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GOVERNO MINADO
Planalto associa pior índice de avaliação do presidente a escândalos na Esplanada dos Ministérios
Crises no 1º escalão afetam imagem de Lula
RAYMUNDO COSTA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto faz relação
direta entre a "agenda negativa"
na qual se enredaram setores do
governo e a contaminação da
imagem do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, cuja popularidade
caiu seis pontos percentuais entre
agosto e setembro, segundo medição do instituto Sensus.
Até agora, Lula parecia imune
às trapalhadas do governo. Mas a
chamada "agenda negativa" vem
se saturando. Vai de suspeitas de
corrupção a nepotismo, passando
pelo aparelhamento do Estado e o
conflito entre o que o PT falava na
oposição e faz no governo.
Lula tem procurado preservar
os ministros. Um reflexo das trapalhadas são as demissões no segundo e no terceiro escalões, geralmente antecedidas de crises.
Em agosto, cinco diretores do
Inca (Instituto Nacional de Câncer) deixaram seus cargos atribuindo a queda na qualidade do
atendimento ao aparelhamento
partidário da instituição. Em seguida, o diretor-geral Jamil Haddad pediu demissão. E culpou,
pela crise, funcionários que não
queriam perder privilégios.
Pouco antes, o governo conseguiu lidar com rapidez com um
assunto explosivo. Ao iniciar o
pagamento de empreiteiras, o ministro dos Transportes, Anderson
Adauto, recebeu denúncias contra o então diretor de Administração e Finanças, Sérgio Pimentel,
indicado para o cargo pelo PTB,
sigla da base no Congresso.
Adauto chamou o diretor e lhe
deu a opção de pedir demissão.
Pimentel não aceitou e foi exonerado. Saiu insinuando que o ministro privilegiava empreiteiras.
O assunto está na Justiça.
O aparelhamento está por trás
da saída de Gil Castelo Branco da
secretaria-executiva do Ministério dos Esportes. O PC do B, que
indicou o ministro Agnelo Queiroz, não admitia o fato de ele não
ser filiado ao partido. Devido à
saída de Castelo Branco, o ministro está segurando o pedido de
demissão da secretária de Esportes de Alto Rendimento, a ex-jogadora de basquete Paula.
Magic Paula já decidiu sair e não
poupa críticas ao governo e ao
ministro, que foi à República Dominicana para assistir aos Jogos
Pan-Americanos com despesas
pagas pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) -sem abrir mão
das diárias pagas pelo governo.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, segurou enquanto pôde Marcelo Rezende na presidência do Incra.
PSDB e PFL o acusavam de aparelhar o órgão responsável pela reforma agrária com integrantes do
MST e de outras organizações.
Nos costumes, o PT foi pilhado
em nepotismo e ministros usufruindo de vantagens pessoais
-caso de Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social), advertida pelo Conselho de Ética
por uma viagem a Buenos Aires
com fins supostamente particulares. Anteontem, caiu o secretário
nacional de Segurança, Luiz
Eduardo Soares, que empregou a
mulher e a ex-mulher.
A questão dos transgênicos expôs o conflito entre o que o PT falava e o que faz. Deixa em lados
opostos a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro
da Agricultura, Roberto Rodrigues. De quebra, tirou o deputado
Fernando Gabeira (RJ) do PT.
O Planalto acusou a queda da
popularidade de Lula, mas acha
que ela é absorvível e que o presidente ainda tem gordura para
queimar. O problema seria inverter a agenda. Sobretudo a questão
do desemprego, o que já vislumbra como possível.
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