São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2000


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CORUMBIARA
José Viana Alves lamenta absolvição de PMs a pedido de promotor
Para procurador-geral, julgamento foi "desastroso"

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA

O procurador-geral de Justiça de Rondônia, José Viana Alves, disse que foi "desastroso" o resultado do julgamento dos dois primeiros oficiais da Polícia Militar acusados pelo massacre de Corumbiara, absolvidos anteontem pelo júri a pedido do promotor Tarcísio Matos. Ainda serão julgados mais dois oficiais.
O promotor, responsável pela acusação, afirmou durante o julgamento que não havia provas contra os PMs denunciados pelo massacre, ocorrido há cinco anos, no qual morreram dez sem-terra e dois policiais.
Ele criticou as evidências colhidas no processo, as ações dos sem-terra e a Igreja Católica, por apoiar movimentos de trabalhadores rurais.
"Foi uma surpresa total", disse o procurador-geral. "Acho que deu uma reviravolta no caso. Mudou completamente a panorâmica."
Alves disse temer por uma tendência de absolvição dos outros sete PMs e dos dois líderes dos sem-terra, que ainda sentarão no banco dos réus. Ele afirmou que a decisão de Matos foi "isolada", não representando a posição do Ministério Público de Rondônia. "Espero que isso não tenha influência sobre o trabalho do outro promotor nos próximos julgamentos", afirmou.
O outro promotor é Cláudio Wolf Harger, que, na semana passada, conseguiu a condenação de dois dos três soldados que estavam no banco dos réus do fórum criminal de Porto Velho (RO) pelos assassinatos de três sem-terra.
Apesar de não ter concordado com a posição de Matos, o procurador-geral disse que o promotor "tem toda autonomia" para agir.
Denúncia
Alves participou da elaboração da denúncia do Ministério Público contra os PMs e os sem-terra. Ele atuou em conjunto com o promotor Elício de Almeida Silva, da comarca de Colorado do Oeste. Ele disse que "há provas suficientes para condenar todos os denunciados, PMs e sem-terra". O procurador-geral de Justiça prevê "uma forte reação" dos movimentos pró-sem-terra. "Politicamente, a coisa ficou complicada", disse.
Ele deverá receber hoje um protesto por escrito do Fórum em Defesa das Vítimas de Corumbiara, integrado por movimentos ligados a sindicatos, à Igreja Católica e aos partidos políticos de esquerda, pedindo o afastamento de Tarcísio Matos do caso.
Matos é o promotor que fará a acusação aos sem-terra no julgamento de sexta-feira. Os sem-terra foram denunciados como participantes nas mortes dos dois policiais. Procurado pela Agência Folha, Matos não se manifestou. Ele não tem dado declarações desde que assumiu o caso e pretende manter essa posição, segundo a assessoria de imprensa do Ministério Público de Rondônia.


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