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MEMÓRIA
No Rio, o mesmo número de pessoas prestou a última homenagem ao governador morto, durante cortejo pelas ruas da cidade
Corpo de Brizola é recebido por 10 mil no Sul
PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O corpo de Leonel Brizola foi
saudado por cerca de 10 mil pessoas, segundo a Brigada Militar,
durante desfile em carro aberto
do aeroporto internacional Salgado Filho ao Palácio Piratini, sede
oficial do governo gaúcho. Horas
antes, no Rio de Janeiro, o mesmo
número de pessoas foi às ruas para homenagear o governador.
Com atraso de duas horas e
meia do horário previsto, o avião
fretado pelo PDT deixou o Rio às
13h20 e chegou a Porto Alegre às
15h05. Com honras militares, que
incluíam 30 cavalarianos vestidos
com roupas de gala, o caixão de
Brizola foi colocado em um caminhão do Corpo de Bombeiros e
desfilou por uma hora e 17 minutos pelas ruas de Porto Alegre.
O corpo chegou às 16h45 ao Palácio Piratini, onde em 1961 Brizola liderou a chamada Campanha
da Legalidade, movimento vitorioso em defesa da posse de João
Goulart após a renúncia do presidente Jânio Quadros.
O pedetista governou o Rio
Grande do Sul entre 1959 e 1962,
quando encampou as companhias de energia elétrica e telefonia, pertencentes até então a empresas norte-americanas.
Na entrada do Piratini, um coral
de 30 vezes cantou em homenagem a Brizola "Querência Amada", canção de Teixeirinha de
exaltação ao Rio Grande do Sul.
Em seguida entoou o "Hino da
Legalidade", cujo letra diz: "Marchemos todos juntos de pé/ Com
a bandeira que prega a igualdade/
Protesta contra o tirano/ Se recusa
à traição/Um povo só é bem grande/ Se for livre como a nação".
A canção foi aplaudida por familiares de Brizola e autoridades
como os ministros Tarso Genro
(Educação), Olívio Dutra (Cidades) e Miguel Rosseto (Desenvolvimento Agrário), a governadora
do Rio, Rosinha Matheus
(PMDB), o secretário de Segurança do Rio, Anthony Garotinho, e o
governador em exercício do Rio
Grande do Sul, Antônio Carlos
Hohlfeldt (Germano Rigotto está
em viagem à China).
Antes da chegada do corpo, os
petistas Genro, Dutra e Rosseto
foram vaiados por parte do público ao entrar no Palácio Piratini.
"Uma manifestação minoritária.
Os aplausos foram maiores num
reconhecimento dos militantes
pedetistas do profundo respeito
que temos por Brizola, à parte
nossas divergências. Poucos brasileiros defenderam com tanto rigor a idéia de um país diferente,
um projeto de nação popular como ele", afirmou Rosseto.
No Rio de Janeiro, pela manhã,
o cortejo com o corpo parou em
frente ao Palácio do Catete, onde
um dos netos de Brizola, Carlito
Brizola, leu a carta-testamento escrita pelo presidente Getúlio Vargas antes de cometer suicídio, em
1954. Das janelas do palácio, hoje
transformado em museu, funcionários assistiram a manifestação
segurando fotos de Vargas.
O corpo saiu do Palácio da Guanabara, em Laranjeiras, zona sul,
às 8h35, e chegou ao aeroporto
Santos Dumont, no centro, às
12h45. Segundo informação do
Palácio da Guanabara, 50 mil pessoas estiveram no velório desde o
início da manhã de terça-feira.
O velório terminou com um ato
ecumênico, com participação dos
bispo-auxiliar do Rio de Janeiro,
dom Dimas Barbosa, e do pastor
da Igreja Luterana Mozart Noronha. O pastor puxou o hino da Internacional Nacionalista.
A última homenagem foi em
frente ao Ciep (Centro Integrado
de Educação Pública) Tancredo
Neves, obra-símbolo dos mandatos de Leonel Brizola no Rio
(1983-87 e 1991-94). Os mestres-salas e as porta-bandeiras das escolas de samba do grupo especial
foram homenagear o ex-governador, que construiu o Sambódromo em seu primeiro mandato.
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