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CELSO PINTO
Depois da Vale, a Petrobrás
O governo poderá conseguir
com a venda de ações da Petrobrás, sem perder seu controle acionário, cerca de R$
7,2 bilhões, bem mais do que
deverá obter com a privatização da Vale do Rio Doce.
Somando esse valor ao das
ações de estatais já privatizadas, mas que continuam nas
mãos do governo -R$ 2 bilhões em ações da Vale, R$
1,45 bilhão em ações da Light
e R$ 85 milhões em ações da
Escelsa -, chega-se a R$ 10,6
bilhões. É quase um outro programa de privatização para o
qual pouco se presta atenção,
mas que tem um valor impressionante.
Além de todo esse dinheiro,
o BNDES estima em cerca de
R$ 80 bilhões o valor das privatizações de estatais ainda a
serem feitas, especialmente
nos setores elétrico e de telecomunicações, dos quais R$ 60
bilhões na área federal. É uma
estimativa endossada por
bancos de investimento internacionais.
O caso das ações da Petrobrás é significativo. O BNDES
fez uma oferta de R$ 110 milhões em ações da Petrobrás
ao mercado brasileiro. Recebeu ofertas que superaram em
18 vezes o valor das ações ofertadas, o que levou-o a fazer
outra oferta de R$ 110 milhões.
Em setembro, o BNDES deverá vender mais US$ 400 milhões em ações de sua carteira
por meio de uma oferta pública internacional, que está sendo montada pelo Credit Suisse
First Boston. Isso exigirá a
adaptação da contabilidade
da Petrobrás às exigências das
autoridades reguladoras americanas e preparará terreno
para vôos muito mais altos no
futuro.
A lei que regula o setor de
petróleo, que está em fase final
de tramitação, altera a antiga
exigência constitucional de
que o Estado deve ter 51% do
capital total da Petrobrás para 51% do capital votante.
Com isso, o governo poderá
vender, de imediato, ações que
se tornarão excedentes e que o
vice-presidente do BNDES, José Pio Borges, estima em R$ 4
bilhões.
Além destes R$ 4 bilhões,
contudo, o próprio BNDES
descobriu que tem ações da
Petrobrás sobrando em sua
carteira: são mais R$ 3,2 bilhões. É claro que o BNDES
precisará ter cuidado ao despejar essas ações no mercado
para não abalar o preço. De
todo modo, Borges imagina
que será possível organizar
vendas da ordem de R$ 2 bilhões ao ano nos próximos
anos.
As "sobras" de ações de estatais já privatizadas têm-se revelado um grande negócio para o BNDES. Borges diz que,
em média, a mudança de controle acionário tem gerado
uma redução de custo nas antigas estatais entre 20% e 25%,
e isso tem-se refletido na valorização das ações. É o que se
espera no caso da Vale, embora a primeira reação do mercado tenha levado à queda do
preço das ações.
Essa mesma valorização
aconteceu também no caso
dos adiantamentos feitos pelo
BNDES a vários Estados por
conta da privatização futura
de suas empresas de energia.
Em alguns casos, segundo Borges, o BNDES ganhou até cinco vezes mais do que emprestou, pela valorização das
ações.
O programa de privatização,
legalmente estabelecido em
1990, já resultou em US$ 16,9
bilhões em receita na área federal e US$ 612 milhões nos
Estados, somando US$ 18,6 bilhões. A esse valor, contudo,
deve-se acrescentar a transferência de dívidas das estatais
para seus controladores privados, uma bolada de mais US$
8,6 bilhões. Ao todo, portanto,
pode-se dizer que o impacto
das privatizações já chegou a
US$ 27,3 bilhões.
O BNDES estima que, somando as elétricas federais
-Furnas (US$ 5,8 bilhões),
Eletrosul (US$ 2,3 bilhões),
Chesf (US$ 7,5 bilhões) e Eletronorte (US$ 6,2 bilhões)-,
mais as elétricas estaduais
(US$ 28,7 bilhões), a privatização do setor poderá render
US$ 50,5 bilhões. Na área de
telecomunicações, serão outros US$ 29 bilhões, com Telebrás (US$ 17 bilhões), Embratel (US$ 6 bilhões) e Banda B
celular (US$ 6 bilhões).
Sob qualquer parâmetro, é
um programa gigantesco e será o principal trunfo do governo para tentar atravessar os
próximos anos cobrindo as
fragilidades crescentes das
contas externas e preocupantes das contas fiscais. É um
dinheiro que só se usa uma
vez e, portanto, não deve servir para sustentar excesso de
consumo privado ou público
(via déficits). Além disso, o sucesso supõe que não haja crise
nas bolsas, aqui e no exterior,
e que os investidores mantenham seu interesse no Brasil.
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