São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

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Ministro deve depor no Congresso, diz Suplicy

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O senador petista Eduardo Suplicy (SP) disse ontem que o PT "não é feito nem de santos nem de anjos" e voltou a defender que o ministro José Dirceu (Casa Civil) deponha no Congresso sobre as denúncias que envolvem seu ex-assessor Waldomiro Diniz.
""Ainda que não fosse filiado ao PT, Waldomiro tinha um cargo de grande responsabilidade designado por um ministro [Dirceu]. Logo, existe a responsabilidade do ministro no caso", disse.
Suplicy, que foi a Washington expor suas propostas sobre renda mínima, citou o ex-secretário de Defesa norte-americano Robert McNamara (1961-1968) como exemplo a ser seguido por Dirceu.
McNamara, 87, é objeto de um documentário de sucesso hoje nos EUA, "The Fog of War", onde aparece em depoimentos no Congresso para explicar seus argumentos e erros em relação à Guerra do Vietnã, que matou mais de 58 mil americanos. "McNamara passou mais de 120 horas dando explicações ao Congresso. Foi um homem que teve a responsabilidade de ir à público explicar um caso complicado ", declarou.
Questionado se o caso Waldomiro poderia se tornar "o Vietnã do PT", Suplicy afirmou: "O episódio se tornou bastante grave para o partido". "A sugestão do depoimento tem o propósito de levar o PT a agir de forma completa e exemplar", disse. Mas, segundo ele, Dirceu "ainda não tomou uma decisão" a esse respeito.
O pedido para que Dirceu vá à comissão conjunta de Fiscalização e Justiça foi feito por Suplicy após o estouro do caso Waldomiro: "Ouvi do próprio Dirceu que ele estava surpreso com o comportamento de uma pessoa [Waldomiro] em quem confiava. E foi confiando na integridade do ministro que formulei a sugestão do depoimento". Suplicy diz que agiu "de boa fé" e que a sugestão do depoimento "nada tem a ver" com disputas internas no partido.
Questionado se estaria sendo pressionado pelo PT com a eventual perda do direito para concorrer à reeleição ao Senado em 2006, Suplicy afirmou que, "se alguém estiver disposto a disputar a vaga, não me incomodarei em fazer uma prévia, assim como fiz no caso da Presidência da República".

Luz amarela
As acusações contra Waldomiro Diniz "acenderam a luz amarela" no PT, disse o presidente nacional do partido, José Genoino.
"Esse episódio está sendo um aprendizado muito rico para o PT. Houve um crime de extorsão praticado pelo Waldomiro mas não há caso de corrupção no governo. Mesmo assim acendeu a luz amarela, temos que tomar cuidado com quem nos reunimos e com quem conversamos", disse.
Genoino defendeu a atuação da bancada do partido no Congresso em defesa do governo. "Pode ter havido exageros, mas foi bom para o PT ir para o ataque. É uma questão apenas de azeitar a tática, tem que ter cuidado com a maneira de se pronunciar", disse.


Colaborou FERNANDA KRAKOVICS, da Sucursal de Brasília


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