São Paulo, Sexta-feira, 23 de Abril de 1999
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DESCOBRIMENTO
Manifestantes carregavam faixas pedindo demarcação de terras
Índios pataxós invadem missa do 499º aniversário do Brasil

Fabiano Accorsi/Folha Imagem
Índios pataxós que invadiram missa de aniversário do Descobrimento seguram faixa de protesto


IVAN FINOTTI
enviado especial a Porto Seguro


Os índios estragaram a festa do português. Programado para ser a grande atração da missa que celebrou o 499º ano de Descobrimento do Brasil, na manhã de ontem, em Porto Seguro (BA), o frei-cantor português Hermamo Cabral da Câmara foi ofuscado por uma invasão de cerca de cem índios pataxós.
Gritando, brandindo lanças e com pintura de guerra vermelha nos rostos, os pataxós chegaram a assustar parte das 2.000 pessoas que acompanhavam os minutos finais da missa ao ar livre.
Os índios carregavam faixas de protesto pedindo a demarcação de terras. Algumas das faixas foram arrancadas pela polícia.
O cacique Kanay Pataxó, que liderava representantes de três aldeias da região, afirmou que a manifestação era pela demarcação e legalização de todas as terras indígenas do Brasil. "E também quero deixar bem claro o desrespeito aos direitos humanos do índio aqui na Bahia."
A missa, rezada pelo padre Joelson Oliveira Dias, coordenador da comissão diocesana dos 500 anos de evangelização do Brasil, ocorreu em um palco ao ar livre no centro da cidade.
A manifestação desviou a atenção das autoridades em cima do palco. Entre outros, estavam o ministro Rafael Greca (Esportes e Turismo), o senador Antonio Carlos Magalhães, o governador César Borges (BA) e o embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Knofle.
Hoje, Greca deve visitar o Parque Indígena de Coroa Vermelha, em Cabrália, onde moram alguns índios que participaram da manifestação. O presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Marcio Lacerda, que deve acompanhar o ministro, também estava na missa. "Não esperávamos esse protesto."
O frei Hermano Cabral da Câmara, descendente do descobridor Pedro Álvares Cabral, não interrompeu o show na hora da invasão. Mesmo porque não podia -era um playback. No total, o frei dublou oito canções.
Foi apresentado como um popstar: "Ele tem 20 discos gravados, quatro de ouro e dois de platina. Era um cantor famoso em Portugal até que decidiu entrar no monastério. Mas antes gravou o "Fado da Despedida", até hoje sucesso em Portugal".
A agenda cheia da visita de frei Câmara no Brasil -ele ainda estará em em Salvador, Belém, São Paulo e Rio- quase criou um problema nos bastidores. Câmara precisava pegar um avião às 12h. Para isso, a missa precisaria começar às 10h em ponto. O que não se esperava era o atraso da comitiva de Brasília, com o ministro Greca e ACM.
O frei acabou subindo ao palco às 10h30, e minutos depois chegou a comitiva. ACM foi muito aplaudido. Greca, com um chapéu do tipo panamá na mão, não teve seu nome citado.
Após a missa, a comitiva foi inaugurar o Hospital Deputado Luís Eduardo Magalhães, em homenagem ao filho de ACM, morto há um ano.


Os jornalistas Ivan Finotti e Fabiano Accorsi viajaram a convite do centro de lazer Barramares.


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