São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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SÃO PAULO

Em evento com idosos, petista se emociona com falas de Marcelo Déda e João Paulo

Marta chora e diz ser "muito duro" enfrentar preconceito

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

A prefeita licenciada Marta Suplicy (PT) chorou ontem, emocionada, ao falar a uma platéia de 400 idosos no Círculo dos Trabalhadores Cristãos de Vila Prudente. No discurso, disse ser vítima de preconceito e perseguição.
"Você lavou a minha alma", começou a candidata, referindo-se ao prefeito reeleito de Aracaju (SE), Marcelo Déda, que acabara de falar. "O que eu realmente tenho sentido de preconceito e perseguição em todos os meios escritos é inacreditável. É realmente muito duro, muito duro, suportar o que eu tenho suportado."
Enxugando as lágrimas, Marta foi interrompida por palmas. "O Lula sempre diz que nunca houve um político que apanhou tanto. Agora somos dois. E eu acrescento a isso, [o fato de] ser mulher."
O discurso foi encerrado com uma promessa. "Vou terminar com uma notícia boa", disse Marta, contando que mandou à Câmara um projeto pelo qual a idade para os homens viajarem de graça nos ônibus é reduzida progressivamente -um ano por ano- de 60 para 65 anos.
A cerimônia começara uma hora antes, às 10h45, com o discurso do prefeito reeleito de Recife, João Paulo, que procurou explicar sua presença na cidade. "Temos a compreensão da importância econômica e política de São Paulo, que é a caixa de ressonância da política do Brasil. Esta eleição é a mais importante para o governo Lula", afirmou, sustentando que vê "certo preconceito" nas pessoas que não votam em Marta.
O tom foi o mesmo da fala de Marcelo Déda. "Quantas de vocês não sabem o peso do preconceito?", perguntou ele à platéia, a maioria mulheres. "Mas qual foi o homem de calças, o macho, que teve coragem de pôr os empresários de ônibus para trabalhar?", concluiu, citando que "FHC, o grande amigo de Serra, disse que aposentado era vagabundo".
Entre as 11h30 e as 16h30, Marta fez uma maratona: caminhada, almoço, evento e comício. No final da tarde, foi a um chá para mulheres da Igreja Renascer. Havia 15 mil pessoas no local, que ouviam a bispa Sônia Hernandes.
Minutos antes de Marta chegar, Hernandes declarou assim seu voto na petista: "Ela veio trazer não uma promessa, mas a autorização, a regularização da construção que estamos fazendo para levantar uma torre [da antena da Rede Gospel, na Paulista]. Ela quis trazer de presente", afirmou.
"Eu e a minha família vamos votar nela. Porque Deus pode falar com ela, e ela pode dar mais outras tantas cartas [autorizações]."
Marta disse que a torre está para ser liberada e que participará da Marcha para Jesus de 2005. Em seguida, recebeu uma bênção. Sob o comando de Hernandes, a crítica ao preconceito reapareceu:
"Nós somos mulheres, senhor. Sabemos o que é ser discriminada por ser bonita, por ser rica, porque acham que vamos ficar desestruturadas, nervosas, perder a paciência, chorar. Mas queremos dizer que nossa cidade precisa mesmo de uma mãe", rezou a bispa.
Marta agradeceu, e Hernandes concluiu: "Vocês entenderam que a torre está liberada?" "É", respondeu a multidão. "Entenderam que eu a minha família vamos votar nela?" "Siiiim." "E quem quer votar junto? "Eeeeeu", gritou mais da metade da platéia.
A prefeitura informou que não poderia checar no final de semana a situação da torre. Felipe, filho da bispa, disse que ela se referia apenas à autorização para a festa de inauguração da antena, em 31 de dezembro, que ainda não saiu.
À noite, a petista participaria de quatro comícios na zona leste.


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