São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2002

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GOVERNO GLOBAL

Documento de Estocolmo insiste em globalização "democrática"

Avanço da direita ameaça "velha turma" da Terceira Via

Sérgio Lima/Folha Imagem
Lionel Jospin (esq.) conversa com FHC durante entrevista coletiva, no encerramento da Conferência de Governança Progressistada


FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A ESTOCOLMO

A Conferência de Governança Progressista, mais conhecida como Terceira Via, terminou ontem em Estocolmo com menos força do que nos outros dois encontros do grupo, que se reúne regularmente desde 1999. O comunicado final é longo e fala em conceitos genéricos sobre "democratizar a globalização" e manter a "disciplina econômica" como condições para haver "justiça social".
Com sete páginas (1.981 palavras) e 23 recomendações, o documento final da cúpula pode ser lido na íntegra, em inglês, no site que o evento tem na internet: www.progressive.gov.se.
Neste encontro participaram 11 chefes de Estado e de governo de cinco continentes, inclusive o presidente Fernando Henrique Cardoso. Eles rejeitaram a idéia de que o grupo esteja em crise pelo fato de alguns representantes terem perdido poder em seus governos -como Bill Clinton, nos Estados Unidos, e Romano Prodi, na Itália. O centro e a centro-esquerda também saíram do governo em outros países recentemente -Espanha, Noruega, Bélgica e Áustria.

"Velha turma"
Até o final do ano, Brasil, Nova Zelândia, França, Alemanha e Suécia terão eleições e não há entre os participantes da Terceira Via a segurança de que o centro ou a centro-esquerda vencerá.
O jornal sueco de maior circulação, o "Dagens Nyheter", disse em sua reportagem sobre a cúpula de Estocolmo que seria "o último encontro da velha turma".
FHC e o primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, negaram enfaticamente que o grupo esteja em risco de extinção.
"Acho que tivemos êxito e nossa idéias são muito consideradas hoje em dia", disse Blair na entrevista concedida por todos os participantes no final da manhã de ontem. Para ele, há um consenso hoje de que temas como terrorismo, mudanças no clima e reformulação do sistema financeiro internacional devem ser tratados de forma conjunta e global.
FHC disse que no Brasil é difícil encontrar "alguém que queira ser classificado como conservador". Seria uma prova de que o pensamento de centro e de centro-esquerda da Terceira Via está em ascensão, não em declínio.
Em resumo, a proposta do grupo é aproveitar os benefícios da sociedade de mercado e conjugá-los com um estilo de governo mais focado em questões sociais.
Essa definição vaga e com pouca penetração no estilo de governo de vários países sempre recebeu críticas. Por essa razão, o documento final do encontro de Estocolmo tenta avançar um pouco em relação aos anteriores.

Lista prática
Desta vez, foi anunciada a lista de "melhores práticas para a Governança Progressista". Trata-se de uma rede que será montada entre os técnicos dos países interessados para que haja intercâmbio das experiências bem-sucedidas em cada um.
O Brasil colaborará apresentando suas experiências no combate e prevenção à Aids e com o programa Bolsa-Escola.
O principal objetivo dos participantes da Terceira Via é fazer uma demonstração política a respeito das idéias que defendem. "Nós não vamos abandonar nosso compromisso com a disciplina e competência econômica, que é a condição para haver justiça social" é o primeiro ponto do comunicado conjunto.
Mais adiante: "Nós rejeitamos o dogma do livre mercado, mas em nome de buscar mais e melhores empregos nós vamos buscar reformas que abram os mercados, investir em conhecimento e promover inclusão social por meio de políticas mais ativas no mercado de trabalho".
Uma das novidades deste ano foi o anúncio de que o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton aceitou uma missão do grupo da Terceira Via para coordenar um trabalho que identificará "os passos necessários a serem tomados pela comunidade internacional e pelos povos e governos africanos" para resolver problemas crônicos de baixo crescimento, educação e saúda na África.

Próximo encontro
O próximo encontro da Terceira Via não tem data certa ainda, mas já se sabe que será em 2003 e o país hospedeiro será o Reino Unido.
Além de FHC, eis a lista de participantes do encontro de Estocolmo: Jean Chrétien (primeiro-ministro do Canadá), Ricardo Lagos (presidente do Chile), Lionel Jospin (primeiro-ministro da França), Gerhard Schröder (chanceler da Alemanha), Helen Clark (primeira-ministra da Nova Zelândia), Aleksander Kwasniewski (presidente da Polônia), Antonio Guterres (primeiro-ministro de Portugal), Thabo Mbeki (presidente da África do Sul), Göran Persson (primeiro-ministro da Suécia) e Tony Blair (primeiro-ministro do Reino Unido).
A idéia inicial era que 14 participassem. Mas os representantes da Coréia, Grécia e Holanda não compareceram. FHC sai de Estocolmo no final da manhã de hoje com destino à Polônia, onde visita Varsóvia e Cracóvia e participa de encontros com empresários.


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