São Paulo, domingo, 23 de julho de 2000


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JANIO DE FREITAS

Aloysio Biondi

A grande contribuição de Aloysio Biondi para o jornalismo só agora vai se mostrar, na plenitude, com a sua falta. A imensa contribuição de Aloysio Biondi para o país só será percebida na plenitude quando, e se, houver estudos históricos abrangentes, de meados de 60 para cá, das relações entre imprensa e poder, entre a propaganda oficialesca e a realidade econômica, entre governo e negócios.
Biondi não frequentava ministérios, bancos, gabinetes estatais, rodas de grandes empresários. E, no entanto, jamais um jornalista soube de modo tão completo quanto ele, e duvido que algum dia outro venha a saber, o sentido real, os pormenores e as consequências das decisões econômicas e monetárias, como dos grandes negócios envolvendo interesses governamentais ou sociais.
O dia-a-dia de Aloysio Biondi era uma ourivesaria sem fim, pinçando e estabelecendo a conexão, surpreendente e verdadeira, dos maiores e dos mínimos dados presentes nas seções de economia, nos boletins de serviços governamentais, nas estatísticas e nos balanços, de que era admirável analista. Sua memória incomum guardava tudo, mas seus leitores também podiam guardar: Biondi nunca sonegou uma informação que lhe parecesse devida ao leitor, nunca deformou para que não desagradasse o empresário influente, o poder governamental ou objetivos não-jornalísticos do seu empregador, se fosse o caso.
Não é à toa que Aloysio Biondi foi um tanto maldito, apesar do seu êxito como editor, como colunista, como articulista e repórter. Simples, tranquilo, bem-humorado, passou a vida de redação em redação. Em cada uma, formou, com a competência didática e a fraternidade incomuns, uma legião de jornalistas. Nos últimos tempos, essa sua qualidade foi descoberta pela renovada Faculdade Cásper Líbero de Jornalismo, que o incluiu no seu corpo docente e, neste ano, lhe outorgou o reconhecimento de Notório Saber.
A quantidade de farsas e negociatas que Aloysio Biondi desnudou não tem conta. Seu livrinho recente sobre as privatizações é e será sempre um trabalho de consulta obrigatória a respeito do período atual. Mas não sei quem foi mais excepcional, entre o jornalista e a pessoa Aloysio Biondi, se é que um dos dois foi mais excepcional do que o outro.
A coragem e a altivez com que Biondi aceitou as muitas adversidades são, em minha memória, um caso único. Sua vida foi de dificuldades contínuas, mas ninguém poderia ser mais generoso do que Aloysio Biondi. Nem de caráter mais límpido.
Cedo ao lugar-comum, nada pode agora ser mais verdadeiro e eloquente: Aloysio Biondi, uma perda irreparável.


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