São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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Padre se reconhece numa das fotos

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O padre canadense Leopoldo d'Astous, 72, reconheceu como sendo sua ao menos uma das duas fotografias a que teve acesso e que foram inicialmente atribuídas ao jornalista Vladimir Herzog, morto sob tortura no DOI-Codi de São Paulo, em 1975.
Trata-se daquela em que um homem despido é mostrado lateralmente, sentado num estrado e com o rosto coberto pela mão direita. A outra foto que ele conseguiu abrir em seu computador, num conjunto de seis que a Folha transmitiu a ele por correio eletrônico, gerou algumas dúvidas.
O personagem, retratado de frente e com o sexo à mostra, traz uma pulseira ou relógio na mão direita, algo que padre Leopoldo diz não se recordar ter usado.
Ele também acredita que a pessoa da segunda fotografia tenha mais pelos no peito que o seu e uma calvície mais avançada que a sua no início dos anos 70.
Em entrevista, às 22h15 de ontem, ele afirma, no entanto, não descartar a possibilidade de ser também ele esse segundo personagem. As diferenças não passariam de problemas derivados da baixa qualidade da imagem.
Anteontem, padre Leopoldo relatou que em 1973 fora vítima de agressões físicas e morais durante uma operação atribuída às forças de repressão política no interior de Goiás. Os policiais o forçaram a se despir em companhia de uma freira. Ambos foram, na ocasião, fotografados. E, anos depois, em 1982, uma das fotos ilustrou um panfleto apócrifo que circulou em sua paróquia, em Brasília.
O ex-pároco está no Canadá, na Província de Quèbec, para acompanhar um irmão internado num hospital. Na casa do irmão, onde está hospedado, não há computador. Para se certificar de que as fotografias o retratam, ele precisou ir até a casa de um sobrinho, localizada a 40 km de distância.
Ontem pela manhã, padre Leopoldo relatou uma outra forma de constrangimento que disse tê-lo vitimado durante o regime militar. Foi uma tentativa de envolvê-lo no caso da garota Ana Lídia Braga, de sete anos, estuprada e assassinada em Brasília, em setembro de 1973.
A família de Ana Lídia freqüentava sua paróquia. Os assassinos nunca foram condenados.


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