São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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MEMÓRIA

No Rio, o mesmo número de pessoas prestou a última homenagem ao governador morto, durante cortejo pelas ruas da cidade

Corpo de Brizola é recebido por 10 mil no Sul

PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O corpo de Leonel Brizola foi saudado por cerca de 10 mil pessoas, segundo a Brigada Militar, durante desfile em carro aberto do aeroporto internacional Salgado Filho ao Palácio Piratini, sede oficial do governo gaúcho. Horas antes, no Rio de Janeiro, o mesmo número de pessoas foi às ruas para homenagear o governador.
Com atraso de duas horas e meia do horário previsto, o avião fretado pelo PDT deixou o Rio às 13h20 e chegou a Porto Alegre às 15h05. Com honras militares, que incluíam 30 cavalarianos vestidos com roupas de gala, o caixão de Brizola foi colocado em um caminhão do Corpo de Bombeiros e desfilou por uma hora e 17 minutos pelas ruas de Porto Alegre.
O corpo chegou às 16h45 ao Palácio Piratini, onde em 1961 Brizola liderou a chamada Campanha da Legalidade, movimento vitorioso em defesa da posse de João Goulart após a renúncia do presidente Jânio Quadros.
O pedetista governou o Rio Grande do Sul entre 1959 e 1962, quando encampou as companhias de energia elétrica e telefonia, pertencentes até então a empresas norte-americanas.
Na entrada do Piratini, um coral de 30 vezes cantou em homenagem a Brizola "Querência Amada", canção de Teixeirinha de exaltação ao Rio Grande do Sul. Em seguida entoou o "Hino da Legalidade", cujo letra diz: "Marchemos todos juntos de pé/ Com a bandeira que prega a igualdade/ Protesta contra o tirano/ Se recusa à traição/Um povo só é bem grande/ Se for livre como a nação".
A canção foi aplaudida por familiares de Brizola e autoridades como os ministros Tarso Genro (Educação), Olívio Dutra (Cidades) e Miguel Rosseto (Desenvolvimento Agrário), a governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), o secretário de Segurança do Rio, Anthony Garotinho, e o governador em exercício do Rio Grande do Sul, Antônio Carlos Hohlfeldt (Germano Rigotto está em viagem à China).
Antes da chegada do corpo, os petistas Genro, Dutra e Rosseto foram vaiados por parte do público ao entrar no Palácio Piratini. "Uma manifestação minoritária. Os aplausos foram maiores num reconhecimento dos militantes pedetistas do profundo respeito que temos por Brizola, à parte nossas divergências. Poucos brasileiros defenderam com tanto rigor a idéia de um país diferente, um projeto de nação popular como ele", afirmou Rosseto.
No Rio de Janeiro, pela manhã, o cortejo com o corpo parou em frente ao Palácio do Catete, onde um dos netos de Brizola, Carlito Brizola, leu a carta-testamento escrita pelo presidente Getúlio Vargas antes de cometer suicídio, em 1954. Das janelas do palácio, hoje transformado em museu, funcionários assistiram a manifestação segurando fotos de Vargas.
O corpo saiu do Palácio da Guanabara, em Laranjeiras, zona sul, às 8h35, e chegou ao aeroporto Santos Dumont, no centro, às 12h45. Segundo informação do Palácio da Guanabara, 50 mil pessoas estiveram no velório desde o início da manhã de terça-feira.
O velório terminou com um ato ecumênico, com participação dos bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, dom Dimas Barbosa, e do pastor da Igreja Luterana Mozart Noronha. O pastor puxou o hino da Internacional Nacionalista.
A última homenagem foi em frente ao Ciep (Centro Integrado de Educação Pública) Tancredo Neves, obra-símbolo dos mandatos de Leonel Brizola no Rio (1983-87 e 1991-94). Os mestres-salas e as porta-bandeiras das escolas de samba do grupo especial foram homenagear o ex-governador, que construiu o Sambódromo em seu primeiro mandato.


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