São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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Aumento não faz diferença, diz primo de Lula

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

José Albero Ferreira, 57, é gari em Garanhuns, cidade do agreste de Pernambuco. Trabalha das 7h às 17h e só tem folga nos domingos. Ganha um salário mínimo por mês, dinheiro que sustenta sete pessoas -ele, a mulher e os cinco filhos.
No meio de tantas outras famílias no país que vivem com um salário mínimo, o caso de Bero, como é mais conhecido, chama a atenção porque ele é primo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Suas mães eram irmãs.
"Com esse salário, a situação é difícil. Sempre fico devendo para alguém no fim do mês. Tenho que pagar aos pouquinhos", conta ele, que estudou só até a quarta série do ensino fundamental e trabalha desde os 7 anos.
Para Bero, o aumento de R$ 20 que o presidente Lula deu ao salário mínimo por meio de uma medida provisória no mês passado (passou de R$ 240 para R$ 260) e que foi confirmado ontem pela Câmara dos Deputados, "não faz diferença". Diz que o reajuste não ajuda nem a comprar a geladeira que falta em casa.
Mesmo assim, ele não critica o primo presidente por ter trabalhado para que o mínimo de R$ 275 aprovado no Senado caísse na Câmara para R$ 260.
"Lula está certo. Se aumentar muito o salário num dia, os preços disparam no outro e a coisa fica mais difícil."
Bero varre ruas e capina terrenos baldios para uma empresa contratada pela Prefeitura de Garanhuns. A mulher planta feijão e mandioca nos fundos de casa. O que ela colhe só é suficiente para a família. Os cinco filhos estudam. A família mora na zona rural de Jucati, município vizinho de Garanhuns.
O pernambucano diz que nunca se aproveitou do fato de ser primo do presidente da República para buscar algum tipo de privilégio, mas que agora pensa em escrever uma carta pedindo ajuda a Lula: "Vou dizer que preciso de um trabalho que pague pelo menos dois salários mínimos. A vida iria melhorar muito".
Segundo outros parentes, há mais familiares de Lula que recebem um salário mínimo e até gente sem emprego. "Quem ganha salário mínimo aqui é privilegiado", diz o primo João Florêncio de Mello, o João de Doca.


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