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Padre se reconhece numa das fotos
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O padre canadense Leopoldo
d'Astous, 72, reconheceu como
sendo sua ao menos uma das
duas fotografias a que teve acesso
e que foram inicialmente atribuídas ao jornalista Vladimir Herzog, morto sob tortura no DOI-Codi de São Paulo, em 1975.
Trata-se daquela em que um
homem despido é mostrado lateralmente, sentado num estrado e
com o rosto coberto pela mão direita. A outra foto que ele conseguiu abrir em seu computador,
num conjunto de seis que a Folha
transmitiu a ele por correio eletrônico, gerou algumas dúvidas.
O personagem, retratado de
frente e com o sexo à mostra, traz
uma pulseira ou relógio na mão
direita, algo que padre Leopoldo
diz não se recordar ter usado.
Ele também acredita que a pessoa da segunda fotografia tenha
mais pelos no peito que o seu e
uma calvície mais avançada que a
sua no início dos anos 70.
Em entrevista, às 22h15 de ontem, ele afirma, no entanto, não
descartar a possibilidade de ser
também ele esse segundo personagem. As diferenças não passariam de problemas derivados da
baixa qualidade da imagem.
Anteontem, padre Leopoldo relatou que em 1973 fora vítima de
agressões físicas e morais durante
uma operação atribuída às forças
de repressão política no interior
de Goiás. Os policiais o forçaram
a se despir em companhia de uma
freira. Ambos foram, na ocasião,
fotografados. E, anos depois, em
1982, uma das fotos ilustrou um
panfleto apócrifo que circulou em
sua paróquia, em Brasília.
O ex-pároco está no Canadá, na
Província de Quèbec, para acompanhar um irmão internado num
hospital. Na casa do irmão, onde
está hospedado, não há computador. Para se certificar de que as fotografias o retratam, ele precisou
ir até a casa de um sobrinho, localizada a 40 km de distância.
Ontem pela manhã, padre Leopoldo relatou uma outra forma de
constrangimento que disse tê-lo
vitimado durante o regime militar. Foi uma tentativa de envolvê-lo no caso da garota Ana Lídia
Braga, de sete anos, estuprada e
assassinada em Brasília, em setembro de 1973.
A família de Ana Lídia freqüentava sua paróquia. Os assassinos
nunca foram condenados.
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