São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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INVESTIGAÇÃO

Papéis da White Gold enviados ao Brasil têm dados pessoais de ex-prefeito e família e orientação para divisão de dinheiro

Suíça atribui fundação de US$ 120 mi a Maluf

DA REPORTAGEM LOCAL

Documentos enviados pela Suíça ao Brasil mostram o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) como principal beneficiário de uma fundação chamada White Gold, aberta em 1990 em Vaduz, no principado europeu de Liechtenstein. Ainda de acordo com os papéis suíços, todo o dinheiro da fundação -US$ 120 milhões- foi transferido, em janeiro de 1997, da Suíça para a Inglaterra.
A quebra de sigilo bancário de Maluf na Inglaterra já foi pedida pela Justiça brasileira com base em uma carta -também encaminhada pela Suíça- na qual Maluf supostamente transfere o dinheiro para os quatro filhos dele. A carta tem assinatura similar à do ex-prefeito, mas ele nega que a tenha escrito e assinado.
Nessa carta, datada de 16 de dezembro de 1996, pede-se a transferência de todo valor depositado em nome da Durant International na Suíça para a White Gold em Londres. Documento obtido pela Folha, mostra que a conta da Durant foi encerrada no dia 28 de janeiro de 1997.
Os documentos da Suíça revelam que a White Gold manteve até dez contas bancárias naquele país. Uma das contas recebeu, numa única semana, quase US$ 200 milhões. A Suíça informou que as contas foram encerradas em janeiro de 1997 -um mês após Maluf passar a administração de São Paulo para o sucessor dele, Celso Pitta -indiciado por envio ilegal de dinheiro para o exterior.
Em outro documento da White Gold obtido pela Folha, intitulado "Regulamentos da White Gold Foundation", consta o nome completo do ex-prefeito, a data de nascimento dele e o endereço da casa em que mora há cerca de 40 anos, no Jardim Europa.
Em caso de morte de Maluf, informa o documento, os valores depositados em nome da fundação deverão ser repassados para a mulher e os filhos dele. Há uma relação com os nomes dos familiares que entram na partilha, com as respectivas identidades e datas de nascimento.
Sylvia, a mulher de Maluf, ficaria com a maior parte (50%), segundo a ata de fundação enviada pela Suíça. Os filhos, Lígia, Lina, Otávio e Flávio, teriam os demais 50% divididos em partes iguais. O documento traz uma assinatura similar a do ex-prefeito e foi assinado em 14 de dezembro de 1990.
Os papéis também mostram que, logo após a abertura da conta da White Gold no UBS, um funcionário do banco já estava autorizado a movimentar dinheiro em nome da fundação. A autorização teria sido concedida por Maluf, ainda segundo os papéis enviados pela Suíça. O mesmo papel afirma ainda que a mulher, Sylvia, e o filho Flávio também estão autorizados a dar ordens ao procurador do UBS.
Maluf teria nomeado ainda um representante legal em Vaduz para acompanhar as movimentações financeiras da fundação.
Todos os documentos saíram do banco UBS de Zurique por ordem judicial. O banco informou que os papéis enviados ao Brasil são legítimos e que os originais fazem parte do arquivo do banco.
Maluf é investigado pelo Ministério Público por remessa ilegal de milhões de dólares para o exterior, mas ele nega de forma enfática possuir contas fora do Brasil. Diz que não assinou os documentos e que as acusações existem para prejudicá-lo politicamente -ele é candidato à Prefeitura de São Paulo.
O promotor Sílvio Marques, um dos responsáveis pela investigação, informou ontem ao procurador-geral Rodrigo Pinho sobre o vazamento de informações sigilosas e pediu providências.


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