São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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SALÁRIO PETISTA

Ministro negociou apoio de Sarney em troca de empenho a favor da reeleição dele e do presidente da Câmara

Vitória deve devolver articulação a Dirceu

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A vitória do governo na Câmara dos Deputados, capitaneada pelo presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP), abre espaço para a volta da emenda constitucional que permitiria a reeleição dele e do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). E cai como uma luva nos planos do ministro José Dirceu (Casa Civil) de retomar a articulação política.
Dirceu, em conversa com Sarney anteontem à tarde no Senado, prometeu empenho para o governo aprovar a emenda da reeleição no Congresso. Para tanto, pediu um sinal de boa vontade. Não deu outra. O grupo de deputados ligados a Sarney votou a favor do mínimo de R$ 260.
Foi o contrário do que fizeram os senadores ligados ao peemedebista. Interessado em retaliar o governo federal por não ter apoiado a primeira tentativa de aprovar a emenda da reeleição, o presidente do Senado deixou senadores ligados a ele votarem pelo mínimo de R$ 275, contra o governo.
Dirceu pediu "calma" a Sarney para reapresentar a emenda da reeleição. O presidente Lula deverá apoiá-la, como preço para apaziguar sua base congressual. A emenda original, já que um substitutivo foi rejeitado na Câmara, seria apreciada na Casa. No Senado, seria modificada e retornaria à Câmara. Nas três etapas, a aprovação da emenda exige dois turnos em cada Casa e apoio mínimo de 308 dos 513 deputados federais e de 49 dos 81 senadores (três quintos dos parlamentares).
A "calma" pedida por Dirceu é tempo para Lula fazer rearranjo de poder. O mais provável é nova reforma ministerial após as eleições municipais de outubro. Até lá, costuraria compensações aos ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política) e José Viegas (Defesa) e ao líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL).
O ministro da Casa Civil se enfraqueceu depois que foi revelado o caso Waldomiro Diniz. Ex-braço direito de Dirceu, ele foi flagrado em fita de vídeo de 2002 pedindo propina a um empresário do ramo de jogos. Na época, presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro). O escândalo veio à tona em fevereiro último, e Waldomiro foi exonerado "a pedido".

Dirceu jogou duro
Duas semanas atrás, Lula tendia a trocar Viegas por Aldo, devolvendo a Dirceu a articulação política. Mas o vazamento da operação a adiou.
História: no último dia 8, em conversa a sós com Lula, Dirceu reclamou que estava sendo "sacaneado" por setores do governo. Ameaçou deixar o cargo para presidir a Câmara dos Deputados a partir de fevereiro de 2005.
Como Lula não deseja que Dirceu vá contrariado para a Câmara, prometeu devolver-lhe a articulação política -atribuição perdida na reforma ministerial de janeiro. Com Aldo na Defesa, Viegas ganharia uma embaixada.
Lula gosta de Aldo, mas a cúpula do PT, controlada por Dirceu, quer retomar a articulação política (leia-se emendas e cargos). Isso interessa a Sarney e a outros líderes, como o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que elegeram Dirceu seu grande interlocutor com o governo.
Lula deverá compensar Renan, que cobra o cumprimento de um acordo pelo qual sucederia Sarney a partir de fevereiro de 2005. O mais provável é Renan virar ministro ou indicar um.
Alternativa: a nova e distante promessa de ele presidir o Senado no caso de o presidente se reeleger em 2006.


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