São Paulo, domingo, 24 de março de 2002

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PROFISSÃO DE FÉ

Governador deixa governo no dia 4 de abril em ato religioso semelhante ao que marcou sua posse, em 1999

Garotinho "mira" evangélicos para crescer

MARCELO BERABA
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO

MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

O governador Anthony Garotinho (PSB) repetirá, em 4 de abril, quando deixa o governo do Rio para disputar a eleição para a Presidência da República, o ato religioso evangélico que marcou sua posse, em 1º de janeiro de 1999. Será um culto de agradecimento e, mais do que naquela época, uma demonstração da força que conquistou entre os pentecostais.
Com índices de intenção de voto que variam, conforme o instituto e de acordo com o cenário, entre 13% e 16%, a cúpula da campanha do governador calcula que pode crescer ainda cinco pontos percentuais apenas ampliando os votos entre os evangélicos que ainda não sabem que ele é candidato e religioso.
É isso que projeta a continuidade do crescimento da candidatura. Quinta-feira, Garotinho calculou que chega em agosto com 20% das intenções de voto, o que o colocaria numa situação confortável para disputar com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) -esta é a estratégia-, a primazia de enfrentar o candidato do governo no segundo turno.
Pesquisa feita pelo Ibope em dezembro a pedido do governador mostra que 52% dos que se dizem evangélicos não conheciam Garotinho ou o conheciam vagamente. É um indicador de que ele ainda pode crescer muito no segmento, à medida que se fizer conhecido. Garotinho tem hoje por volta de 26% dos votos evangélicos e acha que pode chegar a 50%, o que significaria, pelos seus cálculos, 10% do eleitorado nacional.
Na posse, em 1999, os jardins do Palácio Guanabara, a sede do governo, foram tomados por 7.000 pessoas que assistiram a um show com 40 cantores evangélicos. O próprio Garotinho, ajoelhado, cantou músicas religiosas.

O dia seguinte
O terremoto Roseana Sarney -pré-candidata do PFL à Presidência- que fez estremecer a base governista e afetou até a candidatura oposicionista de Lula (que caiu de 30% em janeiro para 25% em março) não alterou o ritmo de crescimento da candidatura do governador do Rio.
O programa eleitoral gratuito de 13 de dezembro e os comerciais veiculados na TV ao longo de janeiro elevaram os índices de intenção de voto de 9% em novembro para 15% em março, segundo o Datafolha e num cenário ainda com a pré-candidatura do governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB).
Desde então, o governador tem aparecido apenas em comerciais regionais do PSB (poucos e apenas em alguns Estados), em programas populares das TVs abertas e nas rádios, principalmente nas evangélicas. A cúpula da campanha se prepara para o dia seguinte da renúncia ao governo do Rio. Três problemas a preocupam. O primeiro, será o de convencer a imprensa e o eleitorado de que o PSB manterá a candidatura de Garotinho à Presidência.
A desconfiança já pode ser percebida em reportagens e análises na imprensa, mas advém de dúvidas de dentro do próprio PSB, que discute a candidatura com um lápis na mão, tentando calcular as consequências de uma campanha sem coligações fortes. Há quem tema, dentro do partido, que o vôo solo resulte em fracasso nas eleições legislativas.
Antes da decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que verticalizou as coligações partidárias, o PSB pretendia eleger pelo menos 50 deputados federais -em 1998, foram 18. Com a verticalização, o partido espera fazer uma bancada de, pelo menos, 25.
As principais resistências à candidatura própria vêm de São Paulo e do Rio Grande do Sul. A deputada Luiza Erundina (PSB-SP) acha que, se a decisão do TSE não for reformulada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), a esquerda não terá outra alternativa se não a de se unir, como em 1998, caso queira fazer uma grande bancada federal. Garotinho e a cúpula do PSB garantem, porém, que a campanha é para valer e que não há recuo possível.

TV e viagens
Outro problema é o tempo de televisão no horário eleitoral gratuito. "Com menos de dois minutos é impossível fazer qualquer campanha eleitoral", diz o publicitário Elysio Pires, que cuida do marketing político de Garotinho.
Hoje, o PSB tem apenas 1 minuto e 16 segundos, mas os socialistas apostam que chegarão a 2 minutos e 40 segundos, com a desistência do PFL de ter um candidato a presidente. Nesse caso, o tempo de televisão do PFL será dividido pelos partidos que apresentarem candidato.
"Teremos ainda alguns segundos de três dos oito partidos pequenos com representação no Congresso que deverão fechar conosco", afirma o líder do PSB na Câmara, deputado José Antônio Almeida (MA).
O terceiro problema é o da exposição pública. Como manter o pré-candidato em evidência a partir do dia 5 de abril, quando terá deixado o governo do Estado, e até junho, quando se realiza a convenção do PSB e estará aberta a campanha oficial?
Segundo Elysio Pires, aumenta a aceitação da candidatura e o índice de intenção de voto cresce à medida que Garotinho se expõe.
Para mantê-lo em evidência neste período, a campanha conta com o programa eleitoral gratuito de dez minutos que vai ao ar no dia 16 de maio, as inserções de comerciais regionais que ainda devem ocorrer em alguns poucos Estados até o início de maio, viagens (principalmente para o Norte e o Nordeste, onde ele ainda é pouco conhecido), participação em programas de televisão e de rádio e uma atenção grande para o segmento evangélico.
Segundo Pires, o governador tem a seu favor, em relação a Lula, alguns pontos. Sua candidatura ainda representa uma novidade -o que também beneficiava Roseana Sarney até ela ser bombardeada. Garotinho tem, segundo o último levantamento do Ibope (que entrevistou 2.000 eleitores entre 14 e 18 de março), o menor índice de rejeição (41%) entre os pré-candidatos. E é, ao lado de Ciro Gomes (PPS), um dos candidatos menos conhecidos, o que lhe permite crescer à medida que for se expondo.
Pires espera que esse crescimento se dê de forma consistente. "Não importa que o ritmo seja lento e gradual, desde que seja constante e seguro", disse.



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