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CRIME ORGANIZADO
Preso, Roberto Teixeira envolve Dante de Oliveira em depoimento
Braço direito de Arcanjo liga quadrilha a políticos do MT
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
A Confiança Factoring, do grupo empresarial de João Arcanjo
Ribeiro -chefe de uma das
maiores quadrilhas do país, preso
desde o último 10 de abril- foi
usada por políticos de Mato Grosso para drenar dinheiro de cofres
públicos para campanhas eleitorais. Entre os beneficiários das
transações estaria Dante de Oliveira (PSDB-MT), que governou
o Estado até dezembro de 2002.
As revelações foram feitas por
Nilson Roberto Teixeira, 43. Ele é
um dos principais executivos do
"staff" financeiro do grupo de Arcanjo Ribeiro, conhecido pelo
apelido de comendador.
Foragido desde 5 de abril, data
em que sua prisão foi decretada,
Roberto Teixeira entregou-se à
Polícia Federal na tarde do último
sábado. Ele fez um acordo com a
Justiça. Tornou-se "réu-colaborador". Contou o que sabe. Em troca, obteve proteção policial e a
promessa de redução de pena.
Roberto Teixeira é réu em processo que apura lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema
financeiro e a ordem tributária. O
depoimento dele foi colhido no
próprio sábado.
O interrogatório durou cerca de
cinco horas. Ouviram-no o juiz
Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara Federal de Mato Grosso, e os
procuradores da República José
Pedro Taques, João Gilberto Gonçalves Filho e Daniel de Resende
Salgado.
Relação extensa
A Folha obteve cópia do depoimento. O homem de confiança da
quadrilha de Mato Grosso contou
o seguinte:
1) a Confiança Factoring, firma
de Arcanjo Ribeiro, recebeu R$
1.723.600,00 em depósitos do
DVOP (Departamento de Viação
e Obras Públicas de Mato Grosso). Foram 27 depósitos, feitos entre março e julho de 2001. O Banco Central rastreou as operações.
Constam de documento produzido a partir da quebra do sigilo
bancário das empresas de Arcanjo Ribeiro (veja o fac-símile no
quadro ao lado). O dinheiro foi
aplicado, de acordo com Roberto
Teixeira, o auxiliar do comendador do crime, em "pagamentos de
campanha do ex-governador
Dante de Oliveira";
2) o acerto foi feito pelo próprio
Roberto Teixeira "com os coordenadores da campanha de Dante
de Oliveira, os senhores Carlos
Avalone e José Carlos Novelli". Os
três se reuniam "na sede da Confiança Factoring". Em algumas
oportunidades, "João Arcanjo Ribeiro participava das reuniões".
Dante de Oliveira "não esteve presente" aos encontros;
3) a Confiança Factoring recebeu também, conforme revelou a
Folha ontem, R$ 65.278.749,34
em depósitos da Assembléia Legislativa de Mato Grosso. Foram
efetivados entre maio de 1999 e
dezembro de 2002. Também
constam do relatório do BC, obtido pela Folha;
4) em seu depoimento, Roberto
Teixeira informou o destino dos
R$ 65,2 milhões: "A Confiança
Factoring recebia uma relação
com os nomes das pessoas a
quem o dinheiro deveria ser repassado". As listas eram entregues por José Geraldo Riva e
Humberto de Melo Bosaipo. São,
respectivamente, o atual e o ex-presidente da Assembléia Legislativa de Mato Grosso;
5) entre as pessoas incluídas nas
relações "havia deputados estaduais". Nas últimas "três legislaturas [...] cerca de 60 a 70% dos
deputados fizeram parte dessa lista de beneficiários". Os parlamentares receberam em "cheques ou
dinheiro";
6) Roberto Teixeira mencionou
no depoimento os nomes de alguns políticos. A Folha reproduz
a lista exatamente como foi registrada no "termo de interrogatório" lavrado pela Justiça: "o deputado Eliene Lima, o ex-deputado
Nico Baracat, Dentinho, Sival
Barbosa, Pedro Satélite, José Carlos de Freitas, Joaquim Sucena,
Humberto Bosaipo, Benedito
Pinto, Romualdo Jr., Emanuel Pinheiro";
7) além dos repasses a deputados, parte dos R$ 65,2 milhões foi
usada em pagamentos feitos pela
Confiança Factoring. Roberto
Teixeira informou: "Não havia
apenas débitos da Assembléia Legislativa, havia fornecedores, deputados estaduais, assessores e
credores de campanhas políticas". Os "débitos se avolumavam
à medida que as campanhas políticas se aproximavam";
8) de novo, conforme as declarações de Roberto Teixeira, o ex-governador Dante de Oliveira teria sido um dos beneficiários de
repasses originados em operações
de "empréstimos realizados pela
Assembléia Legislativa". O auxiliar de Arcanjo Ribeiro declarou:
"Foram pagos débitos de campanha política do então candidato
Dante de Oliveira no pleito de
1998";
9) Roberto Teixeira disse no depoimento que consegue "provar a
triangulação para o pagamento
de despesas" da campanha de
Dante, por meio de "documentos
que possui". Comprometeu-se a
entregar os papéis em juízo. São
"relações de parte dos fornecedores de campanha";
10) algumas vezes, segundo Roberto Teixeira, os repasses financeiros eram feitos por intermédio
de assessores dos deputados estaduais. Mencionou dois nomes:
Juraci de Brito, que identificou
como "assessor do deputado
Humberto Bosaipo", ex-presidente da Assembléia mato-grossense, e Cristiano Quirilo Volpato, "assessor do deputado José Riva", atual presidente do legislativo
estadual;
11) Quirilo Volpato recebeu da
Confiança Factoring, de acordo
com o documento do BC, R$
1.324.659,53. Juraci de Brito figura
no relatório como beneficiário de
R$ 250 mil.
Medo de morrer
O Ministério Público e o juiz Julier Sebastião da Silva atribuem
grande importância ao depoimento de Roberto Teixeira. Ele
começou a trabalhar como "gerente-geral" da Confiança Factoring em 1995. Foi convidado pelo
próprio Arcanjo Ribeiro. Conheceu-o em 1991. Era na época gerente de uma agência do Banco
Econômico em Cuiabá, onde o
comendador mantinha conta.
Trocou o salário de R$ 3.000 que
recebia do Econômico por vencimentos de R$ 10 mil mensais,
mais participação nos lucros da
Confiança.
Como gerente-geral, Roberto
Teixeira assinava os cheques da
Confiança Factoring, mediante
procuração passada pelo próprio
Arcanjo Ribeiro. Em março de
2002 transferiu-se para a Vip Factoring, também pertencente ao
comendador, que mantém negócios em Mato Grosso, no Distrito
Federal, no Uruguai e nos Estados
Unidos.
Roberto Teixeira tornou-se um
homem bem-posto. Possui sete
postos de gasolina, duas fazendas
e um apartamento avaliado por
ele próprio em R$ 200 mil. Depois
do depoimento que prestou no
sábado, foi transferido de Mato
Grosso para outro Estado, mantido em segredo pela PF. O auxiliar
do comendador declarou no depoimento que tem "medo de
morrer".
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