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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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JANIO DE FREITAS

Os Garotinhos

Os políticos hábeis dizem que jamais deve ser nomeado quem não possa ser demitido. O casal Garotinho dispensou a regra. Para salvar o governo e o relacionamento, Anthony Garotinho tem que acertar ou, na pior hipótese, acertar da mesma maneira.
O grau de probabilidade do acerto é, por ora, inestimável. A previsão mais difundida de insucesso parece, porém, contrariar a lógica, ao concluir que Anthony Garotinho aprofundará o choque do governo estadual com o governo federal e, com isso, haverá mais confusão do que solução para o Rio.
Anthony Garotinho sabe onde estão os recursos financeiros e materiais de que precisará. Tem esse e vários outros motivos para negociar acordos e faturar a sua parte no êxito, se houver. O que nem lhe exigiria muitos esforços.
Os problemas do governo Rosinha com o federal não se originaram, como foi publicado e transmitido anteontem, de propósitos intervencionistas do governo Lula no Rio. O desentendimento vem de janeiro, quando Rosinha se viu sem verba estadual e sem a pedida ajuda federal para pagar o 13º deixado na pendura pela petista Benedita da Silva. O assunto intervenção decorreu de um equívoco jornalístico no começo de março, quando a proposta federal de Sistema Único de Segurança Pública (introduzido nesta semana no Espírito Santo) foi tomada como proposta de intervenção nas polícias fluminenses. Indagada sobre a notícia, Rosinha reagiu com vigor.
De lá para cá, de vez em quando o assunto ressurge, sem superar uma contradição primordial: o governo que anuncia o envio de projetos de reforma constitucional ainda em abril não pensaria em intervenção alguma, durante a qual o Congresso estaria impedido, pelo artigo 60 da Constituição, de apreciar emenda constitucional.
A eficácia desse sistema, aliás, é tão indefinida quanto a de Anthony Garotinho como secretário de Segurança. A unificação de polícias é uma idéia fixa do secretário Nacional de Segurança, Luiz Eduardo Soares. É uma questão de estrutura jurídica que não leva, forçosamente, à eficiência operacional que é o problema concreto e imediato dos Estados mais feridos pela criminalidade.
Um componente desde logo positivo na designação de Anthony Garotinho é a substituição do secretário por ele mesmo criado, no seu governo, e por ele mesmo mantido sob Rosinha. A secretaria conduzida pelo coronel e agora deputado federal Josias Quintal produziu mais atritos no nível administrativo, das polícias e do próprio governo, do que providências inovadoras e eficazes para atenuar a insegurança pública. Será muito fácil a Anthony Garotinho mostrar-se mais eficiente. Mas não será suficiente.


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