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Coronel diz que Funai foi "folha negra na vida"
DO ENVIADO A BRASÍLIA
Presidente da Funai entre 1981 e 1983, o coronel-aviador reformado Paulo
Moreira Leal, 94, disse que
sua passagem pelo órgão
foi "uma folha negra na vida" e não quis fazer mais
comentários. Ele foi procurado para falar sobre as
funções da ASI, o braço do
SNI (Serviço Nacional de
Informações) no órgão indigenista. "Não queria voltar a esse assunto [Funai]
porque o sr. sabe, magoou
muito a gente. É a vida",
disse o coronel.
Documentos da ASI
mostram que a gestão de
Leal reatou as relações
com indigenistas críticos à
ditadura e fez uma distensão com o Cimi, ligado à
Igreja Católica. Em 1981,
Leal voltou a autorizar a
entrada de missionários
em áreas indígenas.
Chefe do escritório do
SNI em Manaus (AM) no
final da década de 70, o coronel reformado do Exército Delcy Gorgot Doubrawa, 79, mandou ofícios à
Funai, em 1979, para pedir
informações à ASI da Funai sobre assembleia indígena no Amazonas. "Eu
trabalhava em Manaus,
que era o ponto central. E
os comandantes dessas
unidades de fronteira nos
abasteciam com informações. Mas, no meu período, ali, não houve atritos."
Doubrawa não se recordou do ofício. "Não me
lembro, mas se o sr. está
lendo, realmente o documento foi expedido. É que
a Funai tinha mais contato, mais informações, e
nós nos valíamos também
dos dados da Funai, pois
eram dados confiáveis."
O general-de-divisão reformado Francisco Batista
Torres de Melo, 84, disse
não se recordar do pedido
feito pelo então presidente da Funai, general Ismarth de Araújo Oliveira,
para que infiltrasse um
militar entre os salesianos.
Melo disse que a própria
Igreja Católica "tomou
providências" contra a
parte do "clero à esquerda". "Você viu que a santa
igreja foi em cima deles,
"não pode ser assim". A
santa doutrina da igreja
está acima dos homens."
Alvos
O padre Antônio Iasi,
89, cofundador do Cimi,
foi dos mais vigiados pela
Funai nos anos 70. "De
início, o Ismarth autorizou o trabalho do Cimi nas
aldeias, mas quando percebeu que fazíamos relatórios para a imprensa, ele
cortou completamente a
autorização. Nós continuamos a fazer o trabalho
clandestinamente, e a situação ficou tensa", relembrou Iasi. Os relatórios
descreviam as más condições de saúde e alimentação nas aldeias.
O bispo dom Tomás Balduíno, 73, outro cofundador do Cimi, descrito em
relatórios da Funai como
"subversivo", ironizou a
palavra. "De certa forma
era verdade mesmo, nós
fazíamos a subversão nas
aldeias porque o índio começava a despertar para
seus problemas. Quando o
Cimi chegou, foi uma
transformação radical.
Eles [índios] começaram a
buscar a recuperação de
suas terras e de sua cultura", disse o bispo.
(RV)
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