São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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GOVERNO

Presidente critica setores que sugerem outro modelo de desenvolvimento

"Não aceitamos um falso nacionalismo", afirma FHC

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem, na abertura da Expo Abras (a feira anual do setor supermercadista), um discurso de ataque ao que ele chamou de "falso nacionalismo" de setores que querem outro modelo de desenvolvimento.
"Não aceitamos um falso nacionalismo que leve o país para trás. O nosso nacionalismo é o de um país que quer ser grande para o seu povo, e não para alguns aproveitadores de slogans", afirmou.
Em pouco mais de meia hora de discurso, FHC não citou nomes, mas enfatizou que o modelo econômico para o país não pode "olhar para o passado só" e nem trazer de volta mecanismos de política econômica baseados em barreiras tarifárias para proteger a indústria nacional.
Em entrevista publicada ontem pela Folha, o empresário Eugênio Staub, 60, um dos mais conhecidos defensores da adoção de mecanismos de política industrial, declarou seu apoio ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

CRÍTICAS INFUNDADAS - "Ficamos muito satisfeitos em poder ter acompanhado o desenvolvimento do setor de supermercados (...) É uma demonstração do dinamismo da nossa economia (...) Isso é um bom antídoto para tantas críticas infundadas, tanta demonstração de ignorância sobre o que acontece realmente na economia brasileira a que a gente assiste a cada dia, até com certa, eu diria, pena, de ver repetirem-se uma série de jargões que não correspondem absolutamente aos processos reais."

ESCASSEZ - "É claro que em matéria econômica é sempre possível apontar problemas. Aliás, economia é a ciência da escassez (...) Se tivéssemos que administrar a abundância, não haveria o que fazer."

CEGUEIRA - "Uma coisa é a divergência honesta sobre qual é o melhor caminho a seguir. Outra coisa é manipulação de dados para mostrar que não há caminho, que está tudo indo mal, que está tudo piorando (...) Pode-se até divergir sobre os fatos. O fato em si mesmo não explica muito a coisa. É preciso contextualizá-lo (...) A única coisa que não ajuda é a cegueira. É quando se põe poeira na frente dos olhos. E o pior: quando se põe poeira na frente dos olhos do povo, e fica uma sensação de que não estamos caminhando."

CRESCIMENTO - "O crescimento da economia não foi o que se desejava. Que não foi o que se desejava, é verdade, mas não foi por causa da inflação, foi por outros fatores. Ainda assim, de 1993 a 2001, é só fazer os cálculos, o crescimento acumulado foi de 31%. Ninguém faz cálculos quando é a favor (...) Porque a média foi 2,7%, 3%... É baixa para o que nós queremos, mas foi contínua."

OUTRO LADO - "Até há quem fale de um outro modelo. Que modelo seria esse? Com obstáculos ao desenvolvimento? O que estamos fazendo é retirar os obstáculos ao desenvolvimento. Querem colocar? Querem um modelo desfavorável ao investimento? Como é que cresce, se o modelo não for favorável ao investimento? Querem aumentar a exclusão? Porque nós estamos é aumentando a inclusão (...) Não há um só indicador social, de acesso por parte da população, que não vá na direção da universalização."

NACIONALISMO - "Não aceitamos um falso nacionalismo, que leva o país para trás. O nosso é o nacionalismo de um país que quer ser grande para o seu povo e não grande para alguns aproveitadores de slogans."

INFLAÇÃO - "É fundamental manter a inflação sob controle. Se se imagina um outro modelo no qual a inflação não esteja sob controle, pobre povo! Porque quem paga o descontrole da inflação é o mais pobre. Só que paga sem saber o que está pagando. É o sofrimento diário. E aí é fácil expandir gastos sem nenhum controle."

INVESTIMENTO - "Recebemos, nos anos do real, US$ 150 bilhões sob a forma de investimentos diretos no setor produtivo. Quando eu era ministro da Fazenda (1993/ 1994) nós recebíamos US$ 1 bilhão no primeiro ano e US$ 2 bilhões no segundo (...) É uma mudança qualitativa extraordinária."

QUASE SUICÍDIO - "Sem dúvida, seria um quase suicídio pensar em fechar a economia outra vez, em fazer barreiras tarifárias e fazer com que haja algum setor protegido no Brasil. Protegido para quê? Para enriquecer o dono da empresa e empobrecer o trabalhador, que vai ter que comprar o produto mais caro e de pior qualidade. Esse tipo de desenvolvimento não quero para o Brasil."

PASSADO - "O Brasil precisa ter força própria. E força própria é capacidade de discernir, de escolher, mas não pode ser a capacidade de olhar para o passado só. O passado nos inspira para que possamos guardar o que dele foi bom e corrigir o que dele foi ruim. Mas ele não pode ser um peso para impedir que o Brasil enfrente o desafio do mundo atual."

IGNORÂNCIA - "A ignorância é a mão da pobreza. Não é possível avançar sem competência. Não é possível avançar sem que se tenha coragem de dizer as coisas como elas são."
LEIA a íntegra do discurso de FHC na (Folha Online)


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