São Paulo, domingo, 23 de agosto de 1998

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Fim do milagre acelerou processo


da Sucursal de Brasília

Na ascensão dos militares adeptos da abertura política, a "A História Indiscreta da Ditadura e da Abertura" explora o dilema do regime que se defrontou, a partir de 1973, com o esgotamento do milagre econômico.
O livro contextualiza a primeira crise do petróleo, em 73, quando o Brasil era o terceiro importador mundial, com as articulações na caserna e a consolidação do prestígio dos irmãos Geisel (Ernesto e Orlando) nas Forças Armadas.
O fim do milagre torna dominante nos meios militares o grupo favorável à abertura, que vai buscar Ernesto Geisel no STM (Superior Tribunal Militar). Entregara-lhe, primeiro, a presidência da Petrobrás sob condições que ele mesmo impusera -funcionaria como empresa autônoma, sem interferência do Ministério das Minas e Energia.
Na prática, sob a direção de Geisel, a Petrobrás funcionava como um ministério dentro do ministério. Depois da estatal, a Presidência da República. O irmão Orlando, enquanto o Ernesto exalava poder de planejador econômico, era o senhor das armas. Era amigo do presidente Médici.
Segundo Costa Couto, Orlando era, na época, um dos militares mais respeitados e, por causa da saúde abalada, tinha desestimulado qualquer articulação em torno do seu nome para a Presidência.
"Os militares não podem ser encarados como um bloco monolítico", diz Couto, que explora o lado fortuito da vida -como a saúde de Orlando Geisel- na definição de nomes que comporiam o poder militar e a abertura.
Um exemplo: a perna quebrada do general Dilermando Monteiro, o convidado de Geisel para a chefia da Casa Militar, fez de Hugo Abreu o eleito para o cargo.
Tancredo gravita na "História indiscreta" e é personagem de um bom "causo" no livro.
Lamentando a cassação do deputado Chico Pinto (MDB-BA), Tancredo é aparteado por um governista na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
"O caso do Chico Pinto é completamente diferente dos outros. Foi o Supremo Tribunal Federal quem mandou cassar. Não o AI-5", diz o governista.
Tancredo devolve: "O amigo me faz lembrar uma coisa acontecida lá em São João del-Rei há alguns anos. Foi no velório do vizinho de um compadre meu. Morreu de pneumonia, coitado. De madrugada, um parente dele chegou de viagem e perguntou à viúva: "O Zé morreu de pneumonia simples ou dupla, Mariazinha?' "Simples', respondeu ela chorando. E ele: "Ah! Ainda bem'"
(RN)



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