São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/OPERAÇÃO ABAFA

Líderes do PFL e do PSDB se unem a José Dirceu para convencer Severino a impedir que Bolsonaro exiba na Câmara fita sobre guerilha

PT consegue vetar vídeo contra Genoino

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de se enfrentarem em plenário anteontem, líderes do PT, do PFL e do PSDB se uniram ontem para tentar impedir a exibição de um vídeo com ataques ao presidente do PT, José Genoino, em sessão solene que homenageará hoje os militares mortos no combate à guerrilha do Araguaia.
José Carlos Aleluia (PFL-BA), líder da oposição, Alberto Goldman (PSDB-SP), líder dos tucanos, e o ex-ministro José Dirceu (PT-SP) se revezaram na manhã de ontem em rápidas conversas com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), nas quais pediram veto ao vídeo.
No fim do dia, o presidente da Câmara acatou a solicitação, por considerar o vídeo ofensivo. Nele, o militar da reserva Lício Augusto Ribeiro dá um depoimento de 14 minutos, no qual afirma que Genoino "entregou" seus companheiros de guerrilha depois de ser preso pelo próprio Ribeiro em 1972, no norte de Tocantins.
Ontem, Ribeiro estava no Congresso, acompanhado do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), militar da reserva que apresentou o requerimento para realização da sessão solene. Bolsonaro foi o principal responsável pelo tumulto no discurso que Dirceu proferiu em sua volta à Câmara, anteontem. No momento em que o ex-ministro criticava a censura da ditadura militar, Bolsonaro gritou "terrorista, terrorista".
"Pode fazer o que quiser, mas não pode atacar ninguém", disse Aleluia. "É um extremista de direita, oportunista, que quer aproveitar o momento de crise", sustentou Chico Alencar (PT-RJ), em referência a Bolsonaro.
A sessão solene começará às 15h, com defesa do regime militar e discurso de Bolsonaro.

Araguaia
O tenente-coronel reformado Lício Augusto Ribeiro, 75, acusa Genoino de ter colaborado com os militares que em 1972 iniciavam o combate à guerrilha organizada pelo PC do B na região do Araguaia.
O militar reformado disse à Folha que, no mesmo dia em que foi preso (18 de abril de 1972), Genoino, sem ser submetido a tortura, contou que os guerrilheiros estavam divididos em três grupos espalhados pela floresta e tinham o apoio de lideranças em São Paulo e no Rio de Janeiro.
"Genoino não levou uma cacetada, não levou nada", disse.
Segundo ele, o hoje presidente do PT citou os nomes dos dirigentes comunistas João Amazonas, Elza Monerat e Maurício Grabois. Ribeiro disse que até então os militares desconheciam o vínculo entre os guerrilheiros na mata e a cúpula do PC do B nos principais centros do país. Ribeiro foi personagem do livro "O Coronel Rompe o Silêncio" (Objetiva, 2004), do jornalista Luiz Maklouf Carvalho.


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