São Paulo, Quarta-feira, 24 de Novembro de 1999


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PARTIDOS
Genoino, líder da legenda na Câmara, defende tese semelhante
Presidente do PT rechaça "programa socialista"

PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

PATRÍCIA ANDRADE
enviada especial a Belo Horizonte

A tese defendida pelo líder do PT na Câmara, José Genoino (SP), de que o socialismo é atualmente apenas uma "referência", ganhou uma adesão pública e de peso nas discussões para o 2º Congresso Nacional do partido, que começa hoje em Belo Horizonte.
O presidente nacional do partido, deputado José Dirceu (SP), candidato dos moderados à reeleição, defendeu anteontem posição semelhante à de Genoino.
"Se for para a esquerda apresentar um programa socialista, não vamos derrotar Fernando Henrique", afirmou Dirceu, que, se for eleito, irá para o terceiro mandato na presidência do PT. "A sociedade não está colocando a questão do socialismo agora, por isso apresentamos um programa para fazer mudanças sociais, políticas e econômicas profundas no país", completa o deputado.
Essa proposta traz embutido um forte pragmatismo, já que a expressão socialismo poderia afastar os potenciais eleitores do PT, que nas últimas três eleições presidenciais não conseguiu ultrapassar 30% dos votos.
O congresso petista terá a duração de cinco dias e vai discutir os rumos do partido para os próximos anos, como será feita a oposição ao governo FHC, as estratégias de ação para as campanhas de 2000 e 2002, além de eleger o novo presidente e o Diretório Nacional da legenda.
Um dos debates que prometem esquentar o clima é justamente sobre o novo perfil do PT: o partido continuará se afirmando como uma legenda socialista ou abandonará essa bandeira?
A tese intitulada "Por uma revolução democrática", assinada pela corrente Articulação/Unidade na Luta, da qual fazem parte Dirceu e Luiz Inácio Lula da Silva, afirma que o socialismo é uma "possibilidade histórica aberta para a humanidade na era do capitalismo" e diz que, para chegar a isso, será preciso primeiro implantar no Brasil um projeto "de reorganização da sociedade, da economia e da política".
Genoino, por sua vez, critica o modelo de socialismo baseado em uma economia planejada e dirigida por um único partido e diz que o PT tem que se afirmar como uma legenda de "esquerda, anticapitalista, que defende uma sociedade democrática e justa, baseada nos valores do socialismo".
Muitos moderados defendem que o PT comece, neste congresso, a tirar o "esqueleto do armário", ou seja, a se livrar de uma posição ortodoxa de defesa do socialismo. "Eu acho que o socialismo é uma possibilidade histórica muito pouco provável", afirma o moderado Humberto Costa (PE), ex-deputado federal e membro da Executiva Nacional do partido.
A "esquerda" petista promete brigar muito no congresso para que essa visão não saia vencedora. Candidato dos radicais à presidência do PT, o deputado Milton Temer (RJ) diz que a discussão sobre se o partido é ou não socialista não será central no encontro "de jeito nenhum". "Ninguém no PT nega o socialismo. A única tese que tratou disso foi a do Genoino", diz Temer.
A senadora Heloisa Helena (AL), integrante da corrente esquerdista Democracia Socialista, sustenta que o PT faça a reafirmação do socialismo.
"Esse não é um discurso utópico, do passado, mas é o próprio fracasso do capitalismo que cria condições para isso", diz a senadora.


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