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JANIO DE FREITAS
Aloysio Biondi
A grande contribuição de
Aloysio Biondi para o jornalismo só agora vai se mostrar, na
plenitude, com a sua falta. A
imensa contribuição de Aloysio
Biondi para o país só será percebida na plenitude quando, e se,
houver estudos históricos abrangentes, de meados de 60 para cá,
das relações entre imprensa e poder, entre a propaganda oficialesca e a realidade econômica, entre
governo e negócios.
Biondi não frequentava ministérios, bancos, gabinetes estatais,
rodas de grandes empresários. E,
no entanto, jamais um jornalista
soube de modo tão completo
quanto ele, e duvido que algum
dia outro venha a saber, o sentido
real, os pormenores e as consequências das decisões econômicas
e monetárias, como dos grandes
negócios envolvendo interesses
governamentais ou sociais.
O dia-a-dia de Aloysio Biondi
era uma ourivesaria sem fim, pinçando e estabelecendo a conexão,
surpreendente e verdadeira, dos
maiores e dos mínimos dados presentes nas seções de economia,
nos boletins de serviços governamentais, nas estatísticas e nos balanços, de que era admirável analista. Sua memória incomum
guardava tudo, mas seus leitores
também podiam guardar: Biondi
nunca sonegou uma informação
que lhe parecesse devida ao leitor,
nunca deformou para que não
desagradasse o empresário influente, o poder governamental
ou objetivos não-jornalísticos do
seu empregador, se fosse o caso.
Não é à toa que Aloysio Biondi
foi um tanto maldito, apesar do
seu êxito como editor, como colunista, como articulista e repórter.
Simples, tranquilo, bem-humorado, passou a vida de redação em
redação. Em cada uma, formou,
com a competência didática e a
fraternidade incomuns, uma legião de jornalistas. Nos últimos
tempos, essa sua qualidade foi
descoberta pela renovada Faculdade Cásper Líbero de Jornalismo, que o incluiu no seu corpo
docente e, neste ano, lhe outorgou
o reconhecimento de Notório Saber.
A quantidade de farsas e negociatas que Aloysio Biondi desnudou não tem conta. Seu livrinho
recente sobre as privatizações é e
será sempre um trabalho de consulta obrigatória a respeito do período atual. Mas não sei quem foi
mais excepcional, entre o jornalista e a pessoa Aloysio Biondi, se
é que um dos dois foi mais excepcional do que o outro.
A coragem e a altivez com que
Biondi aceitou as muitas adversidades são, em minha memória,
um caso único. Sua vida foi de dificuldades contínuas, mas ninguém poderia ser mais generoso
do que Aloysio Biondi. Nem de
caráter mais límpido.
Cedo ao lugar-comum, nada
pode agora ser mais verdadeiro e
eloquente: Aloysio Biondi, uma
perda irreparável.
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