São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Chefe da Casa Civil nega paralisia do governo e diz que país trabalha para reduzir o superávit primário e, gradualmente, os juros

Para Dirceu, caso Waldomiro está encerrado

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
O ministro José Dirceu em entrevista coletiva antes do início do fórum "Inclusão Social e Desenvolvimento", realizado em São Paulo


JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Após 40 dias de crise no governo e de ataques da oposição, o ministro José Dirceu (Casa Civil) tentou tirar o caso Waldomiro Diniz dos holofotes e inseriu no debate o tema econômico: disse que o país está trabalhando para a redução do superávit primário e para a queda gradual dos juros.
Dirceu -enfraquecido desde a divulgação de fita gravada em 2002 na qual seu ex-assessor aparece pedindo propina a um empresário do ramo de jogos- disse não haver paralisia no governo e foi categórico: "[O caso Waldomiro Diniz] não me incomoda. Considero o assunto encerrado".
Depois de dizer ter ficado "inconformado" com a denúncia contra o ex-assessor Waldomiro Diniz, Dirceu declarou que, durante 40 dias, sua vida e o governo foram "devassados", "investigados", mas que nada foi encontrado. "Esse governo não tem nenhuma denúncia de corrupção. Não rouba nem deixa roubar."
Assim como Dirceu, o ministro Luiz Gushiken (Comunicação) também disse que o caso Waldomiro é um "assunto resolvido".
"O governo já resolveu. Primeiro, demitindo [o assessor pediu a exoneração]. Segundo, colocando a Polícia Federal para investigar. Do ponto de vista do Executivo, a questão está resolvida. Agora, se o debate existe no Congresso, a questão é outra", disse Gushiken.

Pauta econômica
Dirceu tem defendido nos bastidores a mudança na política econômica atual como forma de restabelecer a divisão de forças no chamado núcleo duro do governo. Ao colocar em pauta o tema econômico, polêmico não só no PT como no próprio governo, traz para o centro do debate Antonio Palocci Filho (Fazenda), defensor do superávit primário (economia para o pagamento de juros) em 4,25% do PIB. "Todos queremos a redução dos juros, e o país precisa trabalhar para uma redução do superávit. Mas, para isso, precisa administrar a questão da dívida", disse Dirceu no fórum "Inclusão Social e Desenvolvimento", organizado ontem pela Globonews, em São Paulo.
Apesar de dizer que a esquerda petista, ao cobrar mudanças na economia, "não fala em nome do PT nem em nome da bancada do partido", Dirceu considerou que as propostas do grupo não são "insensatas": "O problema é "timming" e reduzir o superávit. Se não dermos aos credores garantias de que vamos pagar a dívida, teremos de administrar a fuga de capitais e a poupança interna".
Dirceu disse mais de uma vez que o "tempo da economia" nem sempre é o da sociedade. Defendeu "um pacto político-empresarial-parlamentar para que o Brasil, de maneira persistente e responsável, continue a transição para o crescimento econômico". Senão, afirmou, "cairemos na ilusão dos pacotes [econômicos], dos milagres de medidas salvadoras".

Paralisia
Segundo o ministro, não existe paralisia no governo, mas "problemas políticos e administrativos que precisam ser resolvidos". Citou como exemplo a escassez de recursos e as greves dos servidores, como a dos agentes da PF. Ele classificou ainda de "irrealidade ou irrealismo o discurso de que o governo e o país estão parados".
O ministro, seguindo orientação do presidente Lula de colocar em foco ações positivas, afirmou que o governo pensa em dar um aumento para os servidores. Declarou ser um "otimista" com os rumos da economia brasileira e afirmou que o crescimento neste ano será de "mais de 3,5%".
"Se é verdade que o Brasil tem um modelo econômico perverso porque exclui, também é verdade que se está trabalhando para criar as condições de retomada do crescimento econômico", disse ao comentar críticas do presidente da OAB, Roberto Busato, para quem a gestão econômica não reduziu a desigualdade social.
Dirceu enumerou o que chamou de "os grandes problemas do país": falta de recursos, corrupção e necessidade de mais transparência. "Só conseguimos assentar 35 mil famílias por problemas de verbas", disse o ministro sobre a reforma agrária.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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