São Paulo, Quinta-feira, 23 de Setembro de 1999
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ESCUTA TELEFÔNICA

Quatro meses antes de prestar depoimento, envolvidos sabiam que seriam investigados pela PF

Inquérito do grampo vazou a suspeitos

ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio

Quatro meses antes de prestar depoimento no inquérito do grampo telefônico do BNDES, o principal suspeito, Temílson Resende, agente da Subsecretaria de Inteligência Militar da Presidência da República no Rio de Janeiro, soube que seu nome estava na relação dos que seriam investigados pela Polícia Federal.
A lista dos suspeitos do delegado Rubens Grandini, que conduz o inquérito, foi vazada de dentro da Polícia Federal em dezembro. Temílson teve seu telefone grampeado pelo delegado, com autorização judicial, em abril e só prestou depoimento no dia 29 daquele mês.
O major reformado do Exército (ex-instrutor do DOI/CODI e do extinto SNI) Divany Carvalho Barros contou à Folha que soube que seu nome estava na lista, juntamente com o de Temílson, no mês de dezembro.
O major, que se diz amigo de Temílson há 15 anos, pode ser convocado para depor no inquérito.
A informação sobre os suspeitos, segundo ele, lhe foi passada pelo engenheiro Paulo Renault, de quem também é amigo, que estaria auxiliando nas investigações.
Segundo Barros, ele se encontrou com o engenheiro no Centro de Informações da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio, que, na ocasião, era chefiada pelo coronel reformado do Exército Romeu Antônio Ferreira.
O coronel também atuou no extinto SNI e no DOI/CODI, onde usava o codinome ""Dr. Fábio".
O coronel Ferreira, que deixou o cargo na secretaria em março deste ano e está montando sua própria agência de investigação para empresas, confirma o encontro entre o major Barros e Renault , mas diz que o major não estava entre os suspeitos, apenas Temílson. Confirma também que Renault auxiliou a Polícia Federal nas investigações sobre o grampo do BNDES.
Os nomes do major Barros, do coronel Romeu Ferreira e de Renault constam do dossiê sobre a indústria do grampo no Rio de Janeiro, apresentado à Justiça Federal por Célio Arêas Rocha, quando depôs, em sigilo, na última quinta-feira.
Os três são apontados por Célio Rocha como integrantes da indústria da espionagem, contra-espionagem e escuta telefônica. Renault não quis falar sobre a investigação e disse ontem que abandonou a área de informação e que só se dedica ao hipnotismo.
A Folha apurou que foi um oficial aposentado do Exército, também ligado aos serviços de informação, que fez chegar às mãos do delegado Rubens Grandini a lista de supostos envolvidos pelo grampo no BNDES.
A lista era encabeçada por Temílson Resende, que está com prisão preventiva decretada pela Justiça Federal e se encontra foragido desde sexta-feira.
O major Barros afirma que conheceu Temílson quando ambos eram analistas de informações do extinto SNI (Serviço Nacional de Informações).
Disse que deixou o governo em 1985 e passou a fazer serviços para empresas. Sua especialidade, segundo contou, é planejar a segurança pessoal de empresários.
O coronel Romeu Ferreira diz que só faz escuta telefônica com autorização judicial, mas se considera um dos maiores especialistas da área de informações.
Em março último, quando deixou a chefia do Centro de Informações da Secretaria de Segurança do Estado do Rio, recebeu o diploma de ""Araponga do Ano" de seus chefiados. O diploma está pendurado na parede de seu escritório.




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