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DESAPARECIDOS
Comissão Especial diz que governo poderia ter dado acesso há 15 anos
Polícia Federal vai liberar arquivos do regime militar
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Comissão Especial de Mortos
e Desaparecidos Políticos poderá
ter acesso ao arquivo mantido pela Polícia Federal (PF) do período
de 2 de setembro de 1961 a 5 de
outubro de 1988. A medida, anunciada ontem pelo ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ramos Ribeiro, vai facilitar a localização de desaparecidos durante o período do
regime militar.
A medida chegou a ser adotada
informalmente pelo ex-ministro
da Justiça Miguel Reale Júnior a
partir de 17 de maio deste ano.
Com a saída de Reale do Ministério da Justiça, em julho, a rotina ficou paralisada, mas deverá ser retomada nos próximos dias.
Segundo o presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, Luís Francisco Carvalho Filho, o governo já
poderia ter autorizado o acesso
"há dez ou 15 anos", mas, mesmo
com o atraso, a iniciativa demonstra uma diminuição da "dubiedade" apresentada pelo governo em
relação ao tema.
O presidente Fernando Henrique Cardoso promulgou em 1996
a lei nš 9.140, que prevê indenizações de R$ 100 mil a R$ 150 mil para desaparecidos durante o regime militar no período de 1961 a
1979, quando houve a Lei da Anistia. Em agosto deste ano, Fernando Henrique Cardoso voltou ao
tema ampliando o período das indenizações até 1988.
Crítica
A maior crítica em relação ao
modo como o governo federal
trata a questão é em relação à caracterização de vítimas que passam a ter direito à indenização. A
legislação prevê apenas os casos
em que o desaparecido estava sob
custódia do Estado, em cadeia,
por exemplo.
A comissão espera, com o acesso aos dados do arquivo da Polícia
Federal, encontrar indícios e pistas de ossadas de desaparecidos
políticos. Segundo a Folha apurou, a maioria dos documentos
indica apenas o acompanhamento inicial sobre os casos, porque
muitos oficiais militares assumiam o comando de investigações que tinham sido iniciadas
por policiais.
Ainda assim, o arquivo traz as
notas sobre investigação da guerrilha do Araguaia -movimento
de resistência ocorrido de 72 a 74
em regiões dos Estados do Pará e
do Tocantins. A correspondência
dos policiais deve mostrar ainda a
evolução da guerrilha no Maranhão e no Ceará, segundo a apuração da Folha.
Mudanças na lei
Nos casos em que houve confronto com manifestantes em
praças ou passeatas, por exemplo,
o governo não concede indenizações. Essa é a maior crítica feita
pela ONG (Organização Não-Governamental) Tortura Nunca
Mais, em Goiás. O presidente da
entidade, Waldomiro Batista,
compareceu à cerimônia no Ministério da Justiça para pedir essa
alteração na lei.
Batista entregou ao ministro
Paulo de Tarso uma carta em que
pede a edição de uma medida
provisória (MP) até dezembro para que manifestantes que tenham
morrido em confrontos com a
polícia ou com o Exército também possam ser indenizados.
O ministro afirmou que vai "estudar" a questão. E, se houver sustentação jurídica, "levará a tese
em frente".
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