São Paulo, Quarta-feira, 24 de Novembro de 1999


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CRIME ORGANIZADO
Policiais de Campinas criticam as decisões da comissão; deputados querem manter prisões
Cúpula da polícia culpa CPI por morte

RICARDO BRANDT
free-lance para a Folha Campinas


O enterro do investigador de Campinas Luiz Roberto Lopes, o Pimenta, acabou se tornando um protesto da cúpula da polícia local, que acusou a CPI do Narcotráfico de ser a principal responsável pelo suposto suicídio.
Lopes foi encontrado com um tiro no peito anteontem no banheiro da Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes), onde trabalhava. Socorrido, o investigador morreu ao chegar ao hospital. A polícia acredita que ele tenha se matado.
O delegado-seccional de Campinas, Josué Ferreira Ribeiro, criticou a forma como os deputados da CPI conduziram os depoimentos em Campinas.
"Um policial foi condenado à morte sem direito de defesa", disse o delegado durante o enterro, ontem, às 10h, no Cemitério Parque Nossa Senhora da Conceição, em Campinas (99 km de SP).
Pelo menos 200 pessoas assistiram o enterro de Lopes ontem. Quase toda a cúpula da Polícia Civil esteve presente.
O filho do investigador Luiz Henrique Lopes, 24, também estava revoltado com a atuação da CPI do Narcotráfico. Ele disse que o pai se matou pela vergonha a que seria submetido.
A versão oficial da polícia é de suicídio. Ele deveria depor na CPI do Narcotráfico na semana passada, mas não compareceu.
Deputados da comissão trabalham com a hipótese de homicídio para queima de arquivo. Os laudos dos exames grafotécnicos e da necropsia devem ficar prontos hoje.
O delegado da Dise, Miguel Voigt Júnior, que era chefe de Lopes, disse que a decisão do Tribunal de Justiça de conceder liminar suspendendo a prisão do advogado Artur Eugênio Mathias, ligado ao empresário William Sozza, de Campinas, mostra que a CPI está acusando sem provas.

Críticas
Em Brasília, membros da CPI criticaram a liberação de Mathias e do delegado Ricardo de Lima, presos em Campinas na semana passada.
Os deputados cobraram apoio do governo, do Ministério Público e da Justiça de São Paulo para continuar as investigações no Estado.
"A CPI fez prisões em outros Estados e nenhum bandido foi solto. Esse desembargador (que concedeu o habeas corpus) não pensou nos seus filhos, nos seus netos. O povo de São Paulo corre sério risco", disse o presidente da CPI, deputado Magno Malta (PTB-ES).
"(A decisão) Foi um equívoco gravíssimo. Esta CPI nunca atuou sem provas", afirmou o relator da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE).
"A Justiça liberou bandidos escondidos atrás da carteira de delegado e de advogado", disse o deputado Eber Silva (PDT-RJ).
A CPI vai pedir uma reunião com o governador Mário Covas (PSDB-SP) e com o presidente do Tribunal de Justiça do Estado para discutir o apoio às investigações (leia texto à pág. 1-11).
"Ou nós temos o governo, a Justiça e o Ministério Público de São Paulo do nosso lado ou prosseguiremos as investigações sobre tráfico internacional e interestadual em São Paulo com o Ministério Público Federal", afirmou Moroni.
A CPI também aprovou a convocação do presidente da OAB (Ordem do Advogados do Brasil) de Campinas, Aderbal da Cunha Bergo, para esclarecer o acordo que teria proposto para liberar Mathias.
Segundo Moroni, o presidente da OAB sugeriu que a CPI livrasse o advogado de indiciamento e, em troca, ele entregaria a lista de todos os envolvidos no esquema de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas liderado em Campinas pelo empresário William Sozza.
A CPI decidiu mandar ofício ao presidente do conselho nacional da OAB, Reginaldo de Castro, denunciando o suposto acordo proposto por Bergo.


Colaborou Ricardo Galhardo, enviado especial a Brasília


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