São Paulo, Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2000


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Cearenses esperam patrocínio

da Agência Folha, em Icapuí (CE)

A idéia de fazer com que o Ceará seja reconhecido como o local da chegada de Pinzón une professores e historiadores que estudam o assunto no Estado.
Para os historiadores Geraldo Nobre e Francisco José Pinheiro, trata-se de admitir um fato comprovado com documentos históricos e que, até o momento, foi oficialmente ignorado.
"É importante que a história possa ser contada por completo, e não apenas aos pedaços, o que interessa aos colonizadores", afirma Nobre, considerado um dos maiores nomes da área no Estado.
"Até porque a história do Ceará começou tarde, só no século 17, por causa das terras improdutivas e das chuvas escassas; seria importante que esse pedaço da passagem dos espanhóis antes de Cabral, pouco divulgado, fosse mais conhecido", afirma.
Num dos locais onde Pinzón pode ter aportado pela primeira vez, a praia de Ponta Grossa (em Icapuí), a maioria dos 200 habitantes não sabe nada do assunto.
A prefeitura da cidade não pretende comemorar os 500 anos da chegada de Pinzón, em 26 de janeiro. "Só faremos alguma coisa se surgir um patrocínio", disse o secretário municipal de Turismo, Luís Oswaldo Santiago de Souza.
O que é certo, segundo ele, é a construção de um monumento na praia de Ponta Grossa em homenagem à data.
A praia continua praticamente da mesma forma como há 500 anos. Há apenas quatro anos recebeu energia elétrica e, há pouco mais de dois, passou a ter uma estreita estrada de terra para a chegada de turistas.
Logo na entrada da praia, uma placa avisa: "Gostamos de tranquilidade". Para evitar que essa "tranquilidade" seja ameaçada, os moradores formularam algumas regras, entre elas a de proibir que se venda terreno ou casa a uma pessoa de fora. "Aqui não existe especulação imobiliária, não tem prostituição, roubo. Queremos que o turista venha, mas apenas para passear", afirma o pescador Sadrak Pereira.
Dunas cercam a praia e, no mar, corais, algas e pedras dificultam a aproximação dos barcos em alguns trechos.
De acordo com o secretário Souza, ainda em 2000 duas ou três casas de pescadores serão adaptadas para receber turistas. "Vamos incrementar um pouco o turismo na região, mas de forma que não prejudique a preservação do ambiente e a população."

Presença de holandeses
Além da possibilidade de ter sido o primeiro porto de Pinzón no Brasil, outro fato histórico marca a cidade de Icapuí: logo após terem sido expulsos de Pernambuco, em 1654, alguns holandeses adotaram a região para viver. Até hoje, seus descendentes são facilmente reconhecidos na cidade.
Na praia de Ponta Grossa é comum ver pessoas com traços europeus. Além da percepção visual, a tese de que os holandeses radicaram-se em Icapuí é reforçada pelo fato de que diversos objetos antigos encontrados no meio das dunas são relacionados à Holanda de séculos atrás.
O pescador Josué Pereira trabalha, há 16 anos, escavando regiões da cidade atrás de indícios da presença dos holandeses na região. Ele guarda diversos utensílios com inscrições que atestam a origem em Amsterdã. A prefeitura planeja montar em breve um museu com os objetos. (KF)


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