São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/OPERAÇÃO ABAFA

"A coisa é como moda, a moda da vez; o escândalo da vez é o dos Correios e o do "mensalão'", afirma o senador Arthur Virgílio

Oposição agora quer enterrar CPI dos Bingos

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de o STF (Supremo Tribunal Federal) ter dado condições para o funcionamento da CPI dos Bingos, que na prática investigaria o caso Waldomiro Diniz, a oposição no Senado praticamente selou ontem um acordo com o governo para enterrá-la.
O Palácio do Planalto nunca quis apuração legislativa sobre o caso; já PSDB e PFL perderam o interesse depois que estouraram os escândalos dos Correios e do "mensalão", ambos com apuração em curso no Congresso.
"As atenções devem ser centradas nos Correios e no "mensalão". A coisa é como moda, a moda da vez. O escândalo da vez é o dos Correios e o do "mensalão", não vamos complicar o meio-campo", afirmou líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
O STF determinou anteontem ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a indicação dos integrantes para a CPI dos Bingos, que investigaria a atuação do ex-assessor do Planalto Waldomiro Diniz, gravado em 2002 negociando favorecimento em licitações em troca de propinas e contribuições eleitorais.
Escândalo de maior repercussão em 2004, o caso Waldomiro só não virou CPI porque os líderes dos partidos governistas e o então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), se recusaram a indicar seus integrantes. A oposição recorreu ao Supremo.
Com a decisão judicial de anteontem (por 9 votos a 1), o presidente do Senado reuniu os líderes partidários ontem pela manhã e os nomes da CPI foram definidos. Na prática, porém, a comissão não deve sair do papel devido à seguinte manobra: os indicados não aparecerão nas sessões.
Situação semelhante ocorre na CPI do Setor Elétrico, na Câmara. Mesmo criada e com seus membros indicados há vários meses, a comissão não funcionou porque nunca houve quórum para suas reuniões. Também nesse caso governo e oposição não têm interesse no funcionamento da CPI.
"Há uma preocupação de todos com o fato de haver CPIs demais no Congresso", afirmou o líder da oposição no Senado, José Jorge (PFL-PE). Hoje há seis em funcionamento e outras seis praticamente prontas para instalação.
"Não há nem senadores para tanta CPI. Não podemos ter seis ou sete comissões funcionando ao mesmo tempo. Nesse quadro, é absolutamente imprudente instalar o que quer que seja", disse o líder do governo na Casa, Aloizio Mercadante (PT-SP).
Mercadante e Virgílio protagonizaram no plenário, à tarde, uma ampla discussão sobre qual governo, o do PT ou o tucano, atacou mais a instalação de CPIs. Apesar disso, a posição de ambos continuou a mesma.
Embora afirme estar preocupada com a governabilidade e a possível paralisia no Congresso, para a oposição não haveria ganho político com o reaparecimento do caso Waldomiro. Os motivos: além da possibilidade de desvio do foco sobre os atuais escândalos, a CPI teria como alvo um deputado, José Dirceu, ex-chefe de Waldomiro, não mais um poderoso ministro do governo.
Os senadores voltam a se reunir na próxima semana para discutir melhor o sepultamento da investigação. Mesmo destino da CPI do caso Waldomiro deve ter a que investigaria as privatizações na gestão tucana, espécie de contraponto gestado pelos governistas.
Na semana que vem deve ser instalada a CPI do "Mensalão". O governo prefere vê-la funcionando somente na Câmara, já que lá seria investigado também a compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição, em 1997, mas caso não consiga superar impasses regimentais, a CPI pode ser mista (formada por senadores e deputados federais).


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