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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/NA PLANÍCIE
Ouvido pela Corregedoria da Câmara, o ex-ministro negou envolvimento no suposto pagamento de mesadas a parlamentares
Soube do "mensalão" pela mídia, diz Dirceu
Adriano Machado/Folha Imagem
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José Dirceu antes do início de seu depoimento à comissão de sindicância; ao fundo, Ciro Nogueira |
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Em seu primeiro depoimento
desde o início da crise do "mensalão", o ex-ministro da Casa Civil
José Dirceu contradisse pelo menos três vezes o deputado Roberto
Jefferson (PTB-RJ), principalmente ao afirmar que nunca foi
informado por ele a respeito do
suposto esquema. Uma acareação
entre os dois deve ocorrer nas
próximas semanas.
Foram cerca de 40 minutos de
depoimento a portas fechadas
-com direito a quatro seguranças na porta- a uma comissão de
sindicância da Corregedoria da
Câmara.
No que foi descrito por deputados que o interrogaram como
uma performance "técnica e
pragmática", com repostas curtas
e secas, Dirceu afirmou que, ao
contrário do que alega Jefferson,
não chancelou um suposto acordo que envolveria um repasse de
R$ 20 milhões do PT ao PTB
-dos quais R$ 4 milhões teriam
sido efetivamente pagos.
"Não homologo decisão do PT.
Quem responde pelo partido é o
presidente José Genoino", disse,
segundo os relatos. Genoino deve
ser ouvido na próxima semana.
O ex-ministro também negou
que exista uma sala contígua a seu
antigo gabinete no Planalto na
qual o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, discutiria o loteamento de cargos federais.
"O Sílvio e o Delúbio [Soares, tesoureiro do PT] iam ao palácio
como dirigentes partidários. Talvez eles chamem mais a atenção
por não serem deputados. Mas
não existe sala nenhuma usada
para fazer divisão de cargos", declarou o deputado, segundo relato de membros da Corregedoria.
Ele afirmou que nunca soube
que diretores de estatais desviassem dinheiro para partidos.
"Nunca fiquei sabendo de estatal
repassar dinheiro para partido. Se
soubesse, além de denunciar, a
pessoa seria demitida."
Dirceu, durante todo o depoimento, procurou jogar para Jefferson o ônus das afirmações. "Ele
é que está falando, ele é que tem
de provar." O ex-ministro afirmou ainda que tomou conhecimento do "mensalão" por uma
reportagem do "Jornal do Brasil"
de setembro de 2004. Também
negou que tenha havido uma reunião com o petebista em que, alertado por ele, teria dado um murro
na mesa. "Essa história não tem o
menor cabimento."
Quanto ao relacionamento com
o publicitário Marcos Valério,
que, na versão de Jefferson, seria o
homem da mala de dinheiro para
os deputados, confirmou que o
conhece e conversou com ele algumas vezes por telefone. Mas negou qualquer relacionamento,
político ou pessoal, com ele.
O ex-ministro se mostrou tranqüilo durante todo o depoimento,
de acordo com seus inquiridores.
Chegou sete minutos atrasado.
Dirceu foi alvo de cerca de 40
perguntas, muitas respondidas
apenas com um "sim" ou "não".
O relator do processo, Robson
Tuma (PFL-SP), fez a maioria dos
questionamentos, recebendo ajuda eventual de Mussa Demes
(PFL-PI), Odair Cunha (PT-MG)
e Ciro Nogueira (PP-PI), que preside a comissão.
"Não há reparos a fazer. Ele esclareceu todas as nossas dúvidas",
declarou Nogueira, que é o corregedor-geral da Câmara.
Dirceu deve depor na próxima
quinta-feira ao Conselho de Ética
da Câmara, que analisa pedido de
cassação de Jefferson.
(FÁBIO ZANINI, SILVIO NAVARRO E CLÁUDIA TREVISAN)
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