São Paulo, domingo, 24 de março de 2002

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Para Jungmann, ação é "ato de terrorismo"

DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) chamou de "terrorismo", "bandoleirismo" e "crime" a invasão da fazenda dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso por integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Segundo ele, o governo espera que a Justiça puna exemplarmente os responsáveis pela invasão.
"Não estamos diante de nenhuma situação aguda que pudesse justificar o injustificável. Esse é um ato de terrorismo, que alcança a instituição da Presidência da República, que é um bem de todos os brasileiros. Todos os brasileiros tiveram simbolicamente as suas casas invadidas, ocupadas e violadas", disse o ministro.
Jungmann afirmou que não se pode relacionar a pauta de reivindicações com o ato da invasão. "Não se pode fazer nenhuma correlação. Seria aceitar, por exemplo, que, aquele que mata, assalta, viola, tortura e sequestra tem motivo para fazê-lo. Isso é moral e eticamente inaceitável."
O ministro, que estava em Recife no momento da invasão, voltou a Brasília para participar de reunião com o ministro Alberto Cardoso (Gabinete de Segurança Institucional) e o presidente FHC. Às 18h, seguiu para a fazenda Córrego da Ponte, em Buritis (MG).
O general Cardoso disse que o pedido para a retirada dos invasores foi feito ao juiz de Buritis pelo advogado da família de FHC.
Segundo ele, já havia uma decisão judicial proibindo a invasão da fazenda e que, por isso, foi um duplo delito. "Não só [houve" o desrespeito à propriedade como também o desrespeito à uma ordem judicial", afirmou Cardoso.
Por causa da decisão anterior, tecnicamente, a ação movida foi um pedido de manutenção de posse e não de reintegração de posse. O general Cardoso afirmou que, após a solução do conflito, será investigado o motivo pelo qual o serviço de inteligência não detectou o risco de invasão.
"Eles [sem-terra] estavam em plena conversação, acertando os detalhes de cooperação. Não estavam mobilizados. Estavam ali para negociações com o Incra", disse. Para concluir que o ato não se tratava de questão fundiária, Jungmann afirmou que as reivindicações dos sem-terra têm sido resolvidas e que há processo de negociação sobre pontos da pauta apresentada na quinta passada e ampliada anteontem.
O ministro afirmou ainda que os invasores "têm terra, crédito e uma situação acima da média" do trabalhador brasileiro.
Ao contrário do ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, que responsabilizou o PT pela invasão, Jungmann limitou a responsabilidade ao MST ao ser questionado sobre o que estaria por trás do ato.
"Quem está por trás é a falta de respeito, o fracionamento, o ocaso e o desligamento do MST da realidade do desejo nacional. É lamentável que o movimento descambe para o terrorismo, o bandoleirismo e o crime."



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