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ELEIÇÕES 2006/LEGISLAÇÃO
Câmara vota hoje fim da verticalização, que proíbe alianças estaduais diferentes da nacional
PT resiste a pressão de Lula e apóia restrição a coligações
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara dos Deputados marcou para hoje a votação da proposta de emenda constitucional
que derruba a verticalização das
coligações para as eleições de outubro. A bancada do PT ignorou a
intensa pressão do Palácio do Planalto e de seus aliados mais próximos, além de um apelo do próprio presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, e decidiu manter posição
contrária ao fim da regra.
A verticalização proíbe coligações estaduais que contrariem
aquelas feitas nacionalmente. Foi
instituída em 2002 pelo Tribunal
Superior Eleitoral a partir de uma
interpretação da Constituição de
que os partidos devem ter caráter
nacional.
O fechamento de questão pelos
petistas, que obriga seus 83 parlamentares a votarem contra a
emenda (sob risco de punição em
caso de desobediência), torna imprevisível o resultado da votação.
Há chance de os defensores da
emenda decidirem adiar novamente a apreciação do tema, o
que pode inviabilizar a entrada
em vigor já em 2006.
O apelo de Lula aos petistas foi
feito à tarde, em reunião com os
líderes governistas no Palácio do
Planalto. "A verticalização cria
alianças por obrigação, o que não
é correto", argumentou o presidente, na presença do líder interino do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). O partido não ouviu.
O fechamento de questão contra a
orientação de Lula foi aprovado
por aclamação no final da tarde.
O único a pedir uma mudança
de posição foi o presidente nacional do partido, Ricardo Berzoini
(SP), que também é deputado.
Disse que os colegas deveriam
"ponderar" as conseqüências:
maior dificuldade na costura de
alianças nacionais e nos Estados.
"A bancada tem autonomia e agora vamos votar contra a emenda",
disse Berzoini após o resultado.
"Temos uma questão de princípios, que vem de longe, de sermos
favoráveis à regra. Hoje o PT mostrou como há muito não se via
que é um partido de valores", afirmou Antônio Carlos Biscaia (RJ),
presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
O PT e seus rivais do PSDB estão, ironicamente, isolados na defesa da regra. Os tucanos calculam
que, da bancada de 53, têm 40 deputados favoráveis à verticalização. Por isso, o partido deve liberar o voto. Os grandes promotores da mudança são o PFL e o
PMDB, interessados em ter liberdade para se coligar com quem
bem entenderem.
"Calculo que podemos chegar a
330 votos pelo fim da verticalização", disse o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), antes de
saber da decisão do PT. Para que a
emenda seja aprovada, são necessários 308 votos, em duas votações na Câmara e depois outras
duas no Senado.
A decisão de votar a emenda foi
tomada em uma reunião dos líderes partidários, pela manhã, com
o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP). Saíram de lá citando um acordão: ontem seria
votado o Fundeb (fundo para a
educação básica); hoje pela manhã, o fim da verticalização, e, à
tarde, a criação da Super-Receita.
Para a semana que vem ficam a
Lei Geral da Micro Empresa e a
chamada "Lei Bornhausen", para
baratear campanhas eleitorais.
Partidos pequenos e médios
acabaram aderindo à cruzada anti-verticalização. "Não é o momento de adotar medida tão dura", disse Renato Casagrande
(ES), líder do PSB na Câmara.
A oposição rejeita novo adiamento da votação. Há a avaliação
de que, quanto mais perto a eleição fica, mais difícil é a mudança.
Desenha-se uma batalha jurídica
para definir se a mudança valeria
já para esse ano ou se teria que esperar um ano para entrar em vigor. Mesmo que aprovada pelo
Congresso, a medida dependerá
de uma palavra final do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ou do
STF (Supremo Tribunal Federal).
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