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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI
Arthur Washeck diz em depoimento na CPI dos Correios que fita que flagrou funcionário da estatal não tinha objetivo político
Empresário assume gravação de Marinho
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No segundo depoimento tomado pela CPI dos Correios, o empresário Arthur Washeck assumiu ter sido o idealizador da gravação na estatal por interesses
"comerciais", evitou politizar o
caso e disse ontem que queria
apenas a demissão isolada do funcionário Maurício Marinho. Fez
isso, segundo afirmou, em retaliação a uma suposta "perseguição"
comercial à sua empresa.
Porém, deixou dúvidas entre os
parlamentares sobre sua verdadeira motivação no caso ao confessar seu relacionamento pessoal
com Arlindo Molina, o coronel
reformado da Marinha acusado
de extorsão pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
A desconfiança aumentou
quando Antonio Velasco, sócio
de Washeck, que também depôs
ontem na CPI, disse que a empresa deles, a Comam, emprestou dinheiro a Molina. "Nossa empresa
emprestou R$ 20 ou 27 mil para o
senhor Molina. O Arthur tirou da
cota dele. Isso foi há uns 30 dias,
antes um pouco da [divulgação]
da fita", disse Velasco.
Integrantes da CPI desconfiam
que o valor poderia ser pagamento pelo processo de chantagem
contra o presidente do PTB, a
quem Marinho seria ligado.
Washeck depôs na CPI durante
cerca de cinco horas e tentou poupar Jefferson e seu indicado na diretoria de Administração dos
Correios, Antônio Osório.
Segundo o empresário, eles não
saberiam sobre as supostas irregularidades cometidas por Maurício Marinho, ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material da estatal
que foi gravado recebendo propina de R$ 3.000 e dando detalhes
de um esquema de corrupção em
estatais que envolveria o PTB.
Washeck admitiu apenas ter sido o mandante da gravação. Culpou o fornecedor da maleta-gravadora, Jairo Martins, pelo vazamento para a revista "Veja". E responsabilizou seu amigo, Joel Santos, que fez a gravação, pelo pagamento de propina e pelo roteiro
de conversa no vídeo.
"Nunca fiz uma gravação na minha vida. Achei que foi uma manobra radical e nunca mais vou
fazer. Quando eu chego com uma
mala as pessoas falam: "tira essa
mala daí'", disse Washeck, que
gesticulava muito, interrompia os
parlamentares para falar e fez vários comentários jocosos.
Para se justificar, Washeck deu
dois exemplos de atuação irregular de Marinho em concorrências
no setor de Administração dos
Correios. Também culpou o funcionário pelo não recebimento de
R$ 300 mil em visitas indevidas de
manutenção realizadas após o
fornecimento de cofres eletrônicos, contrato pelo qual foi multado por R$ 1 milhão em 2003.
"A fraude existe na execução do
contrato, ao não se multar, não
suspender a empresa, aceitar produto abaixo das especificações.
Essa execução compete só a ele,
Maurício Marinho", disse Washeck, que chegou a dizer que o
funcionário recebia percentual
dos contratos, mas depois recuou
por falta de provas.
"Acredito que ele levava dinheiro, qualquer dinheiro", disse
Washeck sobre Marinho, que depôs anteontem e negou irregularidades em sua área e disse ser um
"bode expiatório".
Marinho, no depoimento à CPI,
tentou fazer conexões entre os supostos contratos irregulares e políticos do PT, como o secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, e o
ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), apontando
ainda supostos interesses de parlamentares e de empresas. Não
apresentou, porém, provas.
Na mesma linha do último depoente, Washeck diminuiu sua
própria importância diante de
contratos milionários dos Correios em outros setores. "O filé
mignon no Correios está nas diretorias de Tecnologia e Operações", disse. Depois brincou:
"Meu negócio não é nem contra-filé, é fraldinha".
(LEILA SUWWAN E FERNANDA KRAKOVICS)
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