São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2000


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INVESTIGAÇÕES
Ministério Público Federal só possui 338 procuradores no país e aguarda criação de 304 vagas desde 1996
Procuradores enfrentam falta de estrutura

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O escândalo do Tribunal Regional do Trabalho jogou os holofotes em cima de um pequeno grupo de procuradores bem articulados, cuja atuação no combate à corrupção esconde as deficiências da instituição à qual pertencem:
1. O Ministério Público Federal opera com quadro insuficiente: são apenas 338 procuradores em todo o país. Desde 1996, a instituição aguarda a aprovação de projeto criando 304 novos cargos.
2. Os procuradores queixam-se da falta de apoio técnico, dependem de investigações feitas pela polícia e encontram obstáculos para a realização de perícias e levantamento de provas.
3. O MPF não pode determinar a quebra do sigilo bancário e fiscal dos investigados.
Apesar dos obstáculos, nos últimos anos esses paladinos colocaram nas grades alguns banqueiros e chefes do narcotráfico; hoje investigam juízes e já afastaram alguns administradores públicos.
Não há levantamentos sobre a produtividade e eficácia do trabalho do MPF. Alguns procuradores são criticados pelo açodamento: há vários processos por acusações públicas a pessoas investigadas.
Essa superexposição na mídia pode gerar um círculo vicioso: diante da impunidade reinante, estimularia o encaminhamento de novas denúncias ao MPF, aumentando a carga de trabalho de uma equipe reduzida e desproporcional ao número de juízes.
Para saber o que pensam esses "intocáveis" e as dificuldades que enfrentam, a Folha entrevistou oito procuradores federais e dois promotores estaduais: Maria Luísa Duarte, Isabel Groba Vieira, José Carlos Blat, Airton Florentino de Barros, Mário Luiz Bonsaglia, que atuam em São Paulo; Artur Gueiros, Raquel Branquinho e Rogério Nascimento, no Rio; e Luiz Francisco de Souza e Carlos Frederico Santos, em Brasília.
Alvos de elogios e críticas, eles estão convencidos de que fazem a lei chegar a áreas antes intocadas, punindo grupos privilegiados e alargando o acesso à justiça para os excluídos. Em gabinetes estreitos, entre torres de processos, eles revelam seus ídolos e estilos.
Luiz Francisco pendurou um pôster desbotado de Joana d'Arc, a heroína francesa; Rogério emoldurou uma reprodução de "Guernica", do pintor Pablo Picasso, que retrata efeitos de bombardeios na Guerra Civil Espanhola.
Gueiros exibe sob o vidro da sua mesa de trabalho uma mensagem de cumprimentos de Marilene Franco, juíza que já morreu, e que deu nome ao fórum criminal federal carioca; Blat estende na parede um grande painel, fluxograma das ramificações de um grupo do crime organizado.


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