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SOMBRA NO PLANALTO
Leitura labial em fita gravada em aeroporto mostra trechos que mencionam lavagem de dinheiro no exterior e "acabar" com alguém
Perícia identifica diálogos de Waldomiro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz e o empresário do ramo de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, teriam conversado, em maio de
2002, no aeroporto de Brasília, sobre lavagem de dinheiro e também sobre a necessidade de "acabar com uma pessoa".
A conclusão faz parte de um
laudo de perícia contendo a leitura labial da conversa dos dois. O
documento foi entregue à Polícia
Federal na última sexta-feira por
dois peritos contratados no Rio
de Janeiro.
Os especialistas conseguiram
reconstituir duas páginas de diálogo, apenas em momentos em
que os dois ficam de frente para as
câmeras do circuito de vigilância
interna do terminal. Não foi possível determinar, por exemplo, o
contexto do que significa "acabar" com alguém.
Waldomiro e Cachoeira foram
filmados no saguão de embarque
do Aeroporto de Brasília no dia 20
de maio de 2002, quando o ex-assessor do Planalto ocupava a presidência da Loterj (Loterias do Estado do Rio de Janeiro), na gestão
de Benedita da Silva.
Waldomiro Diniz, que era o homem de confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil), foi o responsável pela maior crise do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
No dia 13 de fevereiro, ele pediu
exoneração do cargo que ocupava
na Casa Civil.
O laudo foi anexado ao inquérito que investiga suposta corrupção ativa e tráfico de influência
cometidos por Waldomiro. No
início de fevereiro, outro vídeo divulgado mostrava o ex-assessor
do Planalto pedindo propina de
1% a Cachoeira sobre doações para campanha eleitoral.
Segundo apurou a Folha, os
dois citam um nome durante o
diálogo. Ao abordarem a necessidade de lavar dinheiro, os dois
também concordam que a operação deve ser feita "no exterior".
Os peritos conseguiram identificar que Cachoeira pediu o número de um telefone a Waldomiro. Oficialmente, a PF afirmou
desconhecer o teor do laudo, mas
confirmou que o trabalho foi feito
a pedido do delegado Antonio
César Fernandes Nunes, que preside o inquérito.
Nunes também vai requisitar o
inquérito sobre a morte em acidente de trânsito de Armando Dile, ocorrida no final de 2002. Dile
chegou a trabalhar com Waldomiro no Rio e foi apontado por ele
como o beneficiário da propina
de 1% cobrada de Carlinhos Cachoeira.
A PF suspeita das circunstâncias da morte de Dile, ocorrida em
um acidente considerado "banal"
pelos investigadores.
A decisão de requisitar o inquérito ocorreu antes da conclusão
do laudo pericial sobre a conversa
de Waldomiro com Cachoeira no
Aeroporto de Brasília.
Outro lado
A Folha ligou, por volta das 21h,
para o advogado Luis Guilherme
Vieira, que defende Waldomiro,
mas ele não foi localizado. Guilherme Vieira não estava em seu
escritório. O seu celular também
só dava sinal de ocupado. A reportagem também não conseguiu
localizar a assessoria de imprensa
de Carlos Ramos. A Folha ligou
ontem à noite no celular, mas as
ligações caíram na caixa postal.
Foi deixado recado, mas não houve retorno.
(IURI DANTAS)
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