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PROFISSÃO DE FÉ
Governador deixa governo no dia 4 de abril em ato religioso semelhante ao que marcou sua posse, em 1999
Garotinho "mira" evangélicos para crescer
MARCELO BERABA
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
O governador Anthony Garotinho (PSB) repetirá, em 4 de abril,
quando deixa o governo do Rio
para disputar a eleição para a Presidência da República, o ato religioso evangélico que marcou sua
posse, em 1º de janeiro de 1999.
Será um culto de agradecimento
e, mais do que naquela época,
uma demonstração da força que
conquistou entre os pentecostais.
Com índices de intenção de voto que variam, conforme o instituto e de acordo com o cenário,
entre 13% e 16%, a cúpula da campanha do governador calcula que
pode crescer ainda cinco pontos
percentuais apenas ampliando os
votos entre os evangélicos que
ainda não sabem que ele é candidato e religioso.
É isso que projeta a continuidade do crescimento da candidatura. Quinta-feira, Garotinho calculou que chega em agosto com
20% das intenções de voto, o que
o colocaria numa situação confortável para disputar com Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) -esta é
a estratégia-, a primazia de enfrentar o candidato do governo
no segundo turno.
Pesquisa feita pelo Ibope em dezembro a pedido do governador
mostra que 52% dos que se dizem
evangélicos não conheciam Garotinho ou o conheciam vagamente.
É um indicador de que ele ainda
pode crescer muito no segmento,
à medida que se fizer conhecido.
Garotinho tem hoje por volta de
26% dos votos evangélicos e acha
que pode chegar a 50%, o que significaria, pelos seus cálculos, 10%
do eleitorado nacional.
Na posse, em 1999, os jardins do
Palácio Guanabara, a sede do governo, foram tomados por 7.000
pessoas que assistiram a um show
com 40 cantores evangélicos. O
próprio Garotinho, ajoelhado,
cantou músicas religiosas.
O dia seguinte
O terremoto Roseana Sarney
-pré-candidata do PFL à Presidência- que fez estremecer a base governista e afetou até a candidatura oposicionista de Lula (que
caiu de 30% em janeiro para 25%
em março) não alterou o ritmo de
crescimento da candidatura do
governador do Rio.
O programa eleitoral gratuito de
13 de dezembro e os comerciais
veiculados na TV ao longo de janeiro elevaram os índices de intenção de voto de 9% em novembro para 15% em março, segundo
o Datafolha e num cenário ainda
com a pré-candidatura do governador de Minas Gerais, Itamar
Franco (PMDB).
Desde então, o governador tem
aparecido apenas em comerciais
regionais do PSB (poucos e apenas em alguns Estados), em programas populares das TVs abertas e nas rádios, principalmente
nas evangélicas. A cúpula da campanha se prepara para o dia seguinte da renúncia ao governo do
Rio. Três problemas a preocupam. O primeiro, será o de convencer a imprensa e o eleitorado
de que o PSB manterá a candidatura de Garotinho à Presidência.
A desconfiança já pode ser percebida em reportagens e análises
na imprensa, mas advém de dúvidas de dentro do próprio PSB, que
discute a candidatura com um lápis na mão, tentando calcular as
consequências de uma campanha
sem coligações fortes. Há quem
tema, dentro do partido, que o
vôo solo resulte em fracasso nas
eleições legislativas.
Antes da decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que verticalizou as coligações partidárias,
o PSB pretendia eleger pelo menos 50 deputados federais -em
1998, foram 18. Com a verticalização, o partido espera fazer uma
bancada de, pelo menos, 25.
As principais resistências à candidatura própria vêm de São Paulo e do Rio Grande do Sul. A deputada Luiza Erundina (PSB-SP)
acha que, se a decisão do TSE não
for reformulada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), a esquerda
não terá outra alternativa se não a
de se unir, como em 1998, caso
queira fazer uma grande bancada
federal. Garotinho e a cúpula do
PSB garantem, porém, que a campanha é para valer e que não há
recuo possível.
TV e viagens
Outro problema é o tempo de
televisão no horário eleitoral gratuito. "Com menos de dois minutos é impossível fazer qualquer
campanha eleitoral", diz o publicitário Elysio Pires, que cuida do
marketing político de Garotinho.
Hoje, o PSB tem apenas 1 minuto e 16 segundos, mas os socialistas apostam que chegarão a 2 minutos e 40 segundos, com a desistência do PFL de ter um candidato
a presidente. Nesse caso, o tempo
de televisão do PFL será dividido
pelos partidos que apresentarem
candidato.
"Teremos ainda alguns segundos de três dos oito partidos pequenos com representação no
Congresso que deverão fechar conosco", afirma o líder do PSB na
Câmara, deputado José Antônio
Almeida (MA).
O terceiro problema é o da exposição pública. Como manter o
pré-candidato em evidência a
partir do dia 5 de abril, quando terá deixado o governo do Estado, e
até junho, quando se realiza a
convenção do PSB e estará aberta
a campanha oficial?
Segundo Elysio Pires, aumenta
a aceitação da candidatura e o índice de intenção de voto cresce à
medida que Garotinho se expõe.
Para mantê-lo em evidência
neste período, a campanha conta
com o programa eleitoral gratuito
de dez minutos que vai ao ar no
dia 16 de maio, as inserções de comerciais regionais que ainda devem ocorrer em alguns poucos
Estados até o início de maio, viagens (principalmente para o Norte e o Nordeste, onde ele ainda é
pouco conhecido), participação
em programas de televisão e de
rádio e uma atenção grande para
o segmento evangélico.
Segundo Pires, o governador
tem a seu favor, em relação a Lula,
alguns pontos. Sua candidatura
ainda representa uma novidade
-o que também beneficiava Roseana Sarney até ela ser bombardeada. Garotinho tem, segundo o
último levantamento do Ibope
(que entrevistou 2.000 eleitores
entre 14 e 18 de março), o menor
índice de rejeição (41%) entre os
pré-candidatos. E é, ao lado de Ciro Gomes (PPS), um dos candidatos menos conhecidos, o que lhe
permite crescer à medida que for
se expondo.
Pires espera que esse crescimento se dê de forma consistente.
"Não importa que o ritmo seja
lento e gradual, desde que seja
constante e seguro", disse.
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