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SISTEMA FINANCEIRO
Senadores da CPI investigam lista de ganhos de instituições com a desvalorização do real em janeiro
Crise deu até 1.300% de lucro a fundos
MÔNICA BERGAMO
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
A desvalorização cambial de
janeiro possibilitou a alguns investidores lucro
superior a
1.300% sobre o
dinheiro que tinham aplicado no banco.
A CPI dos Bancos investiga uma
lista fornecida pelo Banco Central
com a rentabilidade dos fundos
administrados por 179 instituições
financeiras.
Nela se vê que, se os clientes de
alguns fundos do Marka, hoje no
centro das investigações, perderam 94,8% do capital em janeiro,
alguns viram o dinheiro ser multiplicado mais de dez vezes.
O fundo Sothern, do Banco Safra, teve a maior rentabilidade do
mês: 1.349,1%. O Tiradentes, fundo do banco Credit Suisse First
Boston Garantia ficou em segundo
lugar: rendeu 921,7%, o que representou um ganho de R$ 417 milhões só em janeiro. Um fundo de
capital estrangeiro do Pactual teve
um rendimento de 725,6% em janeiro (veja quadro ao lado).
Os senadores ficaram impressionados com os ganhos destes fundos, muito superiores à variação
do dólar em janeiro. A rentabilidade média dos fundos que investiram no dólar ficou em torno de
60%, acompanhando a desvalorização naquele mês. Desde a implantação do real, em 94, aplicações em dólar renderam 110% e em
juros, 310%.
Os fundos investigados têm rentabilidade maior porque, diferentemente dos fundos tradicionais,
são mais agressivos.
"É preciso investigar quem foram esses investidores tão sortudos", diz o senador Jader Barbalho
(PMDB-PA). Alguns fundos aparecem na lista do BC como tendo
apenas um cotista, ou seja, um único investidor. "Além de sortudos,
são egoístas", diz.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) pediu à CPI a quebra de sigilo
dos fundos para que os senadores
conheçam o nome dos cotistas e
qual o capital aplicado.
O senador desconfia que os fundos eram usados por bancos estrangeiros ou bancos brasileiros
que têm subsidiárias no exterior.
Isso desmontaria, segundo ele, a
tese do presidente do BC, Armínio
Fraga, de que os bancos estrangeiros tiveram um prejuízo médio de
até 32% em dólar na crise. "Eles
perderam de um lado, mas podem
ter ganhado de outro, através destes fundos", diz Suplicy.
Outra desconfiança do senador:
os bancos brasileiros e estrangeiros presentes no país teriam aplicado nos fundos de capital estrangeiro para não pagar os 20% de
Imposto de Renda que incide sobre o lucro dos capitais nacionais.
Os fundos de capital estrangeiro,
que estão entre os de maior rentabilidade, estão isentos de imposto
até 30 de junho.
Bancos consultados pela Folha
explicam que a alta rentabilidade
se deve à natureza da aplicação.
Eles compraram dólar no mercado
futuro em uma operação conhecida como alavancagem.
Isso permite que um investidor
que tem US$ 1 compre no futuro
US$ 4, por exemplo. Se o dólar se
valoriza 100%, em vez de ele ganhar mais US$ 1, ele ganha mais
US$ 4. Se o dólar se desvaloriza
quase 100%, ele perde o US$ 1.
O banco Opportunity diz que
abriu o fundo Opportunity Super
FIF com o patrimônio de outro
fundo que reúne centenas de investidores e tem mais de R$ 200
milhões. Investiu como cotista
único no fundo "filhote" e aplicou
cerca de R$ 10 milhões numa operação alavancada em dólar futuro.
Ganhou 513,7% e ficou com R$
54,9 milhões, que foram reaplicados no fundo "mãe".
O diretor comercial da administradora Linear, Ednardo Figueiredo Junior, diz que o único investidor de seu fundo Bafra FIF, que
rendeu 184,2%, é um outro fundo
aberto nas Ilhas Cayman que reúne investidores do mundo todo.
O Banco Santander disse que só
falaria com a autorização de seu
cliente estrangeiro, único cotista
de um fundo que ganhou 259,6%,
ou R$ 28,2 milhões. O Indosuez garante que os recursos aplicados em
seu fundo mais rentável são de vários clientes, e não dele mesmo.
O Safra afirmou que comentará o
caso hoje. Os bancos BBA, Garantia, Pactual e Matrix não quiseram
se pronunciar. O Citibank disse
que informações sobre os fundos
só interessam a seus clientes
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