São Paulo, domingo, 24 de maio de 1998

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Elivelton, 14, deixa escola para ser peão

do enviado especial

Elivelton Soares dos Santos, 14, deixou a escola para virar peão de fazenda. Seu "gato" é o próprio pai, José Soares dos Santos, o Zé do Nô, morador de São Félix do Xingu, acima do rio Fresco.
A tarde já vai se acabando, num belo pôr-do-sol, e então Elivelton já largou o serviço de derrubada -é o sétimo alqueire dos dez que sua turma vai fazer na Fazenda do Garibaldo- e foi se alojar no barraco de madeira e lona que é sua casa temporária.
"Ele é novinho, mas trabalha duro que nem a gente", diz Cleidson de Oliveira, 23, igualmente peão. São ambos foiceiros -os que "limpam" a mata depois que a motoserra faz o seu estrago.
"Bom mesmo não está não", diz o tímido Elivelton numa clareira "ornamentada" por um recém-derrubado "escorrega-macaco", um pau grosso, de casca esbranquiçada, agora esperando a hora do fogo, como toda a derrubada em volta. "O problema é que não dá para arrumar um outro emprego", diz Cleidson.
"Por aqui a gente derruba e mete fogo em tudo", conta, a alguns quilômetros dali, a fazendeira Flor de Liz Borges Costa, dona Fininha, 47. Ela mora em Colinas, Tocantins, mas agora está na Fazenda Sertãozinho, 1.100 alqueires e 4.000 bois nessa nova frente de desmatamento do Iriri, onde só trafegam veículos traçados.
A placa da sede da propriedade informa que a fazenda é de "Carneiro". Mas a simpatia de dona Fininha, servindo um delicioso requeijão caseiro, informa que "Carneiro" é o seu marido, Oilon Jorge da Costa, 61, dono de mais três propriedades no Tocantins.
A Folha tem informações seguras de que há uma grande derrubada naquela vastidão -"Carneiro", afinal, está formando a fazenda, e há muito pasto a semear (depois da queima, de avião).
Mas dona Fininha, desconfiada que a equipe seja do Ibama, garante que não. "Aqui já teve muito peão, mas foi na primeira derrubada, de dois anos atrás", diz. O "gato" era o Chichico, do Tocantins, "mas nunca houve problemas, porque o meu marido dá assistência e não deixa acontecer".
Não muito longe dali, uma turma de sete peões fazia aceiro de cerca (para evitar incêndios), na Fazenda de dona Fininha. Antônio Pereira dos Santos, o "gato", conta que fez o acerto com o gerente Evaldo, a R$ 70,00 o quilômetro, cativo de tudo.
O serviço ainda está no começo, mas Antônio já diz que não vai dar pra continuar. "Está barato demais; se ele não aumentar eu paro." É uma empreita pequena essa do aceiro. "A grande mesmo está aí dentro da fazenda. O "gato' Adonias, de Xinguara, trouxe muita gente."
Adonias, Ari, Miltão, Zé Carlos e Jurandir -uns de Xinguara, outro da Taboca (um povoado do Iriri)- são os "gatos" maiores que estão abastecendo de peões as fazendas da região.
Carneiro, Mundial, Belauto, Divino da Serraria, Rodolfo da Ruralista, Rochinha - é assim que os peões denominam as fazendas que estão tocando grandes empreitadas na região do Iriri.



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