São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI

Arthur Washeck diz em depoimento na CPI dos Correios que fita que flagrou funcionário da estatal não tinha objetivo político

Empresário assume gravação de Marinho

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No segundo depoimento tomado pela CPI dos Correios, o empresário Arthur Washeck assumiu ter sido o idealizador da gravação na estatal por interesses "comerciais", evitou politizar o caso e disse ontem que queria apenas a demissão isolada do funcionário Maurício Marinho. Fez isso, segundo afirmou, em retaliação a uma suposta "perseguição" comercial à sua empresa.
Porém, deixou dúvidas entre os parlamentares sobre sua verdadeira motivação no caso ao confessar seu relacionamento pessoal com Arlindo Molina, o coronel reformado da Marinha acusado de extorsão pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
A desconfiança aumentou quando Antonio Velasco, sócio de Washeck, que também depôs ontem na CPI, disse que a empresa deles, a Comam, emprestou dinheiro a Molina. "Nossa empresa emprestou R$ 20 ou 27 mil para o senhor Molina. O Arthur tirou da cota dele. Isso foi há uns 30 dias, antes um pouco da [divulgação] da fita", disse Velasco.
Integrantes da CPI desconfiam que o valor poderia ser pagamento pelo processo de chantagem contra o presidente do PTB, a quem Marinho seria ligado.
Washeck depôs na CPI durante cerca de cinco horas e tentou poupar Jefferson e seu indicado na diretoria de Administração dos Correios, Antônio Osório.
Segundo o empresário, eles não saberiam sobre as supostas irregularidades cometidas por Maurício Marinho, ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material da estatal que foi gravado recebendo propina de R$ 3.000 e dando detalhes de um esquema de corrupção em estatais que envolveria o PTB.
Washeck admitiu apenas ter sido o mandante da gravação. Culpou o fornecedor da maleta-gravadora, Jairo Martins, pelo vazamento para a revista "Veja". E responsabilizou seu amigo, Joel Santos, que fez a gravação, pelo pagamento de propina e pelo roteiro de conversa no vídeo.
"Nunca fiz uma gravação na minha vida. Achei que foi uma manobra radical e nunca mais vou fazer. Quando eu chego com uma mala as pessoas falam: "tira essa mala daí'", disse Washeck, que gesticulava muito, interrompia os parlamentares para falar e fez vários comentários jocosos.
Para se justificar, Washeck deu dois exemplos de atuação irregular de Marinho em concorrências no setor de Administração dos Correios. Também culpou o funcionário pelo não recebimento de R$ 300 mil em visitas indevidas de manutenção realizadas após o fornecimento de cofres eletrônicos, contrato pelo qual foi multado por R$ 1 milhão em 2003.
"A fraude existe na execução do contrato, ao não se multar, não suspender a empresa, aceitar produto abaixo das especificações. Essa execução compete só a ele, Maurício Marinho", disse Washeck, que chegou a dizer que o funcionário recebia percentual dos contratos, mas depois recuou por falta de provas.
"Acredito que ele levava dinheiro, qualquer dinheiro", disse Washeck sobre Marinho, que depôs anteontem e negou irregularidades em sua área e disse ser um "bode expiatório".
Marinho, no depoimento à CPI, tentou fazer conexões entre os supostos contratos irregulares e políticos do PT, como o secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, e o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), apontando ainda supostos interesses de parlamentares e de empresas. Não apresentou, porém, provas.
Na mesma linha do último depoente, Washeck diminuiu sua própria importância diante de contratos milionários dos Correios em outros setores. "O filé mignon no Correios está nas diretorias de Tecnologia e Operações", disse. Depois brincou: "Meu negócio não é nem contra-filé, é fraldinha". (LEILA SUWWAN E FERNANDA KRAKOVICS)


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