São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOMBRA NO PLANALTO

Leitura labial em fita gravada em aeroporto mostra trechos que mencionam lavagem de dinheiro no exterior e "acabar" com alguém

Perícia identifica diálogos de Waldomiro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz e o empresário do ramo de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, teriam conversado, em maio de 2002, no aeroporto de Brasília, sobre lavagem de dinheiro e também sobre a necessidade de "acabar com uma pessoa".
A conclusão faz parte de um laudo de perícia contendo a leitura labial da conversa dos dois. O documento foi entregue à Polícia Federal na última sexta-feira por dois peritos contratados no Rio de Janeiro.
Os especialistas conseguiram reconstituir duas páginas de diálogo, apenas em momentos em que os dois ficam de frente para as câmeras do circuito de vigilância interna do terminal. Não foi possível determinar, por exemplo, o contexto do que significa "acabar" com alguém.
Waldomiro e Cachoeira foram filmados no saguão de embarque do Aeroporto de Brasília no dia 20 de maio de 2002, quando o ex-assessor do Planalto ocupava a presidência da Loterj (Loterias do Estado do Rio de Janeiro), na gestão de Benedita da Silva.
Waldomiro Diniz, que era o homem de confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil), foi o responsável pela maior crise do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. No dia 13 de fevereiro, ele pediu exoneração do cargo que ocupava na Casa Civil.
O laudo foi anexado ao inquérito que investiga suposta corrupção ativa e tráfico de influência cometidos por Waldomiro. No início de fevereiro, outro vídeo divulgado mostrava o ex-assessor do Planalto pedindo propina de 1% a Cachoeira sobre doações para campanha eleitoral.
Segundo apurou a Folha, os dois citam um nome durante o diálogo. Ao abordarem a necessidade de lavar dinheiro, os dois também concordam que a operação deve ser feita "no exterior".
Os peritos conseguiram identificar que Cachoeira pediu o número de um telefone a Waldomiro. Oficialmente, a PF afirmou desconhecer o teor do laudo, mas confirmou que o trabalho foi feito a pedido do delegado Antonio César Fernandes Nunes, que preside o inquérito.
Nunes também vai requisitar o inquérito sobre a morte em acidente de trânsito de Armando Dile, ocorrida no final de 2002. Dile chegou a trabalhar com Waldomiro no Rio e foi apontado por ele como o beneficiário da propina de 1% cobrada de Carlinhos Cachoeira.
A PF suspeita das circunstâncias da morte de Dile, ocorrida em um acidente considerado "banal" pelos investigadores.
A decisão de requisitar o inquérito ocorreu antes da conclusão do laudo pericial sobre a conversa de Waldomiro com Cachoeira no Aeroporto de Brasília.

Outro lado
A Folha ligou, por volta das 21h, para o advogado Luis Guilherme Vieira, que defende Waldomiro, mas ele não foi localizado. Guilherme Vieira não estava em seu escritório. O seu celular também só dava sinal de ocupado. A reportagem também não conseguiu localizar a assessoria de imprensa de Carlos Ramos. A Folha ligou ontem à noite no celular, mas as ligações caíram na caixa postal. Foi deixado recado, mas não houve retorno. (IURI DANTAS)


Texto Anterior: PT recorre ao governo federal para obter apoio do PMDB-SP a Marta
Próximo Texto: Promotores buscam documentos em empresa de Buratti no interior
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.