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FOME SOCIAL
Despesas de R$ 5,3 bi do Bolsa-Família não entrariam no déficit público
Lula quer incluir unificação em novo acordo com o FMI
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os gastos com a unificação dos
programas de transferência de
renda, cujo orçamento é de R$ 5,3
bilhões para 2004, estão entre as
metas sociais que o governo brasileiro estuda incluir em um novo
acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
O objetivo do governo é fazer
com que os investimentos da área
social não sejam computados pelo Fundo como despesas no cálculo do déficit público, como
ocorre hoje.
Os gastos que o governo quer
incluir no novo acordo fazem
parte do projeto de unificação da
transferência de renda, batizado
de Bolsa-Família, que vai unir
quatro programas: Bolsa-Escola,
Bolsa-Alimentação, Cartão-Alimentação e Vale-Gás. A unificação, que seria anunciada na semana passada, foi adiada por tempo
indeterminado, mas o governo
informou que o dinheiro será liberado em outubro.
O novo programa vai pagar de
R$ 50 a R$ 95 mensais a famílias
com renda per capita inferior a
um quarto de salário mínimo (R$
60). Até o fim deste ano, o governo espera atender 4 milhões de famílias no país.
O Planalto também estuda incluir, num eventual novo acordo,
regras que possibilitem ao governo investir em saneamento básico. Os programas do setor estão
praticamente paralisados desde
fevereiro, quando o governo
anunciou o bloqueio temporário
(contingenciamento) de R$ 5 bilhões no orçamento dos ministérios da área social.
O Ministério das Cidades, responsável pelos programas de saneamento, teve 85% dos seus recursos bloqueados. O orçamento
da pasta caiu de R$ 2,2 bilhões para R$ 326 milhões. Só o corte das
emendas de parlamentares para o
programa Saneamento é Vida
atingiu 11,1 milhões de pessoas.
Dados do Censo de 1991 revelam que, naquele ano, apenas
54,4% dos domicílios brasileiros
estavam ligados à rede de saneamento. Quase uma década depois, o Censo 2000 mostrou que
os avanços no setor foram tímidos: apenas 62,2% dos domicílios
dispõem desses serviços.
Os investimentos nessa área
minguaram em razão justamente
de os gastos realizados em saneamento pela União, Estados e Municípios serem computados pelo
Fundo como déficit público. O
mesmo ocorre com todos os investimentos feitos na área social.
Desempenho
Na sexta, o diretor-gerente do
Fundo Monetário Internacional,
Horst Köhler, disse, durante encontro da instituição em Dubai
(Emirados Árabes), que o FMI cogita incluir metas sociais num novo acordo com o Brasil.
Köhler afirmou que há a possibilidade de mudança da forma de
cálculo dos investimentos de empresas públicas, o que favoreceria
os projetos de saneamento.
Köhler e o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), que também participa do encontro nos
Emirados Árabes, sugeriram que
um novo acordo entre o Brasil e o
Fundo tenha prazo de um ano.
Palocci também ressaltou na
sexta-feira em Dubai o que já havia dito antes: não concorda com
a existência de metas sociais no
acordo que permitam ao Fundo
checar o desempenho do Brasil na
área. Ou seja: descartou a idéia de
que o Fundo possa, por exemplo,
checar o atendimento das famílias
cadastradas nos programas de
transferência de renda.
"Não caberia ao Fundo saber se
as famílias [incluídas nos programas] estão sendo atendidas ou
não. Mas achamos importante
que o FMI as introduza [as metas]
nos seus programas para que olhe
como um todo a estrutura do país
e não apenas metas fiscais. Para
nós, a questão social também é essencial", disse Palocci.
O ministro também é contra retirar, de forma generalizada, os
investimentos das estatais do déficit, outra proposta discutida no
governo. Ele informou que o governo só decidirá em outubro a
assinatura de um novo acordo.
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