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São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2003

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GOVERNO MINADO

Planalto associa pior índice de avaliação do presidente a escândalos na Esplanada dos Ministérios

Crises no 1º escalão afetam imagem de Lula

RAYMUNDO COSTA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Palácio do Planalto faz relação direta entre a "agenda negativa" na qual se enredaram setores do governo e a contaminação da imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja popularidade caiu seis pontos percentuais entre agosto e setembro, segundo medição do instituto Sensus.
Até agora, Lula parecia imune às trapalhadas do governo. Mas a chamada "agenda negativa" vem se saturando. Vai de suspeitas de corrupção a nepotismo, passando pelo aparelhamento do Estado e o conflito entre o que o PT falava na oposição e faz no governo.
Lula tem procurado preservar os ministros. Um reflexo das trapalhadas são as demissões no segundo e no terceiro escalões, geralmente antecedidas de crises.
Em agosto, cinco diretores do Inca (Instituto Nacional de Câncer) deixaram seus cargos atribuindo a queda na qualidade do atendimento ao aparelhamento partidário da instituição. Em seguida, o diretor-geral Jamil Haddad pediu demissão. E culpou, pela crise, funcionários que não queriam perder privilégios.
Pouco antes, o governo conseguiu lidar com rapidez com um assunto explosivo. Ao iniciar o pagamento de empreiteiras, o ministro dos Transportes, Anderson Adauto, recebeu denúncias contra o então diretor de Administração e Finanças, Sérgio Pimentel, indicado para o cargo pelo PTB, sigla da base no Congresso.
Adauto chamou o diretor e lhe deu a opção de pedir demissão. Pimentel não aceitou e foi exonerado. Saiu insinuando que o ministro privilegiava empreiteiras. O assunto está na Justiça.
O aparelhamento está por trás da saída de Gil Castelo Branco da secretaria-executiva do Ministério dos Esportes. O PC do B, que indicou o ministro Agnelo Queiroz, não admitia o fato de ele não ser filiado ao partido. Devido à saída de Castelo Branco, o ministro está segurando o pedido de demissão da secretária de Esportes de Alto Rendimento, a ex-jogadora de basquete Paula.
Magic Paula já decidiu sair e não poupa críticas ao governo e ao ministro, que foi à República Dominicana para assistir aos Jogos Pan-Americanos com despesas pagas pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) -sem abrir mão das diárias pagas pelo governo.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, segurou enquanto pôde Marcelo Rezende na presidência do Incra. PSDB e PFL o acusavam de aparelhar o órgão responsável pela reforma agrária com integrantes do MST e de outras organizações.
Nos costumes, o PT foi pilhado em nepotismo e ministros usufruindo de vantagens pessoais -caso de Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social), advertida pelo Conselho de Ética por uma viagem a Buenos Aires com fins supostamente particulares. Anteontem, caiu o secretário nacional de Segurança, Luiz Eduardo Soares, que empregou a mulher e a ex-mulher.
A questão dos transgênicos expôs o conflito entre o que o PT falava e o que faz. Deixa em lados opostos a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. De quebra, tirou o deputado Fernando Gabeira (RJ) do PT.
O Planalto acusou a queda da popularidade de Lula, mas acha que ela é absorvível e que o presidente ainda tem gordura para queimar. O problema seria inverter a agenda. Sobretudo a questão do desemprego, o que já vislumbra como possível.


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