São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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DANÇA DOS MINISTROS

Segundo Antônio Pitanga, marido da petista, Lula a demoveu da idéia; ex-ministra não concedeu entrevistas

Magoada, Benedita cogitou abandonar o PT

MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ministra da Assistência Social, Benedita da Silva, ficou tão magoada com a saída do governo que chegou a pensar em deixar o PT. O comunicado oficial da sua exoneração ocorreu na quarta-feira, em uma reunião rápida com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi ele quem a convenceu a desistir da idéia.
"[A hipótese de sair do PT] Foi uma emoção do momento, mas o próprio Lula a convenceu de que deveria ficar [no partido]. A Benedita é muito religiosa e tem um grau de tolerância que eu não tenho", afirmou o ator Antônio Pitanga, marido da ministra, que ontem se reuniu por duas horas com o deputado Patrus Ananias (PT-MG), futuro superministro da área social do governo.
Segundo assessores, Benedita se considerou injustiçada com a exoneração, porque avalia que o governo relevou o seu passado de dedicação ao partido.
Em 1998, ela renunciou a um mandato de mais quatro anos como senadora para ser vice do então candidato ao governo do Rio, Anthony Garotinho. Depois, em 2002, por pressão da direção nacional do partido, assumiu o governo do Rio em uma situação de extrema dificuldade financeira e foi candidata à reeleição a pedido de Lula. Ela preferia o Senado.
A Folha apurou que um dos motivos que levou Benedita a ficar no PT, por enquanto, foi a candidatura de Pitanga a vereador no Rio. Ela pretende se empenhar na campanha eleitoral do marido. Aliados acham que ela ainda mergulhará na campanha de candidatos a prefeitos do interior do Estado. Outro problema que levou a ministra a repensar a sua saída foi a falta de identidade com outro partido. Foi no PT que Benedita construiu toda a sua carreira política desde 1982.
Durante a semana, a ministra foi sondada sobre a possibilidade de ir para a Secretaria de Políticas para as Mulheres, mas recusou. Agora, deve tirar férias.
Demonstrando irritação após a cerimônia da demissão, Benedita se recusou a dar entrevistas. Sobre a eventual mágoa em deixar a pasta, disse aos jornalistas que "procurassem os novos ministros".
O humor de Benedita mudou do início até o final da cerimônia. Sorridente, recebeu abraço de Patrus. Da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ouviu "parabéns pelo trabalho". Também foi abraçada pela coordenadora do Bolsa-Família, Ana Fonseca, e pelo ex-ministro das Comunicações, Miro Teixeira (sem partido), que deixa o cargo para assumir a liderança do governo na Câmara.
O ápice de seu desgaste foi a viagem à Argentina, em 2003, para estar em encontro evangélico.
Para petistas, a ausência do Rio no ministério e a possibilidade da transferência de alguns órgãos federais para outros Estados podem repercutir negativamente na campanha eleitoral. "Não será dessa maneira que o partido vai prestigiar a candidatura do [deputado Jorge] Bittar [a prefeito do Rio]", disse o deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-MG).


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