São Paulo, domingo, 23 de julho de 2000


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OUTRO LADO

Diretor de sindicato de empresas alega desconhecimento técnico

DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor-executivo do Selur (Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana no Estado de São Paulo), Ariovaldo Caodaglio, disse à Folha que não tem conhecimentos técnicos suficientes para justificar a realização dos serviços de varrição na cidade.
Ele afirma que as empresas cumprem os contratos, mas diz que "o cumprimento do que está nos contratos deve ser fiscalizado e exigido por quem contrata".
Caodaglio justifica o fato de a cidade estar suja dizendo que as empresas não têm a condição de determinar a frequência de varrição. "Existe uma diferença entre considerar varrição executada e rua limpa. São coisas distintas; não é jogo de palavras."
O diretor-executivo do Selur afirma que as empresas não podem ser responsabilizadas se, ao término de uma varrição, a rua está suja porque a população jogou lixo novamente. Ele rejeita relatos de moradores sobre a frequência da varrição e diz que, nesses casos, há um problema de "confiabilidade da informação".
Como solução para o problema, ele propõe que a remuneração das empresas seja feita com base em índices de limpeza, em vez de frequência de varrição.
Caodaglio diz que "o serviço de varrição é um serviço desnecessário". Isso porque não seria preciso limpar as ruas se a população não as sujasse. "Sem adotar nenhum tipo de campanha para que haja redução da sujeira do espaço público, você não está fazendo um serviço essencial." Caso esse trabalho fosse feito, "os valores gastos com a varrição poderiam ser usados em outras necessidades".
Na véspera da entrevista com o diretor-executivo do Selur, a Folha solicitou ao sindicato que fornecesse o número de funcionários atualmente empregados na varrição de ruas. Caodaglio, porém, não tinha a informação. "Acho que isso é uma falha."
Ele diz que não houve alteração significativa do número de funcionários entre o segundo semestre de 1997 e junho de 1999, quando a varrição de calçadas foi paralisada. Então, segundo ele, teriam sido demitidos entre 1.200 e 1.300 funcionários.
Caodaglio diz que a varrição de calçadas em São Paulo começou na década de 1980 e que o aditamento ao contrato foi feito "em razão da necessidade que o poder público teve de resolver a sujeira".
Sobre a ilegalidade do contrato, o diretor do Selur diz que "não cabe" a ele responder. "As empresas executaram o trabalho. A forma de contratação não tem que ser discutida no Selur."

"Assunto interno"
Caodaglio afirma que o sindicato não discute os pagamentos de propina que teriam sido feitos pelas empresas. "Qualquer coisa que se refere a irregularidades, o sindicato considera que é assunto interno da empresa e não emite juízo de valor."
"O sindicato não é um órgão que tenha um selo de qualidade que diga se o comportamento das empresas está sendo objeto de alguma coisa positiva ou negativa."
Em relação à entrevista de Carlos Alberto Venturelli (acima), Caodaglio disse que "as afirmativas exigem comprovação de veracidade".
Ele nega que as empresas recolham entulho com o lixo domiciliar. "Acho estranho, porque o entulho colocado no caminhão compactador deteriora e reduz a vida útil do equipamento".
Por volta das 14h da última sexta-feira, a reportagem procurou as três empresas que prestavam serviços de varrição entre janeiro de 1997 e junho e 1999, e mantém vínculo com a prefeitura: Enterpa, Vega e Cliba.
A assessoria de imprensa da Enterpa informou que a empresa somente se manifesta por meio do Selur. Informou ainda que o presidente da empresa, Roberto Rocha, não estava em São Paulo.
Segundo a assessoria, Rocha não poderia comentar as afirmações sobre pagamento de propina que fez no ano passado porque naquela época ele trabalhava para a Enterpa Engenharia e, hoje, ele preside a Enterpa Ambiental. As empresas têm donos diferentes.
O presidente da Vega, Carlos Vila, não ligou de volta para a Folha após recado deixado com a secretária dele. O mesmo ocorreu com o assessor de imprensa da empresa, Mauro Lopes.
A assessoria de imprensa da Cliba informou que não havia nenhum técnico capaz de falar sobre o assunto na empresa.


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