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EM DISPUTA
Presidente da agência ataca cortes de recursos e medida provisória
Aneel faz crítica aberta ao governo
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Aneel (Agência Nacional de
Energia Elétrica) resolveu fazer
críticas abertas ao governo federal. O alvo do descontentamento
da agência foram os cortes no Orçamento e as medidas provisórias
que estabeleceram critérios para
formar quadro de pessoal das
agências reguladoras.
As críticas foram feitas pelo presidente da agência, José Mário
Abdo, em entrevista coletiva concedida com outros três diretores.
Segundo os diretores, o governo
federal está usando o dinheiro pago pelos consumidores na conta
de luz, que deveria ser usado apenas para financiar a agência, para
fazer superávit ou evitar o corte de
despesas em outras áreas.
Geralmente discreto, Abdo ocupa o cargo desde que a agência
existe, mas seu mandato acaba
em dezembro. Segundo ele os
cortes feitos vão afetar os serviços
de fiscalização da Aneel.
"Isso é grave, gravíssimo", disse.
"Se há esforço para fortalecer as
agências, medidas dessa natureza
têm efeito contrário", afirmou.
Segundo ele, foi o maior corte de
Orçamento na história da agência, criada em 1997.
O Orçamento proposto pela
agência foi de R$ 176 milhões (fora os gastos com pessoais). Depois de passar pelo Congresso,
houve redução para R$ 136 milhões. Novo contingenciamento
feito pelo governo deixou o Orçamento em R$ 86 milhões.
De acordo com Abdo, os consumidores poderão ir à Justiça contra o contingenciamento. "É paradoxal ser contingenciado. É recurso arrecadado do consumidor.
Esse dinheiro não vem do Tesouro, vem do consumidor", disse
Abdo. "Temos parecer da Procuradoria Geral da Aneel, ligada a
AGU [Advocacia Geral da União],
pela ilegalidade do contingenciamento", disse. "Isso poderá dar
margem para que os consumidores se insurjam contra o contingenciamento", afirmou.
A Aneel é financiada pela Taxa
de Fiscalização, cobrada dos consumidores na conta de luz, e que
equivale a aproximadamente
0,5% do valor da conta. Ano passado, foram arrecadados cerca de
R$ 200 milhões com a cobrança
da taxa. Abdo falou com jornalistas após evento no qual foi divulgada pesquisa sobre a qualidade
dos serviços das distribuidoras.
Outros diretores também opinaram sobre os cortes e seus efeitos. "Estamos vendendo o futuro
para sobreviver hoje", disse
Eduardo Ellery, diretor da agência. Isaac Averbuch, outro diretor,
afirmou: "Ao contingenciar os recursos da Aneel, o governo deixa
de economizar em outras áreas
para fazer superávit. Na prática, o
governo está fazendo uma transferência com o dinheiro pago pelos consumidores".
Além dos problemas de corte no
Orçamento, houve críticas à medida provisória que regulamenta
o quadro de pessoal das agências.
Uma das principais críticas em relação ao projeto é uma perda salarial, estimada pelos diretores em
aproximadamente 40%, para
quem está hoje no topo da carreira. Isso porque os atuais funcionários teriam de prestar concurso
e só poderiam ser admitidos pela
remuneração inicial da carreira.
A Folha procurou, por meio das
assessorias, os ministérios de Minas e Energia, Planejamento e a
Casa Civil. Os ministérios não
quiseram comentar as críticas.
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