São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

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Waldomiro fica quieto e tranqüiliza governo

FERNANDO RODRIGUES
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-assessor do Palácio do Planalto Waldomiro Diniz tem mantido comunicação indireta com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Os contatos são feitos por meio de amigos comuns. Waldomiro tem emitido sinais de que sua estratégia pode ser a de não prestar depoimento no âmbito dos inquéritos e investigações instaladas em diversas instâncias.
A estratégia cogitada por Waldomiro é a de falar apenas em juízo, quando eventualmente for chamado a depor por algum juiz. Se for chamado pelo Congresso, poderá ficar em silêncio.
O governo já trabalha com a hipótese de eventual depoimento de Waldomiro ao Senado, na Comissão de Fiscalização e Controle -caso dê certo a estratégia adotada até aqui de abafar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) específica sobre o caso.
Ou seja, há possibilidade de Waldomiro ficar até meses sem dar alguma declaração pública sobre o episódio em que foi flagrado pedindo doações para campanhas políticas e propina para si próprio.
A estratégia foi usada pelo ex-presidente do Banco Central Chico Lopes que, em 1999, se recusou a dar declarações numa CPI que investigava, entre outros fatos, o episódio da desvalorização do real em janeiro de daquele ano. Na ocasião, Lopes tinha como advogado Luiz Guilherme Martins Vieira, o mesmo que hoje presta serviços a Waldomiro.
Logo depois que o escândalo envolvendo Waldomiro ficou público, foi difícil convencer o ex-assessor de Dirceu a ficar calado. Sua intenção era falar mais com a imprensa, para dar a versão do que considerava ser seu entendimento dos fatos.
Quando deu uma entrevista à revista "Época", no dia 19 passado, Waldomiro não havia ainda assistido a fita de vídeo em que aparece pedindo dinheiro a Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, empresário do setor de jogo. Contou o que se lembrava sem saber exatamente como seria o teor da reportagem.
Os sinais emitidos por Waldomiro têm tranquilizado o governo. O maior temor da cúpula petista no Palácio do Planalto era o de que o ex-assessor pudesse continuar a falar abertamente sobre suas atividades.
Waldomiro também recebeu indicação de que não será abandonado pelos seus antigos superiores -desde que assuma a responsabilidade pelas irregularidades e se mantenha em silêncio.
Publicamente, o governo não fala sobre o assunto e a maneira como tem sido a comunicação indireta com Waldomiro. Para consumo externo, José Dirceu continua surpreso com todas as atividades ilícitas reveladas até agora. Interlocutores do ministro buscam dar a impressão de que o chefe da Casa Civil continua a se sentir traído pelo ex-assessor.
Do lado de Waldomiro, o seu advogado, Luiz Guilherme Martins Vieira, declara que ainda não recebeu nenhum pedido para que seu cliente preste depoimento.


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