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JUDICIÁRIO
Obra é investigada por suposto superfaturamento
Empresa de ex-juiz
fez prédio do TRT
RUBENS VALENTE
da Agência Folha, em Porto Velho
O prédio do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 14ª Região,
em Porto Velho (RO), foi construído pela construtora Cota, de Antônio Adamor Gurgel do Amaral, ex-juiz classista do mesmo tribunal.
Antônio Adamor deixou o cargo
há apenas dois meses. Há suspeitas
de superfaturamento na obra.
A Cota (Construtora da Amazônia S/A) tem como sócios três irmãos -Antônio Adamor, Antônio Adelino e Alan Gurgel do Amaral- e suas mulheres.
O empreiteiro Antônio Adamor
Gurgel do Amaral, 57, que tem
32% das ações da empresa, foi nomeado juiz classista de segunda
instância no TRT de Porto Velho
em fevereiro de 92, oito meses antes da publicação do edital da obra,
e reconduzido ao cargo em 95, de
onde saiu em fevereiro último.
Em entrevista gravada, Antônio
Adamor confirmou ser "um dos
maiores acionistas" da Cota, mas
disse não ter "poder de mando
nem gerência" na empresa e que,
por isso, estaria respaldado por lei.
A lei que regulava licitações na
época (decreto-lei 2.386) permitia
que Antônio Adamor participasse
da concorrência, desde que não
desempenhasse função de comando na empresa.
Antônio Adamor não faz parte
do Conselho Administrativo, mas
o negócio é todo tocado pela família. O conselho é formado pelas
mulheres e filha de seus irmãos e
pelos irmãos Antônio e Alan.
A lei que sucedeu o decreto, de
1993, proíbe que uma empresa de
propriedade de um servidor público preste serviços ao órgão ao qual
ele pertence.
A Agência Folha apurou ainda
que a Cota, sem atender uma exigência do edital de licitação, apresentou como exemplo de experiência técnica a construção de um
matadouro frigorífico, enquanto o
edital de licitação exigia que fosse
uma obra "da mesma natureza".
A ligação do empreiteiro com o
TRT pode ter rendido a ele informações privilegiadas sobre a obra.
Seis meses antes da publicação do
edital de licitação para a construção do prédio, a Cota decidiu, em
reunião dos cotistas, aumentar o
capital social da empresa em
1.171%, projetando um valor de
Cr$ 2,5 bilhões (valor da época).
Com isso, a empresa atendeu
uma exigência do edital de licitação que nem era conhecido até então -ter um capital social mínimo
de Cr$ 2 bilhões.
O Ministério Público Federal e o
TCU investigam a suspeita de irregularidade há mais de seis anos.
O valor real da obra por m2 é controverso, devido a uma diferença
na medição da área construída.
Enquanto o TCU apontou 10.668
m2 construídos, a Prefeitura de
Porto Velho encontrou 13.630 m2.
Também o total gasto com a obra
é motivo de polêmica. O deputado
Giovanni Queiroz (PDT-PA), com
base no Tesouro Nacional, afirma
que R$ 38 milhões foram canalizados para a obra, mas o TRT e o
TCU identificam um desembolso
de R$ 21,5 milhões.
Segundo o TRT, o preço por metro quadrado construído foi de R$
1.579. Assim, o tribunal teria pago
quase quatro vezes os R$ 378 desembolsados por m2 construído do
prédio da Justiça Federal de Porto
Velho, erguido no início da 95 a
apenas 200 m do prédio do TRT.
O presidente do TRT-RO à época
do lançamento do edital da licitação, Heraldo Fróes Ramos, não
soube explicar o fato de a Cota ter
aumentado em 1.171% seu capital
social seis meses antes.
Fróes afirmou que o custo da
obra foi alto em parte porque a Cota também forneceu equipamentos para a cozinha, auditório e outros setores e, em parte, porque o
material empregado também atendeu exigências específicas do TRT
rondoniense.
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