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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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JANIO DE FREITAS

A reviravolta

Em assunto que envolve interesses financeiros tão grandes, inclusive de grandes empresas estrangeiras, são injustificáveis as zonas de sombra e as suspeitas de manobras que acompanham, no governo, os preparativos para a liberação de soja biologicamente adulterada, dita soja transgênica.
A alegação de falta de sementes normais - portanto, de comprovada segurança para o ser humano e para o ambiente- mais compromete do que defende a parte do governo favorável à liberação, outra das reversões do governo Lula. Como foi noticiado, o Ministério da Agricultura assegurava a existência das sementes normais na quantidade necessária, e o repentina inexistência continua tão inexplicada quanto as afirmações, anteriores, em contrário. Mas, além disso, os preparativos para a liberação começaram muito antes de se apresentar a questão das sementes para a próxima safra.
Começaram, mais precisamente, na ocasião mesma em que Luiz Inácio Lula da Silva liberou a comercialização, na última safra, da soja transgênica plantada apesar da proibição. O governo premiou uma prática ilegal e não ficou, ele próprio, isento de prática equivalente: o Brasil é signatário de acordos de biodiversidade que não foram desrespeitados só no plantio, mas também pelo ato presidencial que o acobertou.
São ainda desconhecidos os efeitos da soja transgênica no organismo humano. Mas estão comprovados os seus efeitos letais sobre várias espécies de insetos protetores da flora e de polinizadores, sendo bem conhecida a mortandade das borboletas migratórias, as belas monarcas que transitam entre os Estados Unidos e a América do Sul. Outro efeito já constatado é sobre espécies botânicas do mesmo ambiente. Motivo bastante de alerta.
O que se passou com o uso do DDT merecia servir de advertência, até que a soja adulterada tenha passado por todos os testes. Defendido também como um avanço científico para aumentar a produção agrícola, pelo extermínio de organismos daninhos nas plantações, ao fim de 20 anos de uso comprovou-se que o DDT não estava matando só aqueles organismos, mas também seres em quantidade incalculável.
Assim como em relação à safra passada, a liberação já anunciada (até como definitiva) contraria acordos internacionais pelo Brasil. O governo Lula vai repetir o governo Bush e seu descaso por tratados internacionais de defesa da biodiversidade e do ambiente?
Mas, dadas as sombras que encobrem a reviravolta, após a posse, a respeito da soja transgênica que é de grande interesse do governo americano, deve-se também admitir que a liberação seja um agrado a Bush, para compensar algumas discordâncias.

Como convinha
O casamento de Marta Suplicy (sic) foi retratado pela mídia com certa má vontade. Até que foi muito engraçado, com jeito de comédia italiana. Entre Fellini e Monicelli.


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