São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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Cruz é contra arquivos reabertos, mas quer "uma satisfação" da Abin

Sergio Lima - 20.out.99/Folha Imagem
Newton Cruz, ex-chefe do SNI


DO PAINEL EM BRASÍLIA

Ex-chefe da agência central do antigo SNI (Serviço Nacional de Informações), o general Newton Cruz condena a eventual abertura dos arquivos dos serviços de inteligência e repressão militares, reivindicada por ministros, congressistas e instituições como a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Frequentemente associado a ações ilegais atribuídas aos militares, da morte de um jornalista colaborador do SNI, Alexandre Von Baumgarten, ao atentado à bomba no Riocentro - foi absolvido das duas acusações -, Nini, como era chamado por seus colegas de farda na época da ativa, diz que em nada a abertura dos arquivos ajudaria a provar sua proclamada inocência.
"Eu acho que não se deve falar mais nisso. Vão achar papéis esparsos, se houver alguma coisa ainda, o que conduzirá a coisas erradas e a generalizações", afirma o general. "Se aparecer alguma coisa, não vai esclarecer a história, vai confundir a história".
Apesar de ser contrário à abertura dos arquivos, Newton Cruz prepara dois pedidos de esclarecimentos a seu respeito, um ao Exército e outro à Abin (Agência Brasileira de Inteligência), órgão que sucedeu o antigo SNI.
Do Exército, Nini quer saber se efetivamente foi vigiado em 1990, quando já estava na reserva, como alega o cabo José Alves Firmino. O cabo é o araponga do Exército que entregou à Câmara as fotos que supostamente seriam do jornalista Vladimir Herzog, pouco antes de morrer, na prisão.
Da Abin, o general quer esclarecer um trecho da nota que o órgão divulgou, segundo a qual a foto divulgada pelo cabo não era do jornalista, mas de um padre seqüestrado numa operação "ilegal" do SNI. De acordo com Newton Cruz, em 1974 ele já chefia a agência central - "e não tive nenhum conhecimento dessa operação", diz.

Satisfação
"Eu quero uma satisfação pública", justifica. Nini queixa-se de ser culpado por tudo o que de ruim ocorreu no governo dos generais. "A pior desgraça para mim foi servir no SNI". Muitos acontecimentos ocorridos no período teriam sido atribuídos a ele, quando na realidade foram praticados por outros órgãos militares.
No caso do Riocentro, um frustrado atentado à bomba num show de 1º de maio, no Rio, que acabou com a morte de um de seus autores e no ferimento de outro, Newton Cruz diz que na realidade ele foi quem acabou depois com bolsões radicais remanescentes no Rio. Outras vezes, pessoal sob seu comando teria sido usado em ações, mas estaria sob outra linha de comando.
Newton Cruz condena também a primeira nota divulgada sobre as supostas fotos de Herzog. "Não reflete o espírito da anistia, que foi recíproca". Já a segunda nota, o general aplaudiu: "O comportamento do Lula em relação à primeira nota tem todo o meu apoio. Ela reflete o espírito da anistia".
Com uma exceção: a menção segundo a qual a morte de Herzog foi um dos motivos pelos quais o ex-presidente Ernesto Geisel demitiu o general Ednardo D'Ávila Mello do comando do então 2º Exército.
Segundo Nini, foi a morte do operário Manoel Fiel Filho, ocorrida depois, que provocou a demissão de Ednardo.
(RC)


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