com propaganda, e o que não se resolve é porque a propaganda foi insuficiente em qualidade ou quantidade.
Seja qual for o peso da teoria, que já teve adeptos mais famosos, o fato atual é que o governo vai gastar mais fortunas em propaganda por não perceber que a imagem de Lula está em franco desgaste. Não é só o prestígio presidencial que está em declínio. É a própria figura, é a certeza de que, com a figura, vem o mesmo discurso promitente, inútil, exaurido. Esgotamento por uso abusivo.
É certo que Luiz Gushiken, cujas mãos concentram todos os recursos da publicidade oficial e oficial, o que inclui estatais e autarquias, tem sido muito atencioso com o problema financeiro de alguns dos maiores grupos de mídia. E, sob esse aspecto, não se exclui a conseqüência, que já não se sabe se secundária ou primordial, de mais uma campanha que fará muito bem a determinados grupos da mídia.
Mas, quanto à opinião pública, o espetáculo da embromação tem efeito limitado. O governo consumiu, em um ano, sua quota para uns três. Vai gastar em propaganda o dinheiro que falta para fins nobres -e o provável é que colha indiferença ou até maior esgotamento.

Extorsões
O golpe que o ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo Armando Mellão Neto vinha aplicando até sua prisão, na sexta-feira, está muito mais difundido do que se poderia imaginar. A extorsão, a pretexto de poupar a vítima de ser envolvida em uma CPI, tem mais praticantes em São Paulo, já foram citados casos no Rio e em Brasília seriam ainda mais numerosos.
Não faz muito tempo, um deputado me dizia isto: "Minha preocupação na CPI não é mais com o inquérito, é em ficar atento o tempo todo para atrapalhar as vigarices com as convocações e as dispensas de convocação".


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