|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Desconfiança" levou à guarda dos papéis
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A jornalista e pesquisadora Anna Lúcia Brandão disse ontem
que esperou os principais líderes
do regime militar morrerem para
devolver à Câmara as notas taquigráficas da sessão de julgamento
do ex-deputado federal Márcio
Moreira Alves, do dia 12 de dezembro de 1968.
"Eu não tinha confiança de entregar para qualquer pessoa. Esperei todos morrerem, o Geisel
(ex-presidente Ernesto Geisel), o
Médici (ex-presidente Emílio
Garrastazu Médici), o Golbery
(Golbery do Couto e Silva, chefe
do Gabinete Civil do governo
João Figueiredo)", afirmou.
A pesquisadora disse que o ex-deputado federal José Bonifácio
de Andrada, presidente da Casa
na época, pediu ao Arquivo da
Câmara que as notas fossem entregues a ela para pesquisa.
"As do dia 13 (de dezembro de
1968), eu devolvi porque não tinha nada de importante. Essas eu
guardei no meu baúzinho. Eu
queria impedir que alguém sumisse com elas", afirmou.
Para ela, todas as pessoas deveriam ter acesso aos discursos da
sessão do dia 12 de dezembro de
1968. "Isso é uma página importante da nossa história. Eu tinha
de trazê-las antes de morrer. Os
discursos são maravilhosos", afirmou a pesquisadora.
Livro
Anna Lúcia, 64, funcionária
aposentada da Câmara, afirmou
que pegou as notas taquigráficas
daquela sessão para fazer um trabalho que pretendia inscrever
num concurso sobre os 150 anos
do Poder Legislativo.
"Aí um professor meu disse:
"Você não vai inscrever isso num
concurso. Você vai fazer um livro'", relatou Anna Lúcia. O livro
foi publicado em 1984, com o título: "A Resistência Parlamentar
após 1964".
A pesquisadora disse que era
"muito amiga" do ex-deputado
José Bonifácio de Andrada, a
quem chama de "dr. Zezinho", e
de seu filho, o deputado Bonifácio
Andrada (PSDB-MG), a quem
chama de "Andradinha".
A Folha tentou falar com o deputado. Segundo seu gabinete, ele
estava no interior de Minas Gerais, sem telefone para contato.
Anna Lúcia, que ontem estava
em Brasília, afirmou que não mora na capital federal porque quer
ficar "bem longe do presidente"
(Fernando Henrique Cardoso).
Texto Anterior: Regime militar: Câmara recupera ata de sessão histórica Próximo Texto: Justiça manda soltar enquadrados na LSN Índice
|