São Paulo, Quarta-feira, 24 de Novembro de 1999


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CRIME ORGANIZADO
Testemunha-chave da CPI agora vai para cela solitária
Governo amplia proteção e tentará perdão a Meres

Sérgio Lima/Folha Imagem
A partir da esq., o presidente da CPI, Magno Malta, o ministro José Carlos Dias (Justiça) e o relator Moroni Torgan, durante reunião


ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília


O motorista Jorge Meres Alves de Almeida, 39, principal testemunha da CPI do Narcotráfico, foi transferido ontem de cela coletiva na sede da Polícia Federal em Brasília para local reservado, mantido sob sigilo.
A pedido da CPI, o ministro José Carlos Dias (Justiça) pediu à Procuradoria Geral da República para tentar obter da Justiça do Maranhão o perdão judicial de Meres. Ele cumpre prisão preventiva sob a acusação de ter tentado furtar um carro alugado.
Segundo Dias, o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, concordou em acionar a Procuradoria de Justiça no Maranhão para tentar o perdão.
Com o perdão ou a revogação da prisão, Meres poderá ser colocado em liberdade e ser incluído no programa federal de proteção a testemunhas. No programa, ele poderá receber ajuda financeira e voltar a viver com a família.
Essas medidas foram anunciadas ontem por Dias. Ele e o diretor da PF, Agílio Monteiro Filho, discutiram o caso com o presidente e o relator da CPI, deputados Magno Malta (PTB-ES) e Moroni Torgan (PFL-CE).
Em entrevista à Folha, publicada anteontem, Meres afirmou que estava arrependido porque o programa de proteção não funciona. Disse também que dividia a cela com pessoas que delatou.
"É mentira", foi a reação do ministro anteontem sobre as reclamações de Meres. "Ele é testemunha, mas é preso também."
Após a reunião, o ministro disse que decidiu atender Meres por "questão de respeito" para que ele continue colaborando com a CPI. "Ele realmente vem colaborando para o esclarecimento de fatos da maior relevância", disse Dias.
Questionado se havia mudado de posição por pressão da CPI, o ministro respondeu: "Nem eu mudei nem recebi essa pressão. O que eu apenas disse foi que ele não está enquadrado no programa de proteção a testemunhas. Ele está enquadrado como réu colaborador, com expectativa de se enquadrar no programa".
Como réu colaborador, Meres deveria ter sido mantido pela PF em cela exclusiva, de acordo com o artigo 15 da lei 8.907. A PF reconheceu que Meres dividia cela com outros presos, mas disse que ele não corria perigo.
"A custódia está sendo bem executada. Agora, iremos transferi-lo a um lugar em que se sinta bem, mais seguro, mais confiante e com um mínimo de respeito à sua privacidade", disse Dias.
As denúncias de Meres já resultaram na cassação do deputado maranhense José Gerardo de Abreu, que está foragido, e na prisão de 30 pessoas no Maranhão e na região de Campinas. "Meres é viga-mestra da CPI", disse Malta.
O porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, disse ontem que o governo vai liberar nos próximos dias mais recursos para o programa de proteção a testemunhas.


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