São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/NA PLANÍCIE

Ouvido pela Corregedoria da Câmara, o ex-ministro negou envolvimento no suposto pagamento de mesadas a parlamentares

Soube do "mensalão" pela mídia, diz Dirceu

Adriano Machado/Folha Imagem
José Dirceu antes do início de seu depoimento à comissão de sindicância; ao fundo, Ciro Nogueira


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Em seu primeiro depoimento desde o início da crise do "mensalão", o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu contradisse pelo menos três vezes o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), principalmente ao afirmar que nunca foi informado por ele a respeito do suposto esquema. Uma acareação entre os dois deve ocorrer nas próximas semanas.
Foram cerca de 40 minutos de depoimento a portas fechadas -com direito a quatro seguranças na porta- a uma comissão de sindicância da Corregedoria da Câmara.
No que foi descrito por deputados que o interrogaram como uma performance "técnica e pragmática", com repostas curtas e secas, Dirceu afirmou que, ao contrário do que alega Jefferson, não chancelou um suposto acordo que envolveria um repasse de R$ 20 milhões do PT ao PTB -dos quais R$ 4 milhões teriam sido efetivamente pagos.
"Não homologo decisão do PT. Quem responde pelo partido é o presidente José Genoino", disse, segundo os relatos. Genoino deve ser ouvido na próxima semana.
O ex-ministro também negou que exista uma sala contígua a seu antigo gabinete no Planalto na qual o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, discutiria o loteamento de cargos federais.
"O Sílvio e o Delúbio [Soares, tesoureiro do PT] iam ao palácio como dirigentes partidários. Talvez eles chamem mais a atenção por não serem deputados. Mas não existe sala nenhuma usada para fazer divisão de cargos", declarou o deputado, segundo relato de membros da Corregedoria.
Ele afirmou que nunca soube que diretores de estatais desviassem dinheiro para partidos. "Nunca fiquei sabendo de estatal repassar dinheiro para partido. Se soubesse, além de denunciar, a pessoa seria demitida."
Dirceu, durante todo o depoimento, procurou jogar para Jefferson o ônus das afirmações. "Ele é que está falando, ele é que tem de provar." O ex-ministro afirmou ainda que tomou conhecimento do "mensalão" por uma reportagem do "Jornal do Brasil" de setembro de 2004. Também negou que tenha havido uma reunião com o petebista em que, alertado por ele, teria dado um murro na mesa. "Essa história não tem o menor cabimento."
Quanto ao relacionamento com o publicitário Marcos Valério, que, na versão de Jefferson, seria o homem da mala de dinheiro para os deputados, confirmou que o conhece e conversou com ele algumas vezes por telefone. Mas negou qualquer relacionamento, político ou pessoal, com ele.
O ex-ministro se mostrou tranqüilo durante todo o depoimento, de acordo com seus inquiridores. Chegou sete minutos atrasado.
Dirceu foi alvo de cerca de 40 perguntas, muitas respondidas apenas com um "sim" ou "não". O relator do processo, Robson Tuma (PFL-SP), fez a maioria dos questionamentos, recebendo ajuda eventual de Mussa Demes (PFL-PI), Odair Cunha (PT-MG) e Ciro Nogueira (PP-PI), que preside a comissão.
"Não há reparos a fazer. Ele esclareceu todas as nossas dúvidas", declarou Nogueira, que é o corregedor-geral da Câmara.
Dirceu deve depor na próxima quinta-feira ao Conselho de Ética da Câmara, que analisa pedido de cassação de Jefferson.
(FÁBIO ZANINI, SILVIO NAVARRO E CLÁUDIA TREVISAN)


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